Disseminar a cultura negra para combater preconceito é o desafio dos docentes do Estado

Iniciativa visa ressaltar a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira

sex, 14/11/2003 - 16h53 | Do Portal do Governo

“Para quê existe a escola? Qual o papel do educador? Para ajudar na disseminação do conhecimento e diminuir a discriminação racial”. Com esta reflexão, o secretário da Educação, Gabriel Chalita, abriu nesta sexta-feira, dia 14, a solenidade que marcou a parceria entre a pasta e o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, presidido por Elisa Lucas Rodrigues, na criação do programa “Educando Pela Diferença Para a Igualdade”. A iniciativa, que entrará em vigor na próxima semana, visa ressaltar, por meio da educação, informações aos alunos sobre a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira, assim como sobre atitudes veladas que geram o preconceito racial. O evento abriu as comemorações referentes ao Mês da Consciência Negra.

Inicialmente, num projeto piloto, que será iniciado na próxima semana, serão capacitados 160 professores do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries), por meio de videoconferências realizadas com o apoio das três universidades públicas: USP, Unicamp e Unesp, juntamente com o Conselho da Comunidade Negra. A partir do ano que vem, o processo será estendido às cerca de seis mil escolas da rede, atingindo também os alunos do Ensino Fundamental.

Como reflexão do tema, na próxima semana, os professores da rede vão pedir aos alunos que desenvolvam trabalhos ligados à cultura negra como culinária, literatura, música e dança. Haverá também realizações de palestras. Chalita disse que vai apresentar esta iniciativa ao Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), no sentido de que os outros Estados também façam o mesmo. “É importante discutirmos o tema fazendo com que as pessoas acordem para isso. A pior coisa é o sonambulismo aos temas afirmativos essenciais. É como se o preconceito não existisse, e a gente sabe que isto não é verdade”, declarou, ressaltando a importância do respeito a todo ser humano, independentemente de sua raça ou credo.

Na sua avaliação, a capacitação dos docentes é um fator essencial ao combate da discriminação racial contra o negro, iniciando-se nas escolas. “Muitas vezes, o aluno já traz o preconceito de casa e acaba fazendo uma brincadeira ou comentário incorretos. Às vezes, ele não faz isto por mal, mas é fundamental que o professor tenha um olhar diferenciado para isto. Este é o desafio do educador”, declarou Chalita, repudiando além da existência do preconceito de cor, o de cargos hierárquicos e os regionais contra nordestinos.

Logo mais à noite, o governador Alckmin lança no Memorial da América Latina, um pacote de ações afirmativas, em prol da comunidade negra, envolvendo diversas secretarias. Para a presidente do Conselho da Comunidade Negra, Elisa, a medida contempla toda a ansiedade do Movimento Negro, no sentido de criar ações que venham fazer que o fator racial, não seja mais um motivo para a exclusão social.

“Desde que assumi em maio, o governador esteve aberto à diálogos, o que vem acontecendo por meio de discussões com diversas secretarias, para que entendam o momento de mudança da sociedade brasileira. Ainda falta muito para se fazer, mas este início, por meio da Educação, já é um grande avanço”.

Sobre o lançamento das ações afirmativas, o secretário da Justiça e Defesa da Cidadania, Alexandre de Moraes, disse que o governador Geraldo Alckmin dará um passo inédito no Brasil ao editar um decreto de ações afirmativas de inclusão social, beneficiando os negros e afro-descendentes, em todas as áreas. “Com este decreto se cria uma comissão presidida na Secretaria da Justiça, com representantes de todas as secretarias, das três universidades paulistas, e com medidas concretas em cada uma delas”.

Na Saúde, por exemplo, haverá um tratamento específico relacionados à algumas doenças, cujo índice de incidência é maior entre os negros. Também haverá aumento das implantações das unidades do Qualis em todas as comunidades quilombolas. Por meio das secretarias da Cultura e Comunicação, haverá aumento da presença dos negros em todas as propagandas do Governo.

Será criado um prêmio junto às empresas da iniciativa privada que se destacarem nas contratações das ações afirmativas. As três universidades paulistas vão analisar propostas de inclusão nas faculdades. “Não se trata da questão de cotas, mas sim de ações afirmativas, o que é mais genérico e importante do que cotas”, explicou Moraes. O conselho de reitores vai analisar a criação de um cursinho pré-vestibular e também de bolsa à toda comunidade afrodescendente. “É importante salientar que não há nenhuma iniciativa semelhante em todo País, que venha possibilitar uma inclusão social e um reconhecimento maior como este às comunidades negras e afrodescendentes”, comentou.

Valéria Cintra