Engenharia: Estrutura dos estádios não é adequada ao comportamento das torcidas

Pesquisa da Poli mostra que faltam estudos sobre o comportamento das torcidas em jogos de futebol

qui, 24/07/2003 - 10h20 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Olavo Soares

Qualquer um que já tenha ido a um estádio de futebol lotado sentiu a vibração que uma torcida faz quando começa a pular para incentivar seu time. Mas o que vibra não são apenas as emoções e os torcedores, mas também as arquibancadas do estádio, que sentem o impacto de milhares de pessoas que pulam continuamente sobre sua estrutura. E o que o engenheiro José Fernando Sousa Rodrigues verificou em sua tese de doutorado foi que os projetos de estádios brasileiros não estão preparados para o comportamento dinâmico das torcidas.

O trabalho, apresentado à Escola Politécnica (Poli) da USP, verificou as vibrações ocorridas em cem jogos em quatro estádios: Maracanã, do Rio de Janeiro, Castelão, de Fortaleza, Morumbi e Ibirapuera, ambos de São Paulo. ‘Medimos com sensores adequados as vibrações ocorridas durante as partidas, para depois desenvolver modelos matemáticos e estudar o comportamento das torcidas’, explica Rodrigues.

O estudo teve basicamente duas abordagens: na primeira, avaliou-se critérios de verificação do conforto humano a serem aplicados em arquibancadas de futebol, inexistentes nas normas atuais de projeto, e na segunda, foram verificados o sincronismo dos pulos da torcida. Os valores propostos desses estudos possibilitam a verificação de estruturas de arquibancadas, tanto ainda em projeto quanto aquelas em operação.

Problemas na estrutura

Rodrigues verificou, com o trabalho, que durante o projeto das estruturas dos estádios não foi totalmente considerado o caráter dinâmico, pois quando foram construídos, não se pensava no surgimento das torcidas organizadas, que coordenam os pulos sincronizados das torcidas. No Morumbi, por exemplo, mediu-se níveis de conforto além dos padrões de desempenho especificados, em especial aos profissionais da imprensa, que ficam na extremidade da arquibancada, o lugar mais suscetível às vibrações.

Os níveis de vibrações induzidos pelos pulos sincronizados são freqüentes nos jogos de futebol e shows musicais, principal atividade dos estádios. Outro motivo para essa abordagem é a falta de estudos sobre o comportamento das torcidas, para que os testes realizados em estruturas de estádios sejam mais realistas

‘Geralmente, a ressonância estrutural provocada pelos pulos das torcidas leva ao desconforto para quem está assistindo às partidas’, comenta Rodrigues. As observações do trabalho concluíram que o comportamento das torcidas é semelhante, independentemente da cidade onde está situado o estádio.

Para Rodrigues, as especificações da norma brasileira não estabelecem com clareza os fatores a serem considerados em situações de arquibancadas submetidas a ações induzidas por pessoas, sendo atualmente empregados critérios conservadores nessas avaliações. ‘As regras precisam estar sempre sendo adequadas às descobertas da engenharia’, explica, citando que ainda se avaliam os estádios com padrões dos anos 70.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/

V.C.

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