Educação: Estado veta frituras nas cantinas escolares

Estabelecimentos terão de oferecer mais opções de sucos naturais e bebidas lácteas

qua, 04/05/2005 - 12h35 | Do Portal do Governo

As cantinas das escolas estaduais têm até setembro deste ano para trocarem ou substituírem frituras por salgados e doces assados e oferecerem uma oferta maior de sucos naturais e bebidas lácteas e à base de soja. O Departamento de Suprimento Escolar (DSE), da Secretaria Estadual de Educação, já listou os alimentos que podem ser comercializados. Até o momento, não existe qualquer produto com venda proibida. “Mas, recomendamos, por exemplo, que não seja vendido refrigerante nas cantinas”, afirmou o diretor do DSE, Frederico Rozanski, de 34 anos.

Esta nova regra para o funcionamento das cantinas escolares provocou discussões entre pais, professores, nutricionistas, pediatras, donos de cantinas e estudantes – hoje ávidos por alimentos ricos em gorduras e açúcares. “É óbvio que ninguém vai comer um pé de alface no recreio”, disse, rindo, Rozanski. “Mas, temos de oferecer alternativas para estimular hábitos alimentares saudáveis nos alunos”, ponderou. A decisão é resultado de uma pesquisa com pais de alunos, professores e funcionários de 2.825 escolas em todo o Estado, que apontou pela não venda de produtos de “calorias vazias”.

Uma parcela expressiva dos alunos do Estado se alimenta da merenda escolar, que em Campinas é administrada pela Prefeitura. Mas, o que fazer para mudar o comportamento daqueles que optam por salgadinhos industrializados e refrigerantes? Sem contar que alguns estudantes trazem os alimentos de casa. “Precisamos trabalhar a conscientização dos alunos e de seus pais sobre os riscos desta alimentação inadequada, que pode gerar obesidade infantil e diabetes”, disse Rozanski.

“Eu não gosto de fruta e não estou acostumado a comê-las”, disse Rodrigo Leite Destro, de 8 anos, aluno da Escola Estadual Dom Barreto. “Não como a merenda porque prefiro o lanche na cantina.” Se não tiver outra alternativa, disse que irá comer os alimentos mais saudáveis. Mas, avisou: “Prefiro chocolate à maçã de sobremesa.” O DSE, segundo Rozanski, deve realizar uma nova pesquisa de campo para adequar os novos contratos das cantinas, administradas direta ou indiretamente (processo licitatório) pela Associação de Pais e Mestres (APM) de cada escola.

O DSE não descartou a possibilidade de formular uma lista de alimentos a serem proibidos de comercialização na rede. O que será vendido nas cantinas deverá ser autorizado pela APM. As cantinas serão fiscalizadas pelo DSE e, se estiverem vendendo produtos que não constam no contrato, poderão ser multadas e até terem seus contratos rescindido. Hoje, a única proibição expressa é a venda de bebida alcoólica, tabaco e medicamento ou produto químico-farmacêutico.

Com cantinas em três escolas estaduais, sendo duas em Campinas (EE Norberto de Souza Pinto e EE Vitor Meirelles) e uma em Sumaré (EE Dom Jayme de Barros Câmara), Robson Lauro Vicale da Silva, de 31 anos, ainda tem dúvidas quanto ao que não poderá vender. “Aguardo as instruções do DSE para saber o que não posso vender”, disse. “A proibição da venda do refrigerante vai ser complicada porque trabalhamos com alunos de várias faixas etárias.” As cantinas não podem competir com a merenda escolar. “A venda de frutas é inviável porque, além da merenda oferecer, muitos alunos não gostam. Com certeza, a clientela deve continuar, mas o faturamento cair.”

Diálogo em casa é o melhor caminho

O diálogo combinado com as imposições de limites é a tática usada pela dona de casa Maria Crisóstomos Tiago, de 58 anos, com os seus netos para evitar os alimentos com alto teor calórico. “Eu brigo muito com os meus netos para que evitem os salgadinhos industrializados e os refrigerantes”, disse. Um dos netos de Maria estuda na Escola Estadual (EE) Prof. Norberto de Souza Pinto, onde a cantina já iniciou a venda de alimentos saudáveis. “Eu levo suco para o Gabriel (7 anos) tomar durante a merenda escolar.”

Na maioria das vezes, segundo Maria, Gabriel opta pela merenda. “A criançada come hoje muita ‘porcariada’”, observa. Gabriel, apesar de tomar o suco que a avó prepara, disse preferir refrigerante. “É muito mais gostoso.” A vice-diretora da escola, Maria de Fátima Silva Santana, de 41 anos, disse que 99% dos alunos se alimentam da merenda. “Já trabalhávamos com a reeducação alimentar em sala de aula”, disse a coordenadora pedagógica da escola, Sandra Alves Coelho, de 38 anos.

