Especial: Brasil tem chance de ganhar mais com café de qualidade

Estudo do IEA indica que em 2002, num mercado de muita oferta e preço baixo, só ganha quem vende qualidade

ter, 29/01/2002 - 13h39 | Do Portal do Governo

Estudo do IEA indica que em 2002, num mercado de muita oferta e preço baixo, só ganha quem vende qualidade

Depois de bater recorde histórico nas exportações de café (verde, solúvel e torrado) no ano passado, quando recuperou parte do terreno perdido por causa do fracasso do plano de retenção das exportações, que vigorou entre junho de 2000 e maio de 2001, o Brasil tem chance de, a partir de 2002, ampliar a sua participação no volume de exportação do produto no mercado mundial.

É que este ano o mercado mundial de café terá ainda super-oferta e, conseqüentemente, as cotações seguirão deprimidas. Especialistas antecipam só para 2003 recuperação nos preços, por conta de uma esperada e redução significativa de oferta, que sinalizará o início de inversão na tendência de baixa dos últimos anos.

Nesse mercado, vai ganhar quem vender produto de qualidade, que atinge cotações de US$ 200 a US$ 700 por saca de 60 quilos, bem superiores aos US$ 60 por saca com que o produto brasileiro comum fechou em dezembro 2001.

Este é o cenário montado em estudo de três especialistas do Instituto de Economia Agrícola, ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, pesquisadores Luís Moricochi, Nelson Batista Martin e Celso Luis Rodrigues Vegro.

Para o ano 2002, a recomendação dos técnicos é de uma ação agressiva para os embarques brasileiros, pois neste ano será colhida a maior safra nos últimos 15 anos. Além disso, a taxa de câmbio deve continuar favorável aos exportadores. Só o Brasil, segundo estimativas oficiais, vai colher de 10 milhões a 12 milhões de sacas mais que no ano anterior.

Em 2001, os embarques brasileiros somaram 23,38 milhões de sacas, o maior nível nos últimos 15 anos, significando 25,60% das exportações internacionais. No ano anterior, o Brasil exportara 20,70% do café vendido no mundo. O País exportou mais, mas faturou menos: a receita foi de US$ 1,43 bilhão, 20% menos que no ano anterior.

Na Bolsa de Nova York, as cotações de café tipo arábica produzido pelo Brasil caíram 32,44% entre janeiro e dezembro de 2001, tendo melhorado nos três últimos meses do ano, quando a redução foi de 10,08%. Na Bolsa de Londres, o café tipo robusta, que o País também produz, a baixa foi de 38,36% em 2001.

A saída para o cafeicultor e o exportador brasileiros, dizem os pesquisadores do IEA, é aproveitar o início de um processo de descolamento de preços para produtos de qualidade superior.

O Brasil tem boa chance de aproveitar a situação, assinala o estudo do IEA, mencionando algumas recentes conquistas brasileiras nesse mercado, recomendando que sejam ampliadas. Citam-se, por exemplo, as boas vendas feitas por cafés vencedores de concurso promovido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais, em que se pagou a média de US$ 390 por saca de 60 quilos.

Neste concurso, houve 18 vencedores do prêmio Cup of Excellence. Um lote de 96 sacas, de uma propriedade situada em Paraisópolis, sul de Minas, ficou em primeiro lugar e foi vendido em leilão eletrônico à Ueshima Corporation, principal torrefadora e distribuidora de café no mercado japonês.

Esta empresa pagou US$ 735 ou R$ 1.727 por saca (calculados pelo câmbio a R$ 2,35). Esse café, provavelmente, vai compor blends especiais para demandas específicas ou será usado como estratégia de marketing da própria indústria compradora (para ser servido em eventos específicos, por exemplo).

Outro sinal de avanço do reconhecimento da qualidade superior do café brasileiro no mercado internacional é a ampliação no número de alianças de produtores com torrefadores, como a filial brasileira da Illy Café que adquire mais de 120 mil sacas de arábica de bebida extrafina, pagando em média R$ 200 por saca, e de produtores com distribuidores internacionais, como a Fazenda Ipanema e a cadeia Starbucks.

No mercado interno, a crescente presença de cafés superiores e tipo gourmet nas gôndolas dos supermercados fortalece ainda mais a possibilidade desse descolamento.

Segundo o estudo do IEA, quem permanecer ofertando cafés indiferenciados vai ter de aguardar cerca de dois anos para sentir a reação positiva nos preços recebidos. Quem fornecer cafés especiais pode começar a ganhar já neste ano, mesmo que o mercado para arábicas finos seja ainda pequeno em comparação com a oferta brasileira.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), a demanda mundial de café na safra 2001/2002 somou 111 milhões de sacas, enquanto a produção vai a 115,7 milhões de sacas de café (1,5% menos que os 117,5 milhões de sacas da safra 2000/2001). Brasil (33,7 milhões de sacas), Vietnã (13,3 milhões) e Colômbia (11,0 milhões) são os três maiores produtores mundiais, segundo o Usda.

Para o governo brasileiro, os números referentes ao Brasil não estão corretos: a safra em 2001 foi de 28 milhões de sacas de café, 5,7 milhões de sacas menos que a estimativa estadunidense. No mercado, essa diferença de números prejudica bastante o País, sobretudo por se tratar de produto de demanda inelástica. Há estudos mostrando que esses números díspares poderiam levar a uma diferença de preços de quase US$ 20 por saca, dizem os pesquisadores do IEA.

Fonte: IEA/Gazeta Mercantil

Cecilia Zioni