Ecologia: Árvores tropicais podem ser opção contra poluição

As árvores podem limpar atmosfera caso o efeito estufa aumente

seg, 21/10/2002 - 18h22 | Do Portal do Governo

Transformar as florestas tropicais em aspiradores de dióxido de carbono (CO2) e, assim, livrar a atmosfera de grandes quantidades do principal gás responsável pelo aumento do efeito estufa na Terra é, por ora, uma idéia tão polêmica quanto inatingível. Se um dia esse feito for possível, um grupo de especialistas em fisiologia vegetal do Instituto de Botânica de São Paulo acredita que o jatobá, uma árvore extremamente adaptada aos ecossistemas brasileiros e presente em praticamente todas as latitudes do território nacional, pode ser um bom candidato a desempenhar o papel de faxineiro do ar – ou, no mínimo, mostrar como essa tarefa poderá ser desempenhada por outras plantas. Esse sonho, um devaneio ainda longínquo, é baseado nos resultados de uma série de experimentos realizados com mudas de uma espécie de jatobá, a Hymenaea courbaril , cujo crescimento parece se acelerar em ambientes ricos em gás carbônico, o nome popular do CO2.

Em linhas gerais, os estudos indicam que, quando cultivadas por três meses num local com 720 ppm (partes por milhão) de CO2 no ar, o dobro da atual concentração atmosférica, as mudas de Hymenaea courbaril duplicam a absorção de gás carbônico e a produção de açúcares (carboidratos) e aumentam em até 50% a sua biomassa, sobretudo na área foliar e nas raízes, visto que, com essa idade, as plantinhas ainda não produzem caule (madeira). ‘Os trabalhos sugerem que o jatobá pode continuar seqüestrando carbono enquanto cresce num ambiente com altas taxas de dióxido de carbono’, diz Marcos Silveira Buckeridge, do Instituto de Botânica, coordenador de um projeto desenvolvido no âmbito do Biota-FAPESP, programa de mapeamento da biodiversidade paulista. ‘Nossa proposta não é sair plantando florestas de jatobá pelo país na esperança de diminuir o efeito estufa. Mas, sim, entender o mecanismo fisiológico dessa planta, cujas pesquisas estão em estágio mais avançado, para um dia tentar otimizar a assimilação de carbono do jatobá e outras árvores tropicais, que devem ter um metabolismo semelhante.’

Se o comportamento do jatobá adulto nafloresta for semelhante ao de sua muda criada em ambiente controlado, essa árvore poderá engordar consideravelmente caso a atmosfera da Terra atinja os tais 720 ppm de CO2 em 2075, como sugerem algumas estimativas. Nesse hipotético cenário futurista, dizer que a árvore do jatobá vai elevar sua biomassa – ter mais e/ou maiores folhas e raízes e, sobretudo, produzir mais madeira – equivale a afirmar que esse vegetal vai seqüestrar mais carbono do ar. Afinal, a celulose da madeira é uma das melhores formas de estocar o carbono hoje presente no CO2 atmosférico. ‘Ainda não sabemos, no entanto, como a árvore do jatobá, em sua integralidade, responde ao aumento de CO2’, comenta Marcos Aidar, outro biólogo do Instituto de Botânica envolvido no projeto. ‘Não podemos precisar, por exemplo, quanto desse dióxido de carbono a mais que entra na planta acaba saindo em sua respiração.’

Ao lado da água e da luz, o dióxido de carbono é um composto necessário para as plantas realizarem fotossíntese (produção de energia). O CO2 absorvido por um vegetal só pode ter dois destinos: uma parte fica retida no interior do vegetal e outra é devolvida à atmosfera pela respiração. A parcela que permanece na planta é usada em reações químicas que geram a celulose e outros açúcares. Alterar a mistura da quantidade de CO2 eliminada pelas plantas, e sobretudo da fração empregada na produção de carboidratos e madeira, é um objetivo perseguido pela indústria de papel, setores da agricultura e cientistas como Buckeridge e Aidar.

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