Comportamento: Mães revelam suas reflexões sobre maternidade

Pesquisa da USP analisa narrativas de jovens mães sobre maternidade

seg, 26/05/2003 - 18h32 | Do Portal do Governo

Da Agência USP
Por Leonardo Leomil

Estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra uma reflexão sobre o conjunto de idéias com relação à maternidade, dos elementos que a constituem e suas articulações, levando-se em consideração as influências histórico-sociais. Na pesquisa Ser Mãe: Narrativas de Hoje, a psicóloga Kimy Otsuka Stasevskas busca entender o que se pensa sobre ser mãe no Brasil nos dias atuais.

Em 1999, foram entrevistadas 15 jovens da região do Butantã/ Pinheiros, em São Paulo. A maioria delas, empregadas domésticas que usam o serviço de saúde e creches públicas. A partir de um roteiro de perguntas, em que as mulheres poderiam falar abertamente sobre o tema, Kimy Otsuka procurou conhecer, através da espontaneidade das entrevistas, suas vivências enquanto mães e o sentido a isso atribuído.

As narrativas indicaram os seguintes temas de reflexão da pesquisa: a eternização dos estereótipos maternos e sua idealização, ‘mãe é sempre mãe’, a responsabilidade na educação, as dificuldades advindas das tarefas com o filho e o trabalho, a família, a projeção daquilo que é visto como nocivo à relação mãe/filho.

‘É importante saber o imaginário das pessoas para fazer uma campanha ou um programa de saúde pública mais eficiente’, explica a psicóloga, que, além de ser psicanalista e trabalhar em uma Organização Não Governamental (ONG) com crianças carentes, está desenvolvendo seu doutorado, também em saúde pública, sobre mulheres entre 50 e 60 anos. ‘O objetivo desse trabalho é saber como elas estão se sentindo, considerando seu momento de vida e o contexto atual’.

Pressão ideológica

De acordo com a pesquisa, apesar das mudanças históricas e sociais, há ainda uma grande pressão ideológica para que as mulheres se sintam obrigadas a tornarem-se mães. ‘A sociedade incentiva o desprezo ou piedade por mulheres que não têm filhos e condena aquelas que não os queiram, provocando, na melhor das hipóteses, culpa e frustração’.

Kimy Otsuka prefere não falar em conclusão, pois considera que, quando se trata de relações humanas, falamos de algo dinâmico e permeado por contradições. ‘É preciso que se repense mais profundamente a mentalidade que vê a mulher primordialmente enquanto mãe e que se criem caminhos de aceitação e apoio para o desejo de não ser mãe’.

Ela sugere ainda que seja difundida a idéia de que cuidar do bebê e, depois da criança e do adolescente que este se tornará, pode representar um enfrentamento de dificuldades, mas também um privilégio e um prazer a ser compartilhado entre homens e mulheres. ‘Caso assim o desejem e se disponibilizem, isso merece o apoio concreto da sociedade’, afirma a pesquisadora.

V.C.