Casas do Egresso completam um ano com 549 atendimentos

Unidades oferecem psicólogos, assistentes sociais e cursos profissionalizantes para pessoas que deixam o sistema penitenciário

sex, 17/01/2003 - 10h24 | Do Portal do Governo

Vencer preconceitos e arranjar um emprego são as principais dificuldades encontradas por ex-presidiários que buscam se reintegrar à sociedade e viver com dignidade. Muitos percebem que ter boa intenção é requisito fundamental para dar a volta por cima, mas, na prática, nem sempre é o suficiente para serem aceitos novamente.

É o caso de Carlos Augusto Cabral dos Santos, que cumpriu 8 anos de reclusão e deixou a cadeia há cinco meses. Ele relatou que o preconceito fica evidente quando se trata de dar emprego. “Não adianta eu passar em um concurso público ou nas entrevistas de empresas. Quando pedem o atestado de antecedente eu perco a vaga”, constatou.

Com 40 anos de idade, Santos enxergou uma possibilidade de se reinserir no mercado de trabalho por meio da Funap (Fundação Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel), órgão ligado à Secretaria Estadual da Administração Penitenciária, e que tem como missão trabalhar pela recuperação do preso. “Eles me trataram com respeito, como cidadão”, disse, referindo-se à Casa do Egresso, criada há um ano pelo Governo do Estado e gerenciada pela Funap, em parceria com o Ministério da Justiça.

A Casa do Egresso atende, gratuitamente, as pessoas que deixam o sistema penitenciário, oferendo psicólogos para dar segurança e levantar a auto-estima; assistentes sociais para estreitar as relações familiares; assistência jurídica; e cursos profissionalizantes. Atualmente, existem duas unidades da Casa do Egresso localizadas em São Paulo e Ribeirão Preto, que já realizaram 549 atendimentos.

A diretora-executiva da Funap, Berenice Giannella, informou que todos que passaram pelo sistema carcerário podem procurar a Casa. “Não fazemos nenhum tipo de distinção e atendemos naquilo que ele estiver precisando.” Além do trabalho para reinserção, a Casa do Egresso também fornece cesta básica e vale transporte por três meses.

Trabalho e estudo

Carlos dos Santos irá iniciar, em fevereiro deste ano, um curso de Comunicação Visual na Escola Dom Bosco, em Itaquera, viabilizado por uma parceria com a Casa do Egresso. “Também foi com a Casa que eu consegui meu atual emprego.” Ele está trabalhando em uma Frente de Trabalho que pavimenta o calçadão do centro, no município de Carapicuíba. “Primeiro, passei por um treinamento para me readaptar ao convívio com as pessoas. Agora, já estou atuando na obra”, enfatizou. Santos ganha R$ 200 por mês, cesta básica e vale transporte para metrô, ônibus e trem.

Giannella destacou que o trabalho da Funap é realizado para minimizar as dificuldades do egresso. Santos concorda com essa afirmação. “Ajuda muito, pois até mesmo os patrões se sentem mais seguros em contratar quem passou pela Casa. Eles têm uma referência e sabem que são pessoas que querem mesmo trabalhar e se recuperar”, analisou.

Santos confessou que é difícil obter o voto de confiança das pessoas, pois até o da sua família teve de ser conquistado, mas fez um apelo à iniciativa privada e à sociedade. “Meu sonho é conseguir um emprego fixo, com carteira registrada para ter uma certa estabilidade e ajudar a criar os meus filhos. Recuperado eu sei que estou, agora vou lutar por um lugar ao sol”, declarou.

Os endereços são:

Capital – Rua Dr. Vila Nova, 268 – Vila Buarque- (0XX11) 3150-1015
Ribeirão Preto – Rua Manoel de Macedo 2.423 (Parque Ribeirão Preto)

Rogério Vaquero