Biologia: Nova pesquisa da USP pode ajudar no combate de doenças

Estudo foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB)

ter, 24/06/2003 - 9h57 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Pedro Biava

Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, revelou uma nova metodologia para descobrir peptídeos (fragmentos de proteína) biologicamente ativos que podem ser usados no combate a doenças. Com o novo método já foram encontrados 15 peptídeos, a maioria nunca antes descritos. Os resultados indicam que, no futuro, possa se utilizar a metodologia para descobrir móleculas que poderão dar origem à novos medicamentos.

A grande inovação do método utilizado no ICB é a obtenção desses peptídeos a partir do uso de enzimas com sua conformação alterada. Os sítios catalíticos – ponto de encaixe entre a enzima e as moléculas por ela afetadas – dessas enzimas inativas se ligam ao peptídeo mas não são capazes de quebrá-lo, como fariam normalmente. Com isso é possível selecionar o complexo enzima/proteína desejados.

A pesquisa faz parte