Especial D.O.: Instituições privada e públicas criam banco de sangue de cordão umbilical

Iniciativa é do Hospital Albert Einstein, que firmou parceria com Unicamp e USP Ribeirão Preto

ter, 26/10/2004 - 11h17 | Do Portal do Governo

O Estado de São Paulo terá um banco de sangue de cordão umbilical nos próximos meses, denominado Redecord. A iniciativa é do Hospital Albert Einstein (mantido pela Sociedade Israelita Brasileira), que firmou parceria com os hemocentros da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP. Por meio de verba filantrópica, o Einstein investirá R$ 40 milhões por um período de cinco anos, para que as três unidades tenham 12 mil amostras (bolsas de sangue) armazenadas em suas instalações. O número é considerado suficiente para cobrir toda a diversidade genética do povo brasileiro. Esse material é uma alternativa para a cura da leucemia, em substituição ao sangue da medula óssea.

A escolha dos parceiros para ajudar no projeto deveu-se ao antigo relacionamento científico do Einstein com as duas universidades públicas paulistas, em várias áreas da saúde. Na assinatura do documento, o ministério anunciou que pretende contar, no futuro, com um banco público nacional de cordão, o Brasilcord, com 20 mil amostras. O material será útil para acelerar o transplante de sangue em pessoas com leucemia que, atualmente, só dependem da medula óssea, método que exige doador com 100% de compatibilidade com o receptor. No cordão, este número cai para 70%.

O sangue do cordão é rico em células-tronco, que têm capacidade de se transformar em células de tecido do corpo humano. A retirada da amostra, feita após o nascimento da criança, com anuência da mãe, não causa malefício a nenhum dos dois, pois o cordão é descartado após o parto. Pela parceria, as maternidades dos três hospitais recolhem, preparam e armazenam o cordão em suas unidades. Para conseguir maior amplitude genética, cada uma das instituições terá mais uma parceria, abrangendo outras maternidades. Serão, portanto, seis hospitais fazendo a captação do material.

Transplante gratuito

O médico Carlos Alberto Moreira Filho, diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita, informou que os bancos paulista e nacional, integrados, serão de muita valia para o brasileiro. “A cada ano surgem 2,5 mil casos de doentes, no Brasil, precisando de transplante de medula . Desses, 1,5 mil não conseguem doador compatível entre seus parentes e são obrigados a procurar o material de outra forma.

Por isso, é enorme a importância de montar um banco nacional com sangue de cordão para atender a demanda”, analisa Moreira. Ele diz, também, que somente a busca por um sangue de medula compatível, de doadores fora do circuito familiar, custa entre U$ 40 mil e US$ 50 mil cada. “Com o banco público de cordão em funcionamento, a pessoa necessitada fará o transplante gratuitamente”, prevê.

Rede mundial

Moreira conta que a coleta será feita dentro de padrões internacionais, sob supervisão da rede mundial Netcord. Esse enorme banco de cordão reúne as comunidades européia e norte-americana. Esses países têm 180 mil amostras armazenadas, mas somente seus membros podem usufruir delas. Depois de um ano de funcionamento, prevê o médico, o Brasilcord poderá ingressar na Netcord e se beneficiar do estoque.

Mais informações no site da entidade mundial www.netcord.org. Até o momento, a única instituição que colhe o sangue de cordão no País é o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, com 600 mil bolsas congeladas, que também fará parte do Brasilcord.

Ribeirão e Campinas

O médico Gil Cunha De Santis, do hemocentro da USP de Ribeirão Preto, informou que o objetivo da parceria com o Einstein é reunir 2 mil bolsas de cordão na cidade, em quatro anos. O hospital terá ajuda de outra maternidade de Ribeirão, provavelmente a Mater, que é particular mas atende pelo SUS. O hemocentro de Ribeirão, embora esteja preparado para guardar as bolsas, usará parte da verba do Einstein na compra de mais equipamentos.

Alternativa também para a cura de linfomas e anemias hereditárias

O médico De Santis ressalta outras vantagens da utilização do cordão em vez da medula. “Além de maior chance de compatibilidade, esse sangue provoca menos reação no transplantado, porque agride pouco o organismo”, explica. Ele observa que a principal causa de morte por transplante de medula é a rejeição, mesmo havendo compatibilidade. Em Campinas, a médica hematologista Ângela Luzo será a responsável pela instalação do banco no hemocentro local.

Assim como o hemocentro de Ribeirão, a Unicamp está aparelhada para armazenar as bolsas em baixas temperaturas. Ângela diz que uma placenta gera de 70 a 100 ml de sangue, e cada amostra pode ser usada por uma pessoa com peso de até 50 quilos. “Acima disso, só mesmo o transplante de medula”, justifica. Além de curar a leucemia, o sangue de cordão, com sua riqueza em células-tronco, é indicado também para aplasia (queda da capacidade de produção de sangue da medula óssea), linfomas e anemias hereditárias.

Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial