CPTM: Usuários vão ganhar painel de grafite na Estação Domingos de Moraes

Cerca de 50 grafiteiros vão utilizar 3 mil latinhas de spray e gastar mais de 3 meses de trabalho

ter, 23/12/2003 - 11h46 | Do Portal do Governo

Os usuários da Estação Domingos de Moraes, Linha B (Julio Prestes-Itapevi), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), podem esperar os trens observando um enorme painel de grafite. O maquinista, enquanto aguarda o embarque e desembarque dos passageiros, confirma a expectativa deles: “Está ficando bonito”.

O muro, com 1,5 m² é uma homenagem aos 150 anos de ferrovia no Brasil e aos 450 anos da cidade de São Paulo. Quatro andaimes de 600 quilos, 3 mil latinhas de spray e cerca de três meses de trabalho, de pelo menos 50 grafiteiros, serão necessários para a conclusão do painel.

Ao contrário dos outros realizados nos muros da ferrovia, desta vez a arte será direcionada para os trilhos. O responsável pelo Projeto Grafite na CPTM, Décio Curci, explica que a escolha de grafitar o lado interno do muro é para privilegiar a vista de quem utiliza esse meio de transporte.

“Provavelmente seja um dos maiores painéis do Brasil. O cotidiano das pessoas é super estressante. É bom fazer um trabalho que melhore o dia delas”, constata Donizete Souza, conhecido como Bonga. “A primeira coisa que veio à minha cabeça foi homenagear o usuário”, ressalta Fredd Santos, que desenhou todo o projeto e está ajudando a grafitar.

O primeiro painel, com 30 m de comprimento por 5 m de altura, está quase pronto e representa a imagem da CPTM. Entre os artistas escolhidos estão Bonga, do Sindicato das Tintas, Binho e Maumeks, do grupo Terceiro Mundo, Eymard Ribeiro, do projeto Beco Escola, da ONG Aprendiz, além de Tota, Onesto, Does, Neto e o californiano Spoze.

Estilo nacional

A antropóloga canadense Raphaelle Proulx, 29 anos, visitou o painel da Domingos de Moraes. Está elaborando sua tese de doutorado pelo Departamento de Antropologia da Universidade de Montreal, no Canadá, com o tema A apropriação cultural por meio do grafite – uma comparação entre Montreal e São Paulo.

Raphaelle chegou até a CPTM por indicação do grafiteiro Tota, um dos artistas que colabora com sua tese. “Pude observar o trabalho dele sobre o sertão e parece que os artistas daqui se inspiram nas raízes da cultura brasileira”, fala a pesquisadora ao definir o estilo nacional. Ela acredita que a maior diferença entre o grafite do Brasil e do Canadá é a liberdade para criar personagens: “A linguagem aqui é mais abstrata e as cores são em tons pastéis, ao contrário de lá, onde são escuras e os desenhos mais sérios”.

A parceria entre a ferrovia e os grafiteiros impressionou a doutoranda. “Essa aproximação é ótima para a arte. Não conheço algo parecido em outros lugares, pelo menos no Canadá não tem.”
A idéia de estudar o grafite surgiu em 2002, quando Raphaelle acompanhou uma delegação de grafiteiros canadenses que veio ao Brasil participar de uma mostra mundial em Santo André. Também no ano passado esteve em Brasília por duas semanas com artistas locais. A pesquisadora fica no País até abril, quando retorna para Montreal para concluir o trabalho que será apresentado no final de 2005.