Comportamento: Programas educativos incentivam integração de gerações

Pesquisa da USP retrata queda de preconeito com terceira idade

seg, 15/03/2004 - 10h11 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Juliana Kiyomura Moreno

Ao compartilhar a mesma praça e o mesmo banco, a aproximação de gerações não só reduz o preconceito etário como possibilita aos jovens o repasse de novas tecnologias e valores comportamentais. Aos idosos, o convívio resulta na transmissão da memória cultural e de uma educação informal para o envelhecimento. ‘No momento em que estereótipos são destruídos, desenvolve-se um processo educacional recíproco que só trará benefícios aos envolvidos’, relata José Carlos Ferrigno, autor do mestrado Co-educação entre Gerações, defendido no Instituto de Psicologia (IP) da USP.

A partir de atividades comuns, valores como solidariedade passam a fazer parte do grupo e, aos poucos, os preconceitos são deixados de lado. A iniciativa Escola Aberta da Terceira Idade, do Serviço Social do Comércio (Sesc) de São Paulo, foi utilizada como guia no estudo de Ferrigno. Práticas corporais, atividades artísticas, musicais, entre outras, davam espaço à discussão e à troca de experiências entre jovens e idosos.

Para isso foram estudadas as unidades do Sesc Consolação, Catanduva, Bauru, Campinas e São José do Rio Preto. ‘Numa das ocasiões, um antigo carpinteiro, que já não tinha tanta destreza manual, participava das aulas apenas pelo prazer de orientar e ouvir os mais novos. A convivência acaba tornando o idoso mais flexível quantos aos julgamentos sexuais e morais trazidos por esta nova geração digital’, salienta o psicólogo.

Ao se depararem com as dificuldades físicas dos idosos, os jovens têm a oportunidade de elaborar estratégias para lidar com a morte. A partir da interação em programas como os de atividades manuais e teatrais, os alunos mais novos passam a valorizar uma vivência mais intensa do presente, o maior contato e respeito com familiares.

Desconstrução de mitos

A tecnologia digital mostra-se como novo interesse por parte da terceira idade. Com isso, o Sesc lançou ano passado o programa Internet Livre, tópico também abordado no mestrado de Ferrigno. ‘Inicialmente percebia-se que a grande procura era por parte de adolescentes, porém, desde a criação do programa, o número de idosos cresceu consideravelmente. Os garotos passaram a ensinar os mais velhos a navegarem pela Internet e se sentiram valorizados por isso’, conta. ‘Esses episódios ajudam a combater o estereótipo de que o jovem é incompetente e irresponsável.’

‘O convívio intergeracional resgata valores e laços culturais, muitas vezes esquecidos atualmente, diminuindo o culto excessivo ao jovem’, salienta o pesquisador. O trabalho de Ferrigno deu origem ao livro Co-educação entre gerações, publicado pela Editora Vozes. Além disso, sua pesquisa está servindo de base para a implantação do programa Sesc Gerações nas unidades da instituição no Estado de São Paulo.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/
V.C.