Curiosidade: Motoristas de ambulância realizam partos a caminho do HC da Unicamp

Conheça as histórias dos motoristas que chegam ao Campus

qua, 05/03/2003 - 11h58 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unicamp
Por Isabel Gardenal

Na prática, fazer partos não é atividade exclusiva para médicos e obstetrizes. Em alguma eventualidade, alguns voluntários encaram este desafio, fazendo um ato de amor ao próximo. É o caso do sêo Quinzinho, Joaquim Jesus Pereira, motorista de ambulância da Prefeitura de São Tomé das Letras-MG, há 11 anos na profissão. Ele é mais um dos muitos motoristas que estacionam diariamente suas ambulâncias nos pátios do Hospital das Clínicas da Unicamp, em Campinas.

Sêo Quinzinho diz que há alta concentração de motoristas de várias localidades, mas que os que vêm mais de longe são os do sul de Minas Gerais.

Ele, inclusive, se intitula mineiro “meio anjo da guarda” dos “seus pacientes”. Extrapolando a sua função, Quinzinho acode os necessitados que precisam encontrar os ambulatórios no hospital quando passam pelo primeiro atendimento ou então os acompanha durante as consultas. Depois de 450 km de viagem, ainda diz chegar inteiro em sua cidade para dar atenção à família (mulher e três filhos).

Como bom mineiro, ele conta que fez pelo menos três partos na ambulância da Prefeitura de sua cidade. “Não tive como fugir a esta responsabilidade. Fiz até um parto em que o cordão umbilical do bebê estava enrolado no pescoço”. A menina, que praticamente mora no quarteirão de sua casa, criou um forte vínculo com ele e é muita agradecida por ter salvado a vida dela. Prevenido, o motorista carrega sempre luva cirúrgica. “Sei que esta não é minha área, mas às vezes não existe outra alternativa”, confessa.

Também de Minas Gerais, Itapeva, vem uma colega de profissão: Neusa Aparecida de Lima, 51 anos, há 30 anos motorista. Durante este tempo dirigiu pesados caminhões, mas o seu prazer é mesmo trabalhar com ambulância. Para quem viu paciente morrer no trajeto e ter que parar na estrada para tomar todas as providências, será difícil alguém duvidar que esta é sim atividade para mulher. “Tenho orgulho de ser mulher. Vejo muitas vantagens. No trânsito, por exemplo, ainda existe muita camaradagem com mulheres, ainda mais dentro de uma ambulância”, diz.

Geraldo Soares Ramos, 60 anos, é agradecido pelos serviços dos motoristas que o conduzem até ao Hospital das Clínicas da Unicamp. Faz tratamento na Oftalmologia do HC uma vez por semana. É de Leme, interior paulista e nunca teve a infelicidade de pegar pela frente motorista displicente. “Esta profissão deveria receber um prêmio. O atendimento público está muito bom, apesar de não ser perfeito”, expressa.

No vaivém das ambulâncias, há quem encontre tempo para um pouco de repouso enquanto aguarda o retorno do paciente, que por vezes dura horas. Ivair Maciel Pinto, 32 anos, motorista da Prefeitura de Cruzília, interior mineiro, aproveita estes momentos para dormir um pouco, já que sai muito cedo da sua cidade. “São quase cinco horas de viagem”. Por outro lado, trabalho duro. “Já tivemos até que amarrar uma criança na ambulância e algemá-la, devido à sua agitação”, relata.

“Assim como os médicos têm papel decisivo nas vidas humanas, assim é a nossa profissão: só pode ser praticada por quem tem vocação”, finaliza Geraldo Ismael Barbosa, de Camanducaia-MG, no limite com o Estado de São Paulo, que teve a felicidade de ter um treinamento para prestar primeiros- socorros. Enquanto fala, desfilam ao redor ambulâncias de Campo Limpo, Votorantim, Sorocaba, Limeira, Rafard, São Carlos, entre outras. “O Hospital das Clínicas da Unicamp não é exclusividade dos mineiros”, sorri.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unicamp.br

V.C.