Ciência: Pesquisadores do HC e Unesp criam vacinas contra espécies brasileiras de insetos

Antídotos para tratamento de picadas de vespas paulistinha e cassununga, formiga lavapés e marimbondo já são aplicadas em pacientes dos hospitais parc

seg, 08/11/2004 - 12h37 | Do Portal do Governo

No ano passado, sete pessoas morreram vítimas de picadas de insetos, de um total de 880 casos notificados no Estado de São Paulo. Até o final deste ano, de acordo com pesquisadores, haverá 10 mil acidentes no Brasil, embora muitos não sejam informados oficialmente aos órgãos competentes. A estimativa é que em 4% a 12% dessas ocorrências haja necessidade de intenso tratamento de alergias, pois acabam vitimando indivíduos hipersensíveis.

Essas estatísticas motivaram pesquisadores do Instituto de Investigação em Imunologia do Hospital das Clínicas (HC) e da Unesp, campus Rio Claro, a desenvolverem vacinas eficazes no tratamento de alergias causadas pelas principais espécies de insetos. Atualmente, a maior parte do antídoto consumido no País vem de fora, caracterizando uma situação inadequada, pois muitos tipos de animais só existem no Brasil. Aqui, há quase 500 espécies diferentes, enquanto no exterior, o número não passa de 25.

Em meados de 2000, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) criaram um programa para incentivar financeiramente iniciativas na área de saúde. Mais de 500 projetos foram inscritos, provenientes de todas as partes do País. Dos três selecionados, um foi a pesquisa realizada pela Unesp e pelo Instituto de Investigação do HC. Foram investidos cerca de R$ 5 milhões no estudo.

Eficiência de quase 100% – “A Unesp detém o conhecimento bioquímico, fármaco e biologia molecular do veneno dos insetos e o HC, o clínico para o tratamento. As necessidades se complementaram para o início das pesquisas que resultaram na criação das vacinas”, explica o coordenador do Laboratório de Biologia Estrutural da Unesp, campus de Rio Claro, Mário Sérgio Palma, que também é professor de genética molecular.

Ele conta que foi criada uma rede virtual de pesquisa com a cooperação do Instituto de Investigação da Unesp, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, do Instituto Butantã, da Fundação Oswaldo Cruz de Salvador (Fiocruz), da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Minas Gerais. Os estudiosos analisaram, por exemplo, tipos de vespas, que são diferentes de uma região para outra.

Foram selecionadas cerca de 20 espécies de insetos como vespas, abelhas e formigas, característicos do sudeste do País, pois é uma das regiões mais populosas do Brasil e com maior número de acidentes com esses animais. Algumas dessas vacinas como para vespas paulistinha e cassununga, formiga lavapés e marimbondo já são utilizadas pelos hospitais parceiros para aplicação em pacientes. Para que esses antídotos sejam comercializados, explica o professor, deve passar por análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Uma das exigências é que as vacinas tratem de 200 a 300 pessoas com sucesso. Já estamos bem perto desse número”. Com 99% de eficiência, ele acredita que, em um ano, esses produtos atinjam o número de testes exigidos e possam ser comercializados. A produção em larga escala, possivelmente, será no Instituto Butantã.

O pesquisador Palma disse que a Unesp dispõe de veneno bruto (matéria prima para a criação de vacinas) dos principais insetos que atacam a população. No caso das menos procuradas, a fabricação de cada tipo depende da procura. “Temos tecnologia para produzir novas vacinas após 30, 45 dias da solicitação”, ressalta.

Para que as pessoas picadas tenham tratamento com as vacinas é necessário o acompanhamento médico nos hospitais parceiros. Na cidade de São Paulo, a vítima de insetos deve procurar o Serviço de Imunologia Clínica e Alergia do HC, considerado referência da América Latina no diagnóstico e imunização de alergias causadas por insetos.

Ao sinal de picada, o médico deve ser consultado

Quando as pessoas são picadas por insetos, têm a desagradável sensação de urticária na região afetada. “Muitos pacientes não procuram ajuda médica”, destaca o professor Palma. Ele explica que num segundo ou terceiro ataques, as sensações são ainda mais desconfortáveis e podem ocasionar até mesmo choque anafilático e parada respiratória.

No caso de uma ferroada de abelha, por exemplo, se o indivíduo não tiver assistência de um profissional da saúde, os efeitos poderão ser desastrosos. O professor Palma informa que, dependendo da sensibilidade de cada um, o veneno de abelha presente no organismo pode reagir com as proteínas de alguns alimentos consumidos (tomate, arroz, ervilha, milho, pepino, por exemplo), provocando problemas. As reações serão as mais diversas desde inflamação, rinite, dor de cabeça, vômito, diarréia até manifestação de pressão alta ou baixa. A recomendação é sempre procurar os cuidados médicos após a picada, mesmo que não haja reações alérgicas aparentes.

Da Agência Imprensa Oficial
Por Viviane Gomes