Encontro: Cepam atua no resgate das tradições indígenas através de projeto educacional

Projeto já percorreu as principais aldeias do Estado de São Paulo na primeira fase do programa

qui, 20/11/2003 - 17h41 | Do Portal do Governo

O Núcleo de Assuntos Indígenas (NAI), da Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam, segue com seu projeto ‘Fortalecer a Educação Tradicional Guarani’, concebido em 2001. O objetivo é fortalecer a educação tradicional dos índios guarani e reforçar o modo de transmissão de conhecimento de suas origens através de encontros nas aldeias do Estado.

Resultado de uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio – Funai e o Núcleo de Assuntos Indígenas do Cepam, o projeto já percorreu as principais aldeias do Estado de São Paulo na primeira fase do programa e segue agora em novembro para dois encontros que reunirão mais de 500 índios guarani.

Até esta sexta-feira, dia 21, acontece o encontro na Aldeia Boa Vista, no município de Ubatuba, litoral norte paulista e de 24 a 28 de novembro, na Aldeia Ribeirão Silveira, na cidade de São Sebastião. ‘Muitos convidados e moradores de outras comunidades participam, o que permite um intercâmbio positivo entre as aldeias’, ressalta Maurício Fonseca, coordenador do projeto e técnico do NAI-Cepam.

Diferencial e inovação

Os encontros têm uma dinâmica própria, ‘A dinâmica é determinada pelos Guarani, todo o encontro funciona de acordo com suas ações, nós trabalhamos como observadores e assim detectamos o que eles podem desenvolver de forma independente e quais ações demandam parcerias, no caso com instituições como o Cepam, a Funai e a Unicef’, explica Fonseca.

Este projeto surgiu da necessidade que os próprios índios guarani apontaram, de resgatar suas tradições e repassá-las aos mais jovens, que estão perdendo os costumes antigos para o ensino público ‘dos brancos’, como conta Helena de Biasi, gerente de projetos da Coordenação Geral de Educação da Fundação Nacional do Índio – Funai, de Brasília.

‘O idioma corrente nos encontros é o guarani, para isso contratamos um tradutor. Esta forma de trabalhar garante a autenticidade dos depoimentos e da informação que colhemos’, completa Maurício Fonseca.

‘Este projeto vai além da mera educação, ele faz um resgate da identidade do povo guarani, para o povo guarani. A nação guarani é apenas uma das 200 etnias diferentes existentes no Brasil, e que falam 170 línguas e dialetos, todas culturas vivas’, acrescenta de Biasi.

Esta metodologia de trabalho é o diferencial deste projeto, que vem gerando bons resultados, graças à inovação que parte da perspectiva dos próprios índios guarani e não com um modelo pré-determinado desenvolvido por entidades que não acompanham o cotidiano destas comunidades.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) também é parceira no projeto desenvolvido pelo NAI – Cepam e a Funai e participa com a disponibilidade de recursos, e segundo o coordenador do projeto, Maurício Fonseca, a entidade já garantiu mais dois anos de atuação conjunta com o Cepam e a Funai. A Secretaria de Estado de Educação também já sinalizou positivamente na adesão ao projeto para o próximo ano.

No ano que vem, estão programados 23 encontros, que cobrirão respectivamente, 23 aldeias, sendo três delas no estado do Rio de Janeiro. Os encontros contam com a presença de todos os integrantes das tribos, jovens, crianças, mulheres e os idosos. Funcionam de uma maneira já organizada pelas experiências passadas, e duram três dias.

No primeiro dia, os mais velhos da tribo abrem as discussões resgatando o passado e suas tradições culturais, apontam e discutem os problemas atuais como alcoolismo de alguns membros, formas de desenvolvimento sustentável de suas culturas, o papel dos jovens sob seus pontos de vista e encerram com preparações para o dia seguinte.

O segundo dia do encontro abre espaço para os mais jovens, que apontam suas vontades e reivindicações, mostram sua forma de encarar a realidade e o que gostariam de aprender dos mais velhos, como o plantio de culturas locais para alimentação, formas de construção de suas habitações, pesca e o que esperam de sua aldeia.

No último dia do encontro, são formados grupos, e de cada um é escolhido um representante que irá participar do conselho final. Esta forma de organização mostra o caráter participativo que os próprios Guarani encontraram para discutir suas tradições.

Uma parte do sustento destes povos indígenas vem do turismo ecológico e do turismo de pesquisa. As aldeias fazem todo o gerenciamento de visitas de escolas e grupos em suas comunidades. Outras culturas como artesanato, plantio local e pesca também formam parte da sustentação econômica das tribos contemporâneas. As apresentações culturais de grupos de canto indígena e a venda de discos com suas músicas também geram renda para muitas famílias, além de divulgar parte de seu vasto repertório cultural.