Ecologia: Riqueza de diversidade de espécies nas matas em perigo

Estudo se apóia em observações realizadas em seis áreas de Mata Atlântica em regeneração

qui, 12/09/2002 - 17h45 | Do Portal do Governo

Escassez de animais de grande porte pode reduzir a diversidade de espécies nas matas em regeneração

Pastos e áreas agrícolas abandonadas, desde que próximos à Mata Atlântica, podem voltar a abrigar florestas serranas, situadas na Serra do Mar. Mas a diversidade de espécies de árvores vai depender da ação de grandes vertebrados, como mamíferos e aves, que asseguram a sobrevivência das plantas ao espalhar os frutos e sementes por novos territórios.

O problema é que tanto as aves quanto os mamíferos essenciais à manutenção das matas sofrem a pressão da caça e seus hábitats tornam-se cada vez menores – indiretamente, a floresta também sai perdendo.

‘Com a redução da população dos grandes frugívoros, os fragmentos de florestas que cobrem as regiões montanhosas tendem a desaparecer ou no mínimo perder a diversidade’, afirma o ecólogo Marcelo Tabarelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Quebrando-se essa relação de dependência da mata com os animais, pode chegar a 50% a perda de diversidade de árvores de florestas regeneradas, de acordo com um trabalho que ele realizou com o primatologista Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, Inglaterra.

A floresta serrana possui cerca de 150 espécies de árvores por hectare (10 mil metros quadrados) – uma diversidade aparentemente elevada, mas inferior, por exemplo, à exibida no sul da Bahia, com 300 espécies por hectare.

Publicado em abril na Biological Conservation , o estudo de Tabarelli e Peres reconstitui o processo de regeneração das florestas a partir da ação das aves e mamíferos – chamados dispersores em vista de seu papel de disseminadores de sementes. Eles ressaltam que o tamanho das sementes é decisivo para a sobrevivência das árvores: as maiores são dispersas por animais de grande porte, mais fáceis de ser caçados e, portanto, mais raros.

São, por exemplo, morcegos e pequenas aves frugívoras, ainda comuns das florestas, que espalham as sementes de embaúba (Cecropia glaziovi ), uma das primeiras espécies que aparecem nas matas em regeneração, de tronco fino e folhas com formato de mão aberta. Já o jatobá (Hymenaea ssp), típico de florestas maduras, é uma espécie que pode ser prejudicada porque o animal que dissemina suas sementes, a cotia (Dasyprocta ssp ), encontra-se cada vez mais raro.

As conclusões se apóiam em observações realizadas em seis áreas de Mata Atlântica em regeneração – as capoeiras – em três Estados do Sudeste: Rio de Janeiro (Macaé de Cima), São Paulo (Cubatão, Intervales, Iporanga) e Paraná (Morretes e Santa Virgína). São remanescentes de florestas com até 1.100 metros de altitude, cercadas por fazendas de gado ou agricultura, e idade variável – de 5 a 120 anos.

Os mais recentes encontram-se em Intervales e Iporanga, enquanto os mais antigos estão em Cubatão, Macaé, Morretes e Santa Virgínia. A relação é clara: quanto maior a idade da floresta, maior a dependência dos animaispara a dispersão de sementes. Em uma floresta com apenas cinco anos de regeneração, 52,9% das espécies de árvores dependem de aves e mamíferos para que suas sementes e frutos sejam espalhados. Já numa floresta madura, esse porcentual sobe para 98,7%.

Mais informações sobre essa matéria no site da Revista da Fapesp.

Verônica Falcão
da Revista Fapesp