Educação: Especialistas da USP apontam pobreza como causa básica da desnutrição infantil e da fome

Debate foi realizado nesta quarta, durante evento da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

qua, 25/06/2003 - 20h47 | Do Portal do Governo

A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP realizou nesta quarta-feira, dia 25, o evento Debatendo o Fome Zero, uma série de discussões sobre o programa do Governo Federal. Além de representantes da FEA, o evento, que integra o Curso de Pós-graduação Interunidades de Nutrição Humana Aplicada (Pronut), contou ainda com participantes da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP). Também participou da organização do evento a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN).

Esteve presente na cerimônia de abertura do evento o vice-reitor da USP, Hélio Nogueira da Cruz, representando o reitor da Universidade, Adolfho José Melfi. Para Hélio, o evento mereceu destaque pelo seu caráter interdisciplinar. ‘Trata-se de um assunto que ultrapassa o sectarismo de qualquer área’, explicou, completando, ‘a fome é uma humilhação cotidiana e sistemática imposta a milhões de brasileiros e um desafio que o País deve enfrentar’.

A professora Maria Thereza Fleury, diretora da FEA, destacou na abertura que o espaço dado ao evento pela USP é ‘por excelência uma discussão isenta, crítica e construtiva, e menos partidária e ideológica’. Ainda esteve presente na solenidade de abertura Silvia Cozzolino, professora da FCF da USP e presidente da SBAN.

A fome além da semântica

O professor da FSP, Carlos Augusto Monteiro, procurou ressaltar durante o debate as distinções entre os termos fome, desnutrição e pobreza. Para ele, o problema para muitos favelados, por exemplo, não é a falta de comida, mas sim de água tratada, esgoto e habitação. ‘Muitos são pobres, mas não passam fome’, afirmou. O professor ainda defendeu, com dados, que no Brasil não há fome, no mesmo nível de países como os da África Subsaariana. ‘Nossa taxa de vulnerabilidade ou insegurança alimentar está em torno de 4,9%, número perfeitamente aceitável.’

O professor Antonio Coelho Campino, da FEA, concordou: ‘É possível encontrar pobres com uma alimentação adequada, mas sem condições de satisfazer outras necessidades básicas.’ Para ele, a pobreza é a causa básica da desnutrição infantil e da fome. ‘Nossa sugestão de política pública é implementar ações que levem a um aumento real e eficiente da renda dos mais pobres, e isso se faz com crescimento econômico e distribuição de renda.’

Fome Zero e Economia

O professor Fernando Homem de Mello destacou que o programa Fome Zero pode impactar positivamente a economia do País. Para ele, a agricultura tende a crescer. ‘Poderemos observar um aumento no cultivo e produção não apenas de arroz, feijão, milho, trigo, como também de carne, leite e frutas’, disse. O projeto do governo, segundo Mello, pode aumentar em até 2% a participação da agricultura no PIB.

Prioridade

A maior parte dos especialistas concordou com a importância em trazer o tema fome para o centro da arena pública. Mas ressaltaram que o projeto traz poucas definições em relação à velocidade de implementação. A falta de foco e integração dos programas existentes nos vários ministérios da área social também foram apontados como pontos a serem melhor trabalhados.

Francisco Angelo e Leonardo Leomil, do USPonline
-C.M.-