Educação: O Ambiente Urbano e a Formação da Criança

Pesquisa realizada na FAU revela a importância do espaço público para as crianças

ter, 07/01/2003 - 13h15 | Do Portal do Governo

O estudo ‘O Ambiente Urbano e a Formação da Criança’, da arquiteta Cláudia Maria Arnhold Simões de Oliveira, revela que o espaço público é fundamental para a formação mental e física da criança, contribuindo decisivamente na construção que ela faz do conceito de cidadania.

A pesquisa, realizada em quatro anos, foi apresentada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU)da USP no final de 2002.

Cláudia Maria frisa que as riquezas das informações contidas no espaço público – de uma rua a um grande parque – favorecem o desenvolvimento mental e físico da criança. ‘Esses locais são ideais para se desenvolver a capacidade criativa, porque para isso é necessário espaço e tempo’.

Já sobre os ‘espaços temáticos’, a arquiteta conta que eles são menos eficazes na formação infantil, em relação ao lugares públicos, porque direcionam o andar da criança pelas suas instalações, impossibilitando a sua livre movimentação.

Freqüentar áreas públicas também possibilita o aprendizado de direitos e deveres. Cláudia Maria comenta que num simples atravessar de rua a criança aprende a conhecer o modo de se comportar e atuar no espaço, dessa forma vivencia a cidade.

Sociabilidade

O espaço público favorece a integração de pessoas de diferentes classes sociais, credos, cores ou convicções políticas. Baseada nisso, a pesquisadora defende em seu estudo que a sociabilização da criança será melhor construída tendo à sua volta essa diversidade.
Daí ela valorizar oslocais públicos.

Durante a pesquisa, foram ouvidas 12 crianças de rua, 65 de escolas públicas, 76 de particulares e 42 adultos, de 24 a 80 anos, na cidade de São Paulo. A arquiteta pediu às crianças que desenhassem o ‘lugar de brincar’ e a ‘rua de brincar’. A idéia era perceber como elas relacionavam esses dois espaços.

Desenhos que sugeriam liberdade foram feitos por jovens de rua. As de escola pública trabalharam melhor o espaço em suas ilustrações. ‘Inclusive algumas colocaram ‘placas’ proibindo carros no local’, conta Cláudia Maria.

E as gravuras com grandes espaços ‘desertos’ eram das que estudavam em escola particular. ‘Elas pediam por amigos. Havia indícios de perda de noção do espaço físico, do espaço público e da socialização.’

Outra preocupação foi entender como as crianças percebem, sentem e conhecem o espaço. Cláudia Maria explica que é nessa fase que formamos os ‘mapas mentais’. Seriam os caminhos feitos da escola para casa, por exemplo.

A estudiosa notou que crianças que fazem seu itinerário de carro ou ônibus desenvolvem uma percepção diferente daquelas que circulam a pé, ou seja,aquelas enxergam o mundo com uma ‘velocidade’ diferente destas.

E completa: ‘observam o espaço público por meio do vidro dos automóveis e das janelas de suas casas, dos muros dos condomínios, das paredes do shopping; é um mundo ilusório, cheio de estigmatizações’. A estudiosa afirma ainda que a noção de espaço físico da criança é bastante recortada.

‘Ela faz composições entre o imaginário e a realidade com soluções que a eximem de construir uma percepção do espaço e do movimento no espaço.’

A pesquisadora também se preocupou com a segurança. Sobre esse fator, frisa que ‘muitos olhares tornam uma rua segura. Quando a população assume o espaço público a marginalidade se afasta. Somos ainda os melhores vigilantes.’

Por Marcelo Gutierres
Da Agência de Notícias da USP

V.C.