CPTM: Empresa pretende grafitar mil quilômetros de muros das linhas férreas

Desde domingo, dia 27, a fachada da Estação Brás está mais bonita e colorida

qua, 01/10/2003 - 14h05 | Do Portal do Governo

A fachada da Estação Brás, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), está mais bonita e colorida desde domingo passado, dia 27, quando 50 jovens grafiteiros deixaram sua criatividade impressa ao longo de cerca de 120 metros do muro da estação. A performance fez parte do Encontro Grapixo 2003, ocorrido nos dias 27 e 28 de setembro, na Rua Palmorino Mônaco, esquina com a Rua Visconde de Parnaíba.

A palavra grafite vem do italiano graffiti, plural do latim graffito, que significa ‘escritas feitas com carvão’. A arte do grafite é um dos mais fortes elementos da cultura popular hip- hop, juntamente com o rap e a dança break.

Entre os artistas participantes do encontro estiveram os mais conhecidos nomes do grafite da cidade, como Vitché, Speto, Nunca, Os Gêmeos e Ise, além de três grafiteiros alemães especialmente convidados para o evento. Este não foi o primeiro trabalho realizado pelo Grapixo, que tem a coordenação do grafiteiro Ise.

“Todo final de semana um grupo de grafiteiros sai por São Paulo para fazer arte. Várias paredes das avenidas Radial Leste, 23 de Maio e Paulista têm nosso traço”, diz Ise, morador do bairro do Cambuci, um dos que mais receberam pinturas do grupo Grapixo. “Os desenhos chamaram tanta atenção que o bairro foi incluído no roteiro turístico oficial da cidade”, orgulha-se.

O Grapixo faz, ainda, importante trabalho social com jovens pichadores, para conscientizá-los de que podem melhorar a imagem de São Paulo em vez de deteriorar a cidade. “Entre os participantes do evento, tivemos cinco ex-pichadores”, conta Ise.

Porta aberta

A movimentação dos grafiteiros e o colorido de seus desenhos não passaram despercebidos aos olhos das pessoas que transitaram pela Rua Palmorino Mônaco, durante o final de semana. A CPTM deixou que o tema ficasse por conta dos próprios artistas e eles soltaram a imaginação.

Dois dos grafiteiros alemães presentes ao evento elogiaram o traço criativo do grafite brasileiro. “Aqui, o estilo é mais despojado, os artistas têm mais liberdade de criação e utilizam diferentes técnicas de pintura. Na Alemanha, os jovens artistas se deixam influenciar pela arte dos mais velhos, por isso seu trabalho está mais restrito a um determinado estilo”, reconhece o grafiteiro alemão Zak.

“Adoramos o trabalho dos grafiteiros brasileiros”, diz Ruedi, outro artista alemão, proprietário da empresa de tintas Pro Line, patrocinadora do encontro. Desenvolvida exclusivamente para desenhos de rua, a tinta foi aperfeiçoada pelos próprios grafiteiros. Além de no Brasil, Ruedi patrocina trabalhos em 40 países diferentes. A vinda dele ao evento da CPTM faz parte de um intercâmbio cultural promovido entre grafiteiros alemães e brasileiros. Por conta desse intercâmbio, alguns artistas brasileiros também estiveram na Alemanha.

O paulistano Vitché é um dos que foram conhecer a arte de rua dos germânicos. Grafiteiro desde o início da década de 1990, elogia a iniciativa da CPTM. “Qualquer incentivo para nós é sempre bem-vindo. Precisamos de mais espaços para mostrar nosso trabalho”, afirma. Opinião semelhante tem um dos irmãos artistas conhecidos como Os Gêmeos: “É uma porta a mais que se abre no cenário do grafite paulistano.”

Iniciativa que deu certo

A idéia de grafitar os muros de estações de trens da CPTM surgiu três anos atrás. “Nosso objetivo é aproveitar os quase mil quilômetros de muros que protegem 270 quilômetros de linhas férreas em toda a região metropolitana, promovendo a sua manutenção, incentivando uma atividade social saudável e prestigiando os artistas de rua”, informa Décio Curci, coordenador do projeto e gerente de relações comunitárias e programas corporativos da empresa.

Muitos quilômetros de muros das estações de trem de São Paulo e dos municípios vizinhos de Ferraz de Vasconcelos, Barueri, Jandira, São Caetano, Santo André e Poá foram pintados por grafiteiros, com o apoio de prefeituras, universidades e empresas particulares.

O último trabalho se deu em junho, em um muro de 150 metros da estação Ferraz de Vasconcelos, na linha Brás–Estudantes. Alunos de 14 a 16 anos, da Escola Estadual Professora Landia Santos Batista, mudaram o visual da região com desenhos inspirados no meio ambiente.
Um mês antes, um muro de 20 metros de extensão, por 2,5 metros de altura, da estação Jaraguá, na linha Brás–Francisco Morato, foi grafitado por um grupo de 13 jovens da comunidade, com temas ligados à história do bairro.

Um dos trabalhos que mais se destacou foi apresentado no aniversário da cidade de São Paulo, em 25 de janeiro do ano passado. Cerca de um quilômetro de muro da CPTM, entre as estações Barra Funda e Luz, foi grafitado por um grupo de cem jovens artistas do Projeto Quixote, coordenado pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo. “Não vamos parar por aí. Outros eventos como este virão em breve”, anuncia o coordenador Décio Curci.

Afonso Capelas Jr. – Especial
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)