Botânica: ‘Boletim de Botânica’ descreve as 1.067 espécies de plantas de Belo Horizonte

É o primeiro de quatro volumes a serem lançados até o final do próximo ano

qua, 23/04/2003 - 18h29 | Do Portal do Governo

Há 23 anos, no início de dezembro, quatro botânicos e um zoólogo paulistas se apertaram em um Opala marrom e seguiram por estradas esburacadas, sob o calor de quase 40 graus, rumo ao nordeste de Minas Gerais. Aquela era a primeira expedição exploratória do Projeto Flora de Campos Rupestres pelas serras da Cadeia do Espinhaço, uma faixa com 1.100 quilômetros de extensão que ocupa grande parte do Brasil central, principalmente Minas Gerais e Bahia. Uma das regiões escolhidas para levantamento florístico detalhado foi a Serra de Grão-Mogol, então ainda pouco estudada, mas com uma vegetação rica e variada que já se encontrava ameaçada pelo desmatamento e pelo garimpo de diamantes.

Situada a 500 quilômetros ao norte de Belo Horizonte, nos limites do cerrado com a caatinga, a Serra de Grão-Mogol é uma das áreas de mais alto endemismo, ou seja, é depositária de espécies únicas de plantas. Ali predominam os chamados campos rupestres – a vegetação formada por arbustos e plantas rasteiras que nascem entre as rochas ou sobre o solo raso, arenoso, ácido e pobre em nutrientes e matéria orgânica.

Os resultados dessa e das outras 20 viagens que se seguiram – a mais recente delas em março de 2000, numa caminhonete Chevrolet D-20, com tração nas quatro rodas – toma agora a forma de uma edição especial do Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo (USP), a ser publicada no mês que vem em parceria com a Editora Hucitec. É o primeiro de quatro volumes a serem lançados até o final do próximo ano, que traz, em 250 páginas, chaves de identificação, ilustrações e a descrição de 50 famílias de plantas. Só do grupo mais abundante, as plantas com flores ou angiospermas, aparecem as primeiras 34 das 117 famílias.

Coordenada pelo botânico José Rubens Pirani, do Instituto de Biociências da USP, a coleção completa terá cerca de mil páginas e será um inventário ilustrado da peculiar flora dos campos rupestres, cerrados e matas da região, com adaptações morfológicas e fisiológicas próprias – as plantas formam ilhas de vegetação em meio a terrenos rochosos e acidentados, com altitudes variando de 650 a 1.100 metros, numa região de transição entre dois ecossistemas distintos, o cerrado e a caatinga. Quando estiver completo, o trabalho apresentará as estruturas, a distribuição geográfica e as épocas de floração e frutificação dos 472 gêneros e das 1.067 espécies de plantas de Grão-Mogol. Desse total, 60 são endêmicas – vivem apenas nessa serra de chuvas intensas de novembro a março, que serve como divisor de águas entre os rios formadores do São Francisco, que correm a oeste, e os que se dirigem para o Atlântico, a leste.

Francisco Bicudo – Revista Fapesp

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