Especial D.O.: Oficina Oswald de Andrade promove quatro cursos contra o preconceito

Aulas começarão no dia 16 de agosto

seg, 09/08/2004 - 17h32 | Do Portal do Governo

Há muito tempo que a política de inclusão de pessoas com algum tipo de limitação física baseia-se, principalmente, na idéia de que é preciso dedicar-lhes espaços especiais. Quase sempre são locais reservados, onde ficam confinadas em atividades de lazer ou de trabalho. Assim, muitas vezes, a integração com a comunidade torna-se mais restrita. Na contramão dessa tendência, a Oficina Cultural Oswald de Andrade oferece neste semestre quatro cursos criados para misturar dois públicos: portadores e não-portadores de deficiência física.

‘Muitas vezes, por causa do preconceito, as pessoas desconhecem as aptidões desses cidadãos e não enxergam suas próprias limitações. Com as oficinas ministradas para os dois grupos, nós buscamos justamente essa empatia’, explica o ator e professor Caco Mattos, programador das oficinas.

A iniciativa de despertar um novo olhar no indivíduo não-portador de deficiência – e também de mudar a visão da comunidade, para mostrar que limitação física nada tem a ver com a capacidade intelectual – não é uma ação isolada da Oswald de Andrade. Ganha destaque entre as prioridades da gestão da Secretaria de Estado da Cultura. Estão sendo desenvolvidos vários projetos além das oficinas culturais, como publicação de livros em braile e programas de monitorias diferenciados na Pinacoteca e no Memorial da América Latina, informa a secretária da pasta, Cláudia Costin.

O projeto Talentos Especiais, que tem como madrinha a atriz Luana Piovani, também segue a mesma linha de integrar deficientes ou não. Criado há três anos, oferece cerca de 80 oficinas: fotografia, teatro, dança, música, artes plásticas, artesanato modelagem e artes circenses. Realizado em parceria com 35 entidades, beneficia 1,9 mil pessoas.

Oportunidades para todos

Na Oswald de Andrade, a oficina Avesso – Dramaturgia Pessoal é ministrada pelo jornalista e crítico teatral Michel Fernandes, portador de deficiência. Ele convidou a dramaturga alemã Dea Loher – que, em setembro, estará no Brasil para participar da Bienal de Artes de São Paulo, com a peça A Vida na Praça Roosevelt – para um bate-papo com os alunos.

Entusiasmado, Fernandes espera que, por meio de depoimentos e de trabalho de improvisação desenvolvido durante as aulas, a oficina possa integrar os públicos. ‘Poderemos descobrir juntos um ponto em comum a ser abordado no texto final, como resultado do processo”, diz.

Na oficina Tecendo a Nossa História, a socióloga Valdirene Ferreira Gomes usa o bordado como manifestação artística. Ao recorrer à história pessoal de cada participante, ela pretende estimular a criatividade e o talento artístico de cada um, em particular dos deficientes visuais.

Em Palavras – Sons – Gestos, Caco Mattos trabalha com a simbologia dos gestos, a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), usada por surdos-mudos. A proposta teatraliza a Libras. Esse exercício usa como meio a sonoridade da poesia concreta. Desestrutura a palavra por nuances, melodias e o próprio trabalho de expressão corporal. O ensinamento inclui palestra de Flávia Brandão, coordenadora do projeto Dicionário de Libras Ilustrado, da Imprensa Oficial do Estado.

A partir das histórias de cada participante, a atriz e diretora teatral Estela Lapponi ministra a oficina Dramaturgia do Ator. Adepta do método Stanislawski, pretende incentivar os alunos à autonomia criativa, aprendendo a desenvolver a trama dramatúrgica. “O sistema criado por Konstantin Stanislawski lida com o princípio do jogo teatral, orientando o ator a agir de acordo com as circunstâncias que são dadas na dramaturgia”, explica.

Ação interna

Vítima de um acidente vascular cerebral (derrame) em cena, aos 24 anos, Estela tem hoje limitação de movimento do lado esquerdo, o que não a impediu de continuar sua carreira de atriz. “Antes da doença, minha visão era diferente. Acreditava que o ator tinha de ter um corpo perfeito em relação à liberdade de movimentação. Agora vejo que o importante é a ação interna. É claro que, em razão da minha restrição física, não posso interpretar a personagem de um atleta, mas isso não me impede de atuar”, frisa Estela, resumindo o espírito do que se pretende no trabalho de inclusão dos portadores de deficiências na secretaria de Estado da Cultura.

SERVIÇO:
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro – Tels. 221-4704/5558
Inscrições até o dia 13, de segunda a sexta-feira, das 14 às 21 horas
Início das aulas: Dia 16
Taxa de matrícula: R$ 5,00

Márcia Borges – Da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Cultura
Da Agência Imprensa Oficial