Educação: Programa Escola da Família abre seis mil escolas nos fins de semana

Programa visa a promoção de atividades culturais, esportivas e pedagógicas aos sábados e domingos

qua, 20/08/2003 - 8h17 | Do Portal do Governo

As seis mil escolas da rede estadual abriram as portas para a comunidade no último final de semana para apresentação do Programa Escola da Família. Iniciativa da Secretaria de Estado da Educação em parceria com a Unesco e apoio do Instituto Ayrton Senna, o programa visa a promoção de atividades culturais, esportivas e pedagógicas durante os fins de semana.

“Acredito que a implementação desse programa mostrará a toda a população paulista que nossa rede de ensino consegue aliar, como poucas equipes, a competência técnico-pedagógica ao idealismo de quem reconhece a importância de seu papel no momento histórico”, afirma o secretário da Educação, Gabriel Chalita.

O Escola da Família deve reduzir os índices de violência no entorno escolar e estreitar as relações da escola com as populações de suas cidades. “Na informalidade da vivência cultural e da prática esportiva, o programa aproxima ainda mais professores e alunos, trazendo igualmente a comunidade para dentro da escola”, complementa o governador Geraldo Alckmin.

O programa deverá atingir seis milhões de alunos e suas comunidades. Para isso, contará com uma equipe formada por educadores profissionais, voluntários e 25 mil universitários bolsistas. Nesse primeiro final de semana, os responsáveis pelas escolas aproveitaram para apresentar os atrativos e objetivos do projeto e para ouvir sugestões, organizar atividades e montar calendários.

As 25 mil bolsas de estudos foram concedidas pela Secretaria da Educação em convênio com faculdades e universidades particulares. O Governo do Estado oferece 50% do valor das mensalidades, limitado a um teto máximo de R$ 267,00, e as universidades completam a bolsa para os alunos selecionados. Uma das exigências para entrar no programa é que tenham sido alunos da rede pública. Quase 40 mil estudantes se inscreveram para as bolsas.

Todos estão passando por treinamento e capacitação desde o início do mês. Eles trabalharão 16 horas em cada fim de semana (8 horas no sábado e mais 8 no domingo). Os bolsistas ainda cumprirão 4 horas de planejamento da programação em um dia da semana.

O Programa Escola da Família supera em amplitude e recursos outras iniciativas já promovidas, porém, incorpora em sua concepção experiências recentes e bem-sucedidas, como os projetos Parceiros do Futuro, Comunidade Presente, Prevenção Também Se Ensina e Jovem Protagonista.

Atividades do programa

O Escola da Família será desenvolvido aos sábados e domingos, das 9 às 17 horas, com uma grade de programação composta por 70% de atividades fixas. Esportes, como jogos pré-desportivos, jogos populares, brincadeiras, atletismo, esportes coletivos, ginástica e artes marciais; atividades de cultura, como música, teatro, artes plásticas, dança clássica, danças populares/folclóricas, gincanas, feiras, leitura e exibição de vídeos/filmes; e oficinas de qualificação para o trabalho, como informática, línguas, curso pré-vestibular, cursos básicos de qualificação profissional e elaboração de portfólio.

O programa também deve formar multiplicadores para ações preventivas de saúde, oferecendo palestras e encontros sobre temas como, por exemplo, planejamento familiar, prevenção ao uso de drogas e doenças sexualmente transmissíveis, primeiros socorros, cuidados na gravidez e puericultura e responsabilidade na criação de animais domésticos.

Os 30% restantes da grade de atividades serão definidos pela equipe de cada escola, de acordo com as necessidades da comunidade.

Escola Professor Moacyr Campos reúne 2 mil pessoas nos finais de semana

A Escola Estadual Professor Moacyr Campos (Mocam), localizada no bairro Vila Antonieta, Zona Leste da Capital, fez o lançamento do Programa Escola da Família, no sábado, às 13 horas. Claudemir Cruz, diretor da escola há 5 anos, explicou o programa para a comunidade.

“O Escola da Família é fruto dos resultados positivos alcançados por escolas que já tinham atividades nos finais de semana. A gente percebeu uma mudança muito grande nos alunos. Alguns que antes vinham para a escola apenas para pichar, hoje são voluntários do programa”, ressalta Claudemir.

Para explicar a importância do projeto e do envolvimento da comunidade, ele lembrou sua participação num fórum de paz, realizado em São Matheus, em que o tema era “Se todos dermos as mãos, quem irá sacar a arma?”.

Novos reforços

O diretor aproveitou para apresentar a educadora profissional Cintia Cardena, que será responsável pelo Escola da Família no Mocam. “Vou dar continuidade às atividades já realizadas. O objetivo é mostrar que a escola pode ser um ambiente agradável e integrado com a comunidade”, explica Cintia.

Além da educadora, seis universitários bolsistas trabalharão na escola nos finais de semana. “Eu resolvi participar do programa porque, além de receber auxílio para pagar a universidade, posso ajudar a comunidade e tirar o pessoal da rua”, diz Danilo Bitencourt Mariano, aluno de Engenharia Mecânica.

