Cultura: Alcorão ganhará edição em português aprovada por especialistas

Trabalho de tradução do livro sagrado dos muçulmanos levou quatro anos

qua, 12/11/2003 - 8h31 | Do Portal do Governo

A primeira edição em português do Alcorão, livro sagrado da religião muçulmana, traduzida diretamente do original em árabe, deverá estar disponível no Brasil até o ínício de 2004. O processo de tradução foi coordenado durante quatro anos por Helmi Nasr, professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A versão traduzida foi enviada ao Complexo Rei Fahd, em Medina (cidade sagrada do islamismo), na Arábia Saudita, para exame e aprovação dos especialistas da Liga Islâmica Mundial.

De acordo com a religião islâmica, o Alcorão contém as palavras recebidas pelo profeta Muhammad (Maomé) diretamente de Deus entre os anos de 610 e 632 da era cristã. A tradução para o português foi iniciada em 1984 e terminou em 1988. Durante os anos seguintes, o texto foi apreciado pela Liga Islâmica Mundial, que aprovou a versão traduzida após consultas, revisões e visitas do professor Helmi Nasr à Arábia Saudita. A tradução para o português é a 41ª aprovada pelo Complexo Rei Fahd.

Muçulmano, o professor Helmi Nasr coordenou uma equipe de dez especialistas nas áreas de estilo e gramática, entre outras, para fazer a tradução. O volume possuirá cerca de 1.200 páginas, e cada uma terá lado a lado as suratas (capítulos do Alcorão) em árabe e português, além de notas com referências históricas, lingüísticas e teológicas. ‘A tradução está sendo esperada com impaciência pelos muçulmanos do Brasil’, diz o professor.

Os exemplares serão impressos pelo Complexo Rei Fahd, que deverá enviá-los para o País entre dezembro deste ano e o início de 2004. O livro será distribuído gratuitamente pela Embaixada da Arábia Saudita em Brasília.

Islamismo

Segundo o professor Nasr, existem pelo menos oito versões em português do livro sagrado muçulmano, três em Portugal e cinco no Brasil, mas a maioria traduzida de edições em francês e inglês, não do original árabe. ‘Estas edições estrangeiras têm muitos erros lingüísticos e os tradutores não tinham base islâmica’, explica. No Brasil, o texto mais usado é o traduzido pelo libanês Samir El Hayek, que vem introduzindo mudanças em edições sucessivas.

O Alcorão é considerado pelos muçulmanos o terceiro livro sagrado – depois da Torá judaica e do Evangelho cristão. Além dos relatos religiosos, o texto contém códigos que regem a vida islâmica em todas as áreas – financeira, familiar, social etc. Os muçulmanos crêem que Maomé foi o último profeta e, portanto, o Alcorão registra a última mensagem enviada por Deus aos seres humanos.

Helmi Nasr aponta que em muitas passagens o Alcorão confirma o que a Bíblia relata no Antigo e no Novo Testamentos. ‘O livro dá ordem de crer nos mensageiros de Deus’, diz. ‘Temos 25 profetas da Bíblia mencionados nele, como Adão, Noé, Abraão, Isaque, Davi e Jesus’, observa. Entretanto, Jesus Cristo, citado 11 vezes no Alcorão, não é considerado filho de Deus, como crêem os cristãos, nem ressuscitou após ser crucificado. Segundo o islamismo, Cristo é filho de Maria, sem pai, e foi arrebatado de corpo e alma para os céus. Para os muçulmanos, sua volta será um dos sinais dos últimos tempos.

Da Agência USP

C.C.