Educação: Ministro elogia modelo universitário paulista

Declaração foi feita na 55º SBPC

sex, 18/07/2003 - 18h42 | Do Portal do Governo

O ministro da Ciência e Tecnologia (MCT),Roberto Amaral, disse hoje, dia 18, que o modelo universitário paulista pode ser seguido pelo Governo Federal. A declaração foi feita no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na 55ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC, durante a conferência Ciência como Fator Estratégico de Soberania.

‘Acredito que o modelo universitário paulista exige nossa reflexão. As atividades da USP, Unesp e Unicamp se complementam. Ou seja, diferente de outros estados, a riqueza de São Paulo não depende quase que exclusivamente da sua capital, pois seu interior já está extremamente desenvolvido’, disse Amaral.

O ministro afirmou que a meta do Ministério da Ciência e Tecnologia é promover a mudança, baseada na regionalização do desenvolvimento das atividades de pesquisa científica e tecnológica. ‘Por conta disso, estamos negociando com a USP para levarmos alguns dos seus professores para ministrarem cursos de mestrado e doutorado em universidades federais da região amazônica.’

Segundo ele, a idéia é que os governos estaduais paguem as estadias, enquanto o CNPq dê uma bolsa de estímulo para esses professores. ‘Se tudo der certo, estaremos iniciando as atividades até o início de 2004’, disse o ministro.

Como exemplo de outras atividades voltadas à descentralização da pesquisa, Amaral citou o recém-criado Centro de Neurociências de Natal, que em breve será acompanhado da criação de um centro de farmacologia aplicada no Ceará e de um de Biociências no Pará.

Síndrome de cobrança

Roberto Amaral aproveitou a oportunidade para rebater as críticas feitas nos últimos dias ao governo e, especificamente, à sua atuação no MCT. ‘Está havendo uma síndrome de cobrança sobre um governo que é de mudança e não de continuísmo’, disse. ‘Muitos dos que cobram hoje não fizeram nada e confundem mudanças com desmantelamento. Não é fácil mudar as coisas, pois este é um País autoritário, uma ilha de privilégios construída sob o disfarce do direito coletivo que beneficia, na prática, apenas uma minoria’, declarou.

Segundo o ministro, a criação de um plano como o Fome Zero não é autoritarismo. ‘Não temos vergonha de admitir que num País rico como o Brasil, infelizmente, há fome. O que temos é a destinação histórica de resolver esse problema.’

Ele disse que o governo está tentando estabelecer um projeto macro, de longa duração, que rompa com o conservadorismo da sociedade e do Estado. ‘A concentração de renda no Brasil é absurda. Se nossa elite fosse menos sem caráter e mais ética, ela coraria de vergonha. Vamos lutar contra o apartheid do conhecimento, forma de exclusão que cresce a cada dia com a ampliação das atividades de ciência e tecnologia.’

De acordo com o ministro, o MCT estuda um aumento do valor das bolsas de pós-graduação para o próximo ano, cuja realização depende das disponibilidades orçamentárias da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes, órgão do Ministério da Educação que também concede bolsas de estudos.

Ennio Candotti lembrou do papel da SBPC na luta pela criação do MCT, que em 18 anos de existência foi extinto por duas vezes e teve 15 ministros. ‘A entidade sempre lutou por recursos para a educação, ciência e a tecnologia, e foi a que mais pressionou, no passado, quando o MCT foi extinto, para a sua reativação’, conta. ‘A estrutura que está lá é fruto, em boa parte, da luta dos cientistas.’

Com relação à crise dos fundos setoriais, causada pela informação de que setores do governo federal cogitavam a pulverização dos fundos para outros ministérios – em detrimento do projeto original que prevê a exclusividade do MCT e de suas agências, CNPq e Financiadora de Estudos e Projetos, a Finep, na gestão desses recursos -, problema já superado, segundo o ministro, Candotti declarou que o embate não precisava ter acontecido se a comunidade científica estivesse sendo ouvida – na quarta-feira, dia 16, a SBPC aprovou o encaminhamento de uma carta de repúdio ao presidente Luís Inácio Lula da Silva.

‘O governo também precisa viabilizar urgentemente a implantação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, que ainda está parada, e uma gestão compartilhada com membros da comunidade científica dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico’, afirma Candotti. ‘Outra questão prioritária é que não basta conseguirmos formar dez mil doutores por ano sem garantirmos que esses pesquisadores sejam contratados. Temos que trabalhar para que haja emprego pois, do contrário, corremos o risco de formarmos massa crítica altamente especializada para outros países.’

No final, o ministro afirmou que está aberto para ouvir a SBPC assim como as outras entidades que representam a comunidade científica.

Da Agencia USP de Notícias
André Chaves de Melo/L.S.