Educação: Capacidade motora e cognitiva de crianças com paralisia cerebral melhora com jogos coletiv

Estudo foi feito pela USP

qui, 31/07/2003 - 11h00 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Beatriz Camargo

‘O maior problema não é limitação das crianças, mas a falta de oportunidade que a sociedade oferece.’

Jogos e brincadeiras desempenhadas em coletivo trazem grande contribuição ao desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral. Após observar crianças em idade pré-escolar durante um semestre, a pedagoga e fisioterapeuta Regina Cristiane Nascimento Campos Peres constatou nelas uma melhoria significativa das capacidades motoras e cognitivas, ou seja, da capacidade de a criança desenvolver seu pensamento.

Para realizar o estudo, O lúdico no desenvolvimento da criança com paralisia cerebral espástica, apresentado no início de julho junto à Faculdade de Educação (FE) da USP, a fisioterapeuta avaliou as capacidades motora e cognitiva de sete crianças de uma escola especial. Também fez entrevistas com a família e com as professoras, para identificar as principais dificuldades encontradas e as expectativas envolvendo o aprendizado das crianças. ‘As mães esperavam principalmente avanços com relação à identificação das cores, números e quantidades, melhora na atenção, equilíbrio, coordenação e capacidade de segurar objetos’, relata.

Todas as crianças que participaram do estudo melhoraram sua competência em distinguir cores. Do total avaliado, 28% aprenderam a identificar texturas e 14% melhoraram o comportamento quanto à atenção. Entre as habilidades motoras, 71% melhoraram o equilíbrio e a coordenação e 14% tiveram avanços em segurar objetos. Foram realizadas duas sessões semanais de uma hora entre agosto e dezembro de 2001.

As atividades não foram propostas, mas escolhidas pelas crianças. ‘Cada uma escolhe o brinquedo conforme suas necessidades; ou seja, partindo do meio interno da criança para o externo’. É isso que, segundo Cristiane Peres, diferencia a atividade lúdica de uma atividade educativa, proposta pelo professor. A partir da escolha livre dos jogos e brinquedos, a pesquisadora interveio incentivando o aprendizado coletivo. ‘Procurei, por exemplo, juntar na mesma brincadeira que envolvia cores uma criança que conhecia a cor amarela e outra que não conhecia.’

A grande inovação do estudo foi considerar o desenvolvimento por meio de brincadeiras a partir de um trabalho coletivo com as crianças, tendo como embasamento a teoria sócio-histórica de Vygotsky. A teoria defende que a relação com o outro é essencial para o aprendizado. Apesar dos resultados extremamente positivos da pesquisa, Cristiane considera que eles poderiam ser ainda melhores se as professoras tivessem integrado a pesquisa, participando das brincadeiras.

Falta de oportunidade

A paralisia cerebral espástica é causada por uma lesão no cerébro ainda não desenvolvido completamente, que pode ocorrer antes, durante ou depois do parto. A doença provoca um aumento no tônus postural, o que interfere na movimentação voluntária. Segundo a fisoterapeuta, nem sempre a lesão significa um comprometimento cognitivo. ‘O que ocorre é que, pela falta de uma experiência motora, pode haver um atraso cognitivo.’ Além disso, ela afirma que o atraso também se explica pelo preconceito: a criança muitas vezes não é estimulada porque as pessoas acreditam que ela não é capaz de aprender.

‘O maior problema não é limitação das crianças, mas a falta de oportunidade que a sociedade oferece.’ Cristiane prevê que, desde que o princípio lúdico seja respeitado, ou seja, a própria criança escolha o seu brinquedo, é possível expandir o modelo. ‘Podemos obter avanços no desenvolvimento de qualquer criança, inclusive com outras deficiências.’

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/

V.C.