A caseira Zilma de Oliveira Rolim, de 24 anos, mãe de Joyce, de 9 anos, vê a medida anunciada pelo Estado com ceticismo. “Não acredito que só a mudança na cantina da escola vai resolver.” Zilma orienta a filha a comer a merenda escolar e não dá dinheiro a ela para que compre na cantina. O estudante Raphael Sampaio Perluiz, de 8 anos, como a maioria das crianças, prefere o salgadinho à merenda escolar. “É mais gostoso e, se proibirem de vender salgadinho na cantina, trago de casa.”

Muitas escolas particulares já têm focado o trabalho pedagógico na alimentação mais saudável. Uma deles é o Colégio Rio Branco, em Campinas. A nutricionista da cantina, Adriana Quaiotti, que também é responsável pelo cardápio do kit lanche da Escola Balão Mágico, disse que o apelo visual dos produtos saudáveis é fundamental nas prateleiras da cantina. Na Escola Curumim, a cantina da escola não vende refrigerantes nem salgados industrializados. O cardápio inclui sucos naturais, leite de soja e salgados assados. “Isto garante que os estudantes tenham a opção de uma alimentação mais saudável”, disse a diretora Gláucia de Mello Ferreira.

Nas escolas municipais é a proibida a venda de alimentos dentro das unidades. A proposta da Secretaria de Educação, segundo a assessoria de imprensa, é propor a reeducação alimentar, com dieta equilibrada e orientação para mastigar devagar, comer sem exageros e combinando as várias categorias de alimentos. O programa de alimentação escolar já privilegia a oferta de alimentos saudáveis, in natura, e balanceados. (NB/AAN)

Envolvimento dos pais é fundamental

A pediatra Sílvia Castilho, de 49 anos, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), afirma que é a medida do Estado é extremamente positiva, mas precisa vir acompanhada de um trabalho em paralelo com os pais, buscando a reeducação alimentar. “O envolvimento dos pais é essencial porque, senão, os alunos vão levar de casa os salgadinhos industrializados ou fritos para a escola”, afirmou. Os pais precisam ter pulso firme, segundo a pediatra.

Para Sílvia, o grande problema é que os pais perderam hoje a autoridade sobre os filhos com relação à alimentação. “Alimentar uma criança gasta tempo e precisa ter muito paciência”, disse. “A sociedade está estruturada para não constituir um hábito saudável de alimentação”, afirmou. “As crianças não têm tanto espaço para se exercitarem, sendo que o sofá na frente à televisão ou a cadeira em frente ao computador se tornaram os lugares preferidos delas na casa, e não querem trocar a bolacha recheada pela maçã”, observou.

Segundo ela, os pais têm de impor mais. “Se o filho não quer tomar banho, os pais o ordenam e ele obedece. Com a alimentação, precisam ter a mesma postura. Se não comprarem os alimentos industrializados, os filhos irão comer o que tem em casa. Não adianta aparecerem no consultório pediátrico pedindo remédio para anemia quando o que precisam é fazer com que os filhos comam alimentos saudáveis.” (NB/AAN)

Especialistas em nutrição apóiam a medida

Os alunos precisam aprender a selecionar seus alimentos e esta aprendizagem tem de começar dentro da escola na sala de aula, segundo Maria da Conceição Pereira da Fonseca, doutora na área de Alimentação e Nutrição e pesquisadora da Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Os professores e, principalmente, os pais precisam ter um maior envolvimento para mudar o hábito alimentar desta crianças, que adoram fast-food.” Isso porque, segundo Maria da Conceição, também não adianta o aluno trocar um salgado frito por um assado se comer três ou quatro unidades.

Para a nutricionista Fabíola Poli, de 29 anos, a nova regra para o funcionamento das cantinas nas escolas estaduais, trará benefícios às crianças atendidas. “A medida é um grande incentivo para formação de um hábito alimentar saudável. Neste período, os alunos serão obrigados de forma positiva a se alimentarem com mais qualidade”, avaliou. Fabíola é também da opinião de que os pais precisam estar envolvidos no projeto. Um estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) indica que 15% das crianças no País são obesas. “O aluno permanece na escola apenas cinco ou seis horas do seu dia e, este lanche representa, então, uma pequena parte da alimentação diária dele.” Segundo ela, uma boa alimentação evita a entrada de crianças doentes nos postos de saúde. (NB/AAN)

O QUE PODE SER VENDIDO

1 – Frutas, legumes e verduras;

2 – Sanduíches, pães, bolos, tortas e salgados e doces assados ou naturais: esfiha aberta ou fechada, coxinha e risoles assados, pão de batata, enroladinho, torta, quiche, fogazza assada, entre outros produtos similares;

3 – Produtos à base de fibras: barras de cereais, cereais matinais, arroz integral, pães, bolos, tortas e biscoitos;

4 – Barras de chocolate menores de 30g ou mista com frutas ou fibras;

5 – Suco de polpa de fruta ou natural;

6 – Bebidas lácteas: sabor chocolate, morango, coco, capuccino, aveia, vitamina de frutas, entre outros produtos similares;

7 – Bebidas ou alimentos à base de extratos ou fermentados (soja, leite, entre outros).

Fonte: Departamento de Suprimento Escolar (DSE), da Secretaria Estadual de Educação

Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual da Educação

F.C.