Ciência: Modelo matemático desenvolvido na Unicamp avalia desastre ambiental

Trabalho foi tema de doutorado defendido no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica

seg, 30/06/2003 - 12h07 | Do Portal do Governo

Manuel Alves Filho, do Jornal da Unicamp, edição 216


As ações de preservação ambiental passaram a contar, recentemente, com uma importante ferramenta de apoio: a matemática. Um exemplo da aplicação da ciência nessa área é o modelo matemático desenvolvido para a tese de doutorado de Rosane Ferreira de Oliveira, defendida no último 2 de junho junto ao Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp. Por meio de equações, a autora analisou o comportamento de manchas de petróleo e seus derivados no mar. O recurso permite fazer um prognóstico apurado da trajetória das substâncias químicas, favorecendo a adoção de medidas que possam evitar, por exemplo, que elas atinjam uma área rica em biodiversidade.

De acordo com Rosane, o modelo matemático não é uma expressão exata da realidade, mas é capaz de pintar um cenário que possibilite compreendê-la. Entre as variáveis consideradas na equação estão a velocidade do vento, o tipo do óleo e as condições das marés e das correntes marítimas. Feitos os cálculos, a autora antecipa qual será a tendência do comportamento da mancha. “O objetivo da ferramenta não é dizer que a mancha vai chegar num determinado local numa dada hora, mas sim indicar para onde ela estará se dirigindo. É um recurso mais qualitativo do que quantitativo”, explica.

A expectativa de Rosane é que o modelo matemático seja utilizado pelos setores operacionais das empresas que atuam na área petrolífera e pelos organismos responsáveis pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. A legislação brasileira, segundo ela, já exige que esse tipo de ferramenta seja emprega por agências como a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). O problema é que, por ser uma técnica nova, elas ainda não têm pessoal qualificado para analisar se uma modelagem pode mesmo oferecer as respostas que promete.

A pesquisadora Rosane Ferreira de Oliveira: objetivo é indicar para onde a mancha esta se dirigindo
Para elaborar sua tese, Rosane valeu-se principalmente de notícias publicadas pela mídia. Ao tomar conhecimento de um acidente envolvendo vazamento de petróleo e seus derivados no mar, ela buscava junto a várias fontes os dados para montar a equação. Depois, simulava o comportamento das manchas no computador. O cenário virtual, conforme a autora, sempre se manteve próximo do real. “Quando o jornal dizia que a mancha havia avançado dois quilômetros numa determinada direção, o ensaio indicava uma situação similar”, afirma.

Um exemplo de como o modelo matemático pode evitar que o vazamento de petróleo no mar ocasione um desastre ambiental vem de um episódio ocorrido em 2000, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. À época, a Petrobras, causadora do acidente, afirmava que a mancha de óleo não atingiria uma reserva ambiental próxima. Passados alguns dias, aconteceu o que a empresa assegurava que não ocorreria. “Os ensaios que fiz em computador indicavam que a mancha estava, sim, se dirigindo para a reserva. Se a empresa dispusesse da ferramenta, o pior poderia ter sido evitado, pois ela teria tempo para colocar bóias de contenção para segregar o poluente”, relata Rosane.

Conforme a autora da tese, a tendência é que pesquisas como a sua sejam uniformizadas, de modo que gerem um “pacote computacional” para ser usado em planos de contingências. “A idéia é que, em pouco tempo, nós já tenhamos softwares que ofereçam soluções online”.

(LRK)