Emprego: Alunos da rede pública preparam-se para conquistar o primeiro emprego

Programa dá oportunidade ao jovem de ser preparar melhor e eleva sua estima

ter, 02/09/2003 - 19h17 | Do Portal do Governo

Depois de serem reprovados na busca de uma vaga como estagiários, mais de 150 jovens, entre 16 e 21 anos, viram o sonho de trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro chegar mais perto novamente.

Eles participaram da Oficina de Orientação Profissional – Módulo Habilidades Básicas, realizada na Escola Estadual Alberto Conte, em Santo Amaro.

Na sala de aula, receberam lições diferentes das que fazem parte da grade de matérias do 2.º ano do Ensino Médio. No lugar de Matemática ou Português, tiveram os primeiros contatos com o universo do mercado de trabalho, aprenderam as regras fundamentais para ter sucesso na entrevista e até noções de marketing pessoal.

‘O que mais me ajudou foi saber com que roupa ir no dia da seleção, como me sentar e me portar. Nem tinha idéia de que esses detalhes eram tão importantes para ser aceita’, surpreende-se Mônica da Silva Galindo de Lima, de 16 anos.

Mônica está entre os 72 mil alunos de escolas estaduais dos 39 municípios da Grande São Paulo inscritos no Programa Jovem Cidadão –Meu Primeiro Trabalho, idealizado para integrar os estudantes de 2.º e 3.º anos do Ensino Médio ao mercado de trabalho por meio de estágios em empresas nos mais diversos ramos de atividade.

‘Três a quatro alunos são encaminhados para concorrer a uma vaga. Os recusados voltam ao programa e esperam novas oportunidades. As oficinas surgem para que a experiência da recusa não seja vivida de forma negativa deixando-os abatidos, desanimados. Ali eles têm a oportunidade de recobrar a confiança em si mesmos e receber informações que os prepararão melhor para enfrentar esse momento tão importante em suas vidas’, avalia João Carlos da Silva Martins, coordenador do programa.

Respaldo do início à conclusão

‘Desde a idealização do programa, tínhamos a preocupação de oferecer ao jovem mais do que o estágio, mas uma participação que o preparasse para a experiência que iria viver na empresa e a aproveitasse da melhor maneira possível.

Nossa primeira grande conquista foi fechar uma parceria com a PUC, que cedeu estudantes do curso de Psicologia para acompanhar nossos estagiários durante os seis meses de vivência’, conta Renata Martins Costa Ocdy, gerente operacional do programa e responsável pelas oficinas.

‘A cada mês organizamos um encontro com atividades para que os estagiários analisem sua própria experiência, ao mesmo tempo, preparando-os para a saída do estágio e a busca do emprego’, acrescenta.

A idéia das oficinas surgiu a partir do trabalho com os estudantes de Psicologia. ‘Os profissionais de recursos humanos, que faziam o processo seletivo dos candidatos ao estágio nas empresas, diziam que os estudantes se apresentavam extremamente despreparados. Com base nesse dado, pensamos numa forma de adaptar a experiência do contato com os jovens para o formato de oficina, quando, então, transmitiríamos as informações necessárias para prepará-los para esse contato inicial. Selamos uma nova parceria, dessa vez, com o Grupo Selmed, especializado em gestão de RH na área de saúde, profundo conhecedor da dinâmica de um processo seletivo’, diz Renata.

Caráter prático

O cronograma prevê a realização de oficinas semanais nas diversas regiões em que o projeto é realizado. ‘É uma forma de dar o apoio que o jovem necessita, seja qual for o seu momento – enquanto ainda espera a chance de ser chamado para a primeira entrevista, depois de ser recusado para uma vaga e, finalmente, no término do estágio.

Nesse caso, abordaremos, por exemplo, como e onde procurar emprego’, acredita Silvia Regina Rodrigues, coordenadora do Grupo Selmed. ‘Criamos uma metodologia acessível para todos os alunos.’ Usando recursos como dramatização, dinâmicas e atividades em grupo, a oficina trata de temas práticos e ressalta a importância de saber trabalhar em equipe e lidar com as frustrações sem abalar a auto-estima.

‘Na maioria das vezes o jovem se prejudica por puro desconhecimento de regras básicas. Conhecê-las aumenta suas chances de chegar ao almejado emprego’, constata o coordenador João Carlos da Silva Martins.

Foi o caso de Aderlane Marques de Castro, de 17 anos. ‘Me inscrevi e em dois meses fui chamada para uma entrevista. Passei o tempo todo na maior expectativa e na hora fiquei supernervosa com a situação. Olhava o tempo todo para baixo e para os lados, evitando a gerente que estava fazendo as perguntas. Na oficina de hoje recebi vários toques importantes e um deles foi olhar nos olhos de quem está entrevistando’, disse Aderlane. ‘Segundo a professora, isso demonstra segurança, consideração pela pessoa e franqueza no que está dizendo.’

O adolescente Danilo Duarte Azevedo, de 16 anos, concluiu que o fato de ter sido recusado para o estágio duas vezes pode estar ligado ao visual. ‘Nem imaginava que isso importava. Para mim, o principal era mostrar que podia dar conta do recado. Usei uma calça meio rasgada, toda desbotada, e camiseta regata. Bom, acho que também deixei escapar algumas gírias. Agora, o jeito é aguardar outro chamado. Claro que, dessa vez, vou caprichar mais na minha aparência e tomar cuidado com minhas palavras’, admite.

Governo, empresas e voluntariado

Para tirar do papel o programa de integrar o jovem formado pela escola pública e transformá-lo no Projeto Jovem Cidadão – Meu Primeiro Trabalho, a Secretaria de Relações do Trabalho (Sert) procurou apoio na iniciativa privada, sem falar no voluntariado nas parcerias com a PUC e o Grupo Selmed para as oficinas.

‘O sucesso do projeto depende efetivamente desse trabalho em conjunto, pois sem a abertura da vaga, o aluno não tem o trabalho. Mesmo que o governo tenha a disposição de investir e criar o primeiro emprego, depende do estágio para gerar o aprendizado’, afirma João Carlos da Silva Martins.

Nessa parceria, a secretaria entra com 50% da bolsa mais o seguro de vida e contra acidentes pessoais, e a empresa banca o restante, além do vale-transporte para os três tipos de estágio, de quatro horas, equivalente a R$ 130,00. O Governo participa com R$ 65,00 e a empresa completa o valor. No estágio de cinco horas, o estudante receberá R$ 162,50 e no de de seis horas, R$ 195,00.

De acordo com Martins, as empresas têm de apresentar um plano de garantia de que, durante nos seis meses do estágio haja realmente o aprendizado. ‘É uma capacitação. Portanto, quando a empresa abre a vaga, o plano é criteriosamente avaliado pelo nosso corpo técnico.’

Até o momento estão cadastradas 9.973 empresas parceiras, entre elas, Banco Itaú, Avon, Natura, Rede Globo, Hospital São Paulo, Hospital São Camilo, Universidade Brás Cubas, MTV, PUC. ‘A Febraban e a Fiesp, e seus associados, são as próximas a tornarem-se nossas parceiras. O Banco Itaú oferece 70 vagas e está disposto a ampliar para 200 até o final do ano. Outras também oferecem vale-refeição ou almoço no refeitório e até clube’, conta.

‘O programa também tem um caráter social. Pela pesquisa, 15% dos beneficiados destinam toda a sua bolsa para o orçamento doméstico famíliar. E quase 10% do valor é a única renda da família’, descreve Martins.

Desde 2000, quando o programa foi criado, até o momento, foram investidos cerca de R$ 10 milhões entre a bolsa, o seguro, o gerenciamento do projeto e as oficinas. Mas, no final, todos ganham, inclusive a iniciativa privada, que valoriza a sua imagem ao estar vinculada ao trabalho de responsabilidade social.

Nesse sentido, acaba de ser aprovado um empreendimento criando o selo Empresa Jovem Cidadã, para indicar que aquela firma é participante. ‘Nossa meta é triplicar o número de vagas, passando de 6,9 mil para 20 mil no ano que vem’, afirma Miguel Calderaro Giacomini, chefe de gabinete e representante do secretário Francisco Prado.

‘Acreditamos que esse projeto lida com a questão da violência associada aos jovens de 16 a 25 anos. Ele vai trabalhar de 4 a 6 horas, além de ir à escola, já que para se inscrever e concorrer a um estágio, sua presença nas aulas deve ser total. Se faltar, perde a bolsa. Sem falar que estará aprendendo as primeiras lições que servirão para toda a vida’, atesta Giacomini.

‘Desenvolvemos uma experiência semelhante, e extremamente gratificante, com o programa Tímido Emprego’, compara o chefe de gabinete. ‘Dirigida ao trabalhador desempregado, uma dinâmica de grupo, realizada por psicólogos, discute todas as questões que envolvem o emprego, desde a postura, a apresentação e como se preparar para a entrevista, até o mercado de trabalho. Das pessoas que participaram, 70% foram contratadas.’

Histórias de sucesso

Sabrina Rodrigues Pereira, de 16 anos, se inscreveu no Programa Jovem Cidadão em agosto do ano passado. Ao ser chamada para uma entrevista no escritório da locadora de vídeo Blockbuster com mais três colegas, emplacou. ‘Entrei no atendimento ao cliente. Fiquei tão empolgada, que fiz de tudo para mostrar o melhor resultado. Conversava bastante com o cliente, procurava ser simpática e atenciosa. Para atender melhor, comecei a me interessar mais por filmes. Levava fitas para casa, assistia aos filmes na tevê prestando atenção nos nomes de atores e diretores. Em três meses, fui efetivada. Hoje, trabalho uma média de seis horas e ganho R$ 300,00 com carteira assinada. Posso ajudar a minha mãe e ainda fico com um pouco para mim’, comemora.

Como ela, Elaine Antonia da Silva, 20 anos, também tem razões para festejar o dia em que se inscreveu no programa. ‘Estava no 3.ª série do Ensino Médio, e me interessei logo que soube. Fui da primeira turma de estagiários, em abril de 2000’, lembra. ‘Após um mês, fui chamada para uma entrevista na Universidade do Taboão e, no mesmo dia, à tarde, confirmaram que havia sido escolhida.

Comecei na área de divulgação. Após 5 meses, fui transferida para a biblioteca e me contrataram ao final do estágio. Um mês depois, passei para a secretaria, onde estou até hoje. Ganho na faixa de R$ 600,00, mas o que me deixa mais realizada é que, graças a esse trabalho, vou realizar o meu grande sonho: poder cursar uma faculdade. Farei aqui mesmo, como bolsista. Lidando com o público diariamente, falando com pessoas tão diferentes como jovens em busca de informação, estudantes, pais, professores, descobri minha vocação para cursar Psicologia.’

SERVIÇO

Como entrar no Programa

Para estudantes: As inscrições podem ser feitas pelo tel. (11) 3311-1234 (Central de Atendimento); pelo site www.meuprimeirotrabalho.sp.gov.br, na escola ou nos PATs (Postos de Atendimento ao Trabalhador), na Grande São Paulo.
Para empresas: Cadastramento na Central de Captação de Vagas: (11) 3311-1337/3311-1338; pelo fax: 3311-1339; ou no site
www.meu primeirotrabalho.sp.gov.br

Da Agência Imprensa Oficial/Inês Pereira/L.S.