Câncer: Alerta da Unicamp mobiliza pesquisadores

Aumento da incidência de tipo raro da doença foi identificado por serviço ligado à FCM

qui, 17/07/2003 - 11h31 | Do Portal do Governo

Do Jornal da Unicamp


Por Manuel Alves Filho

O trabalho realizado pelo Registro de Câncer de Base Populacional (RCPB) de Campinas, ligado ao Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médias (FCM) da Unicamp, tem contribuído fortemente para as ações de combate à doença no Brasil e no mundo. Durante as atividades do RCPB, os especialistas notaram, por exemplo, que os números relativos a um tipo específico da doença, que acomete o sistema nervoso central de crianças, apresentavam elevação. O resultado foi repassado, em tom de alerta, para serviços similares no mundo, que constataram o mesmo problema. Graças à iniciativa, foram iniciados estudos para saber o motivo dessa expansão.

De acordo com o chefe do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp, o médico e professor Djalma de Carvalho Moreira Filho, o trabalho do RCBP consiste em coletar, analisar e depois divulgar para a comunidade médica e autoridades públicas os dados consolidados sobre os novos casos de câncer. Ele conta que a descoberta relativa à doença que ataca o sistema nervoso central de crianças foi inicialmente colocada em dúvida pelos registros internacionais.

Providenciada uma auditoria para avaliar se havia ocorrido algum erro durante o levantamento ou processamento dos dados, a dúvida foi descartada. Diante disso, os registros internacionais decidiram verificar seus próprios indicadores e constataram que o mesmo estava acontecendo em várias partes do mundo. “Infelizmente, ainda não sabemos que fator ou fatores que contribuem para o aumento da incidência desse tipo de câncer. Mas o nosso achado estimulou vários especialistas a buscarem essa resposta”, explica o professor Djalma.

Histórico

O episódio relatado acima reflete apenas um aspecto da importância do trabalho executado pelo RCBP. O serviço foi criado no início da década de 90, graças ao esforço de pesquisadores e dirigentes da FCM e ao apoio do Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. O professor Djalma lembra que foi necessário vencer uma série de obstáculos até consolidar o Registro. Mesmo atualmente, quando é apontado como um dos mais eficientes do mundo, ele enfrenta adversidades. Não raro, os pesquisadores são obrigados a tirar dinheiro do próprio bolso para pagar a passagem de ônibus dos funcionários que realizam o trabalho de campo. “Atualmente, estamos concluindo uma parceria com o INCA, que nos permitirá trabalhar com mais tranqüilidade pelos próximos dois anos”, afirma.

O docente da Unicamp destaca, porém, que esse tipo de problema não tem interferido nos resultados alcançados pelo RCBP. Prova disso é que os dados coletados pelo serviço entre 1991 e 1995 foram publicados na mais recente edição do relatório “Incidência de Câncer nos 5 Continentes”, editado pela International Agengy for Research on Câncer (IARC). Além do Registro de Campinas, apenas o de Goiânia representou o Brasil na publicação, que reuniu informações de outras 200 unidades do gênero no mundo.

A qualidade de um Registro de Câncer de Base Populacional é medida por diversos parâmetros. Um deles é a identificação precoce da doença. Se o serviço registra até 90% dos casos antes do óbito, ele é considerado bom. Abaixo disso, o trabalho é tido como insuficiente. O RCBP, conforme o professor Djalma , está dentro dos padrões de qualidade internacionais. Anualmente, o Registro criado pela Unicamp contabiliza aproximadamente 5 mil novos casos anuais de câncer, sendo que um terço deles refere-se a moradores de Campinas. Os demais são de pessoas residentes nos demais municípios que compõem a Região Metropolitana e de outras partes do País.

Os índices apontados pelo RCBP constituem, ainda, importante ferramenta para auxiliar na definição de ações de saúde pública. Além de coletar informações sobre a incidência de câncer junto às unidades de saúde, o serviço promove o cruzamento desses dados com os do Banco de Óbito de Campinas. Assim, é possível estabelecer os coeficientes de letalidade da doença. Ao identificar a origem do paciente, o Registro também estabelece um mapa da enfermidade, possibilitando às autoridades conhecer que locais oferecem mais riscos e, portanto, carecem de maior estrutura para tratamento ou de novos procedimentos para a realização de diagnósticos precoces.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unicamp.br

V.C.