Ecologia: Mexilhões funcionam como bioindicadores de poluição

Estudo realizado pela Escola de Engenharia de São Carlos

ter, 19/08/2003 - 10h05 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Pedro Biava

‘O ser humano despeja no mar, diariamente, uma quantidade enorme de resíduos químicos e biológicos que é refletida nos organismos que vivem nesse ambiente. Sabendo disso, a pesquisadora Roberta Adriana de La Verne da Cruz Jorge, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, desenvolveu uma pesquisa de doutorado para avaliar o impacto ambiental sobre o ecossistema marinho utilizando moluscos, mais especificamente, larvas de mexilhões da espécie Perna perna como bioindicadores.

‘Na verdade todo corpo hídrico acaba desaguando no mar, então tudo que acontece na terra e em qualquer corpo hídrico se reflete no mar. A idéia foi tentar fazer um retrato do que acontece no dia a dia e os efeitos gerados por algumas substâncias químicas sintéticas lançadas no ambiente pelo homem’, resume a pesquisadora. A preocupação inicial foi verificar o efeito dos poluentes nas larvas dos mexilhões, escolhidos por serem animais de importância científica e comercial, sendo usado como fonte de proteína para consumo humano. ‘A razão do estudo com as larvas é a relação direta com o estoque natural do animal adulto’, explica.

Avaliando as larvas, foram encontradas alterações fisiológicas e morfológicas. Segundo a pesquisadora, é possível perceber mudanças no desenvolvimento das larvas ainda em seu estágio inicial. ‘Em larvas com 27 horas de vida já pode-se perceber deficiências morfológicas como a ausência de uma das conchas, uma delas maior do que a outra, ou ausência de pequenas partes. Além de alterações fisiológicas, que não são visíveis, mas afetam diretamente o desenvolvimento da larva, como por exemplo o metabolismo respiratório, entre outras’, relata.

Ambiente controlado

O estudo foi desenvolvido no Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar), em São Sebastião, e as coletas foram feitas atrás da Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. O local escolhido levou em conta a abundância de mexilhões e o menor índice de poluição da área. A pesquisa foi feita em ambiente controlado, num laboratório. Foram coletados indivíduos adultos no ambiente natural e a reprodução foi feita nos aquários, já que o estudo foi todo realizado em larvas. Taxas gradativas de poluentes foram então aplicadas.

Roberta usou quatro poluentes para o estudo, escolhidos por estarem presentes na região e que podem normalmente ser encontrados nos oceanos. Um hidrocarboneto derivado de petróleo, o benzeno, emitido no mar pelos navios, embarcações e plataformas de petróleo, e também lançado no ar por carros; um metal, o sulfato de zinco, encontrado em algumas tintas para pintura de cascos de embarcações; um surfactante, o dodecil sulfato de sódio, usado para dispersar manchas causadas por vazamentos de petróleo e na indústria em geral como tensoativo; e o cloreto de amônia, presente nos efluentes domésticos e industriais.

Com base nos resultados, a pesquisadora alerta: ‘é sempre válido lembrar que nada pode ser jogado ou desperdiçado de qualquer forma. Tudo deve estar sempre dentro de limites porque o ambiente todo está interligado. O que você joga na pia de seu banheiro, por exemplo, vai chegar no mar e irá causar um efeito. Deve se tomar cuidado com o que se desperdiça, principalmente nas indústrias. O mar tem um alto potencial de depuração, mas não consegue absorver e depurar tudo que jogam nele’.

Mais informações podem ser encontradas no site www.usp.br/agen/

V.C.