Comportamento: Pesquisa mostra que jovens universitários mantêm condutas sexuais convencionais

Trabalho foi realizado por psicóloga da UNESP de Araraquara

qua, 07/05/2003 - 11h44 | Do Portal do Governo

Do Jornal da Unesp
Por Genira Chagas

Por maiores que tenham sido os esforços e avanços da Revolução Sexual dos anos 1960 e 1970, o universo da sexualidade ainda permanece um tema em que a desinformação e o conservadorismo predominam. Pelo menos é o que diz a dissertação de mestrado “Sexo na universidade: um estudo sobre a sexualidade e o comportamento sexual do adolescente universitário”, apresentada pela psicóloga Maria Cristina Zampieri, na Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da UNESP, campus de Araraquara.

Diante de indagações sobre primeiro beijo, relação sexual, parceiros, contraceptivos, gravidez e Aids, entre outras, os 1.067 entrevistados, jovens universitários com idade entre 18 e 23 anos, de várias regiões do Estado de São Paulo, revelaram possuir pouca informação, contradizendo uma expectativa baseada nas relações sociais que preconizam a liberdade no plano da sexualidade. “Os jovens mantêm condutas vinculadas às regras convencionais”, diz Maria Cristina, que, em seu doutorado, pretende enfocar a questão da sexualidade especificamente entre alunos da UNESP.

A pesquisa mostra um descompasso entre o relacionamento social erotizado presente na mídia e a maneira como os jovens efetivamente se comportam em suas relações afetivas. A psicóloga acredita que a falta de diálogo entre pais e filhos estaria na origem de muitos desses conflitos. “Sem abertura para discutir os problemas em casa, os jovens têm o hábito de sanar suas dúvidas com os amigos mais ‘experientes’, perpetuando, desta forma, a desinformação”, afirma.

“O estudo tem o mérito de enfocar sem rodeios as práticas sexuais no meio universitário”, completa o também psicólogo Paulo Rennes Marçal Ribeiro, orientador do mestrado e coordenador do Núcleo de Estudos da Sexualidade (Nusex), do Departamento de Psicologia da Educação da FCL.

O estudo verificou que os rapazes demonstram estar buscando valores mais humanos no relacionamento, e as jovens se revelaram mais conservadoras, principalmente em tópicos relacionados à fidelidade. “Essa diferença pode ser atribuída à educação diferenciada destinada a meninos e meninas”, ressalta Maria Cristina.

Para a pesquisadora, ainda prevalecem na formação dos rapazes valores como lutar pelo mercado de trabalho e conquistar a parceira tomando a iniciativa. À mulher, por sua vez, nos próprios jogos infantis, cabem funções como cuidar da casa e educar os filhos. A dissertação também revela que 50% dos jovens entrevistados acreditam que a mulher deve mesmo ser educada de forma diferente do homem. “Décadas após a chamada revolução sexual, isso é realmente surpreendente”, diz a psicóloga.

Ainda de acordo com a pesquisa de Maria Cristina, homens e mulheres concordam que a virgindade, sobretudo a feminina, tenha deixado de ser requisito para o casamento. Porém, quando o assunto é o uso de métodos contraceptivos, os rapazes mantêm uma postura machista, atribuindo às moças a responsabilidade. O argumento masculino contra a idéia da utilização de preservativos é que a solicitação da mulher de que eles utilizem a camisinha revela a falta de confiança dela no parceiro.

“Os rapazes vêem a camisinha apenas como uma prevenção contra a Aids. E nunca acreditam que eles possam ser atingidos pela doença”, comenta Maria Cristina.

A psicóloga também informa que os jovens entrevistados mostraram-se conscientes da necessidade de um debate sobre sexo. Quanto ao papel de jovens e moças no relacionamento, segundo a pesquisa, as opiniões se dividem entre as formas tradicionais de conduta, pelas quais o homem se coloca como aquele que busca a sua parceira livre e abertamente, e as atuais, com a mulher manifestando, com maior liberdade, as suas preferências. “Essa atitude mais ‘agressiva’ está provavelmente relacionada com a posição cada vez mais destacada que as mulheres ocupam na sociedade”, diz Maria Cristina.

Os conflitos apontados pela pesquisa entre atitudes mais conservadoras, como a importância atribuída à fidelidade, e menos convencionais, como uma maior liberdade na troca de parceiros, não atingem, para a psicóloga, moças e rapazes apenas enquanto universitários, mas permanecem durante a vida adulta. “Uma forma de enfrentar esse conflito é que o tema sexualidade passe a ocupar um lugar significativo na grade curricular escolar”, afirma Ribeiro. A pesquisa de Maria Cristina revela indicadores para que isso possa de fato ocorrer. “Aproximadamente 70% dos adolescentes reconhecem haver falta de informação e erotização precoce no discurso da mídia”, aponta. “Acima de tudo, eles se mostram conscientes da necessidade de efetiva orientação sexual.”

Mais informações podem ser obtidas no site www.unesp.br
V.C.