Economia: Empresas voltadas às classes mais baixas apresentam crescimento

Pesquisa faz parte de tese de mestrado defendida na USP

sex, 26/09/2003 - 10h17 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Francisco Angelo

‘Ao contrário do que pensa o senso comum, as empresas de bens populares buscam seguir padrões nacionais e internacionais de qualidade.’

Empresas voltadas à produção de bens populares têm como ponto fundamental de sua estratégia o fato de oferecerem preços menores, ofertando produtos mais simples e padronizados, mas de boa qualidade. O resultado é que, entre 1997 e 2001, o crescimento delas foi de 25% ao ano em média, enquanto que o PIB (Produto Interno Bruto) do País no mesmo período teve um aumento de apenas 1,71% ao ano.

Essa é uma das conclusões encontradas na dissertação de mestrado de Renata Alves Giovinazzo, apresentada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. A pesquisa identificou as estratégias e o desempenho dessas empresas, focadas principalmente nas classes C, D e E. Esses três grupos representam cerca de 81% da população brasileira, ou 48 % do consumo nacional.

Uma das características dessas empresas é apresentar menos serviços agregados, como menor número de postos de atendimento ao cliente, e menos investimento nas marcas. ‘A embalagem do refrigerante é mais simples, o rótulo, menos sofisticado. De maneira geral, a tecnologia embutida também não é de ponta’, diz Renata Alves.

Elas também atuam próximas dos pontos de distribuição e dos revendedores. Segundo Renata, ‘como grande parte das classes mais baixas estão localizadas nas periferias das cidades, essas empresas chegam até onde algumas grandes não vão’. Todas estas vantagens competitivas são conseguidas sem que haja perda de qualidade, ao contrário do que pensa o senso comum. ‘Pude constatar no meu trabalho que elas buscam seguir padrões nacionais e internacionais de qualidade.’

Crescimento da economia

Ainda segundo Renata, uma das conclusões mais relevantes do estudo foi mostrar a importância do mercado popular. Ela ressalta a coincidência da divulgação do Plano Plurianual para os anos de 2004/2007, feita no final de agosto pelo Governo Federal, e que veio a reforçar a ênfase dada ao consumo de massa como um dos dispositivos necessários para fazer a economia do País voltar a crescer. ‘O consumo é também uma maneira de as pessoas se inserirem na atividade econômica, gera empregos e renda’, completa.

A pesquisa analisou os dados financeiros de crescimento e rentabilidade de 75 empresas de todas as regiões brasileiras, proporcionalmente ao PIB regional. Os setores pesquisados foram os de alimentos, bebidas, fumo, vestuário, produtos de higiene e limpeza e comércio varejista. ‘Tínhamos muitos relatos de casos de sucessos isolados, porém sem um conhecimento mais estruturado sobre o desempenho e as estratégias dessas empresas’, diz a pesquisadora, destacando a importância do estudo ao explorar um assunto ainda pouco trabalhado no meio acadêmico.

O trabalho apontou também que, aliado ao maior crescimento, as empresas obtiveram também uma lucratividade média positiva (lucro) no período, enquanto as empresas com foco em outros bens fecharam seus balanços com média negativa (prejuízo). Para Renata, tão importante quanto constatar esse balanço positivo foi perceber que ‘esse lucro proveio do próprio negócio produtivo e não de operações no mercado financeiro, por exemplo’.

Mais informações podem ser obtidas no siste www.usp.br/agen/
V.C.