“Eu entrei no programa para ajudar a comunidade porque é o bairro onde cresci”, explica Daniel Mor, universitário bolsista do curso de educação física e aluno do Mocam por 8 anos. “No ano passado, eu vinha aqui para participar das atividades nos finais de semana. Hoje, posso ajudar”, lembra.

Comunidade na escola

No Mocam, o Escola da Família não traz muitas mudanças. Como a escola era participante do Programa Parceiros do Futuro há um ano e meio, mais de 2 mil pessoas já participam de atividades, todos os finais de semana. A escola é limpa e conservada pelos próprios alunos, professores e comunidade. Não existe lixo nos corredores e nem pichações. É a maior escola da Diretoria de Ensino Leste 5, com 84 classes e mais de três mil alunos.

Mais de 15 voluntários, cinco professores e uma coordenadora são responsáveis pelas atividades dos finais de semana. Os 2 mil freqüentadores da escola se dividem em atividades como capoeira, fanfarra, artesanato, pintura, xadrez, jogos educativos, vôlei, handebol, futebol, ping-pong e skate.

Campeonatos são organizados entre outras 70 escolas que já abriam nos finais de semana. No sábado, alunos do Mocam disputavam um amistoso de vôlei com a Escola Estadual Caramuru. As professoras, contratadas pelo Programa Parceiros do Futuro, Elaine Calixto (Mocam) e Núbia Alexandra (Caramuru), reúnem normalmente 100 alunos para os campeonatos de vôlei e handebol das duas escolas.

Chaklon da Silva Araujo, 23 anos, aluno do terceiro ano do ensino médio, gosta de assistir aos jogos de vôlei e sempre leva a filha Rebeka Pinho da Silva para escola. “O povo sai da rua, se diverte e não usa droga. Ela fica se divertindo enquanto eu assisto”, diz Chaklon.

“Tem pintura, tem lousa e tem bola. Eu gosto mais da pintura e da bola.”, explica Rebeka, de apenas 5 anos, que brinca e participa das oficinas todos os finais de semana.

Xadrez e capoeira

Mesmo não sendo aluno do Mocam, Fernando dos Santos Diniz, 14 anos, há 8 meses comparece todos os finais de semana para cuidar da oficina de arte, xadrez e jogos educativos. Garante que é importante manter a escola aberta para evitar que os jovens fiquem nas ruas.

“É muito legal aqui porque tem jogos. Durante a semana, temos muita lição de casa e nem dá pra brincar direito. Eu aprendi a jogar xadrez lendo num livro. Lá ensinava tudo”, explica Jeferson de Jesus dos Santos, 11 anos, aluno da 5ª série.

A mãe de Jeferson, Adriana de Jesus dos Santos, traz os dois filhos todos os finais de semana. A caçula Marcela Macedo, de 8 anos (aluna da escola Duque de Caxias), pratica capoeira. “A escola abrir nos finais de semana é excelente. Assim, eles não ficam na rua. Enquanto eles estão aqui, posso ficar despreocupada. Se a gente não traz, eles choram. Virou compromisso”, comemora Adriana.

Jeferson e Marcela passam o final de semana inteiro no Mocam. Na hora do almoço, correm até em casa, se alimentam e voltam para escola. “Só vou embora às 5 horas da tarde, quando fecha”, conta Jeferson, que também pratica capoeira e participa das oficinas de artesanato.

Lucas Carvalho, 11 anos, lamenta que não possa ir à escola todos os finais de semana. “Hoje, minha mãe deixou eu vir sozinho porque tinha ensaio da fanfarra”, explica Lucas, que aproveitou para jogar xadrez com o amigo Jeferson enquanto aguardava.

Concorrência de escolas

Cerca de 50 jovens, vindos de outro bairro da capital, utilizam uma das quadras para praticar hóquei. “Não sabemos se eles continuarão aqui com a gente, já que todas as escolas do Estado estarão abertas. Teremos que melhorar ainda mais nossas atividades agora que aumentou a concorrência de escolas abertas”, diz o diretor Claudemir.

Ele pretende construir um espaço maior para os praticantes de skate. Nos finais de semana, aproximadamente 90 skatistas freqüentam o Mocam para treinar suas manobras.

“A gente não tinha lugar para andar, era obrigado a praticar na rua. Agora, eu fico aqui até a hora da escola fechar”, conta o skatista Alexandre Isaias de Souza, 21 anos, aluno do primeiro ano do ensino médio.

A irmã do skatista, Cleide Isaias de Souza, 14 anos e aluna da 7a série, também participa das atividades do Mocam. Joga vôlei, futebol, mas sua atividade preferida é a fanfarra. “Antes da escola abrir, o final de semana era chato. Eu não tinha o que fazer”, lembra Cleide, que tem mais três irmãos que também freqüentam o Mocam.

Serviço

Outras informações no site www.escoladafamilia.sp.gov.br.

Regina Amábile, da Agência Imprensa Oficial

C.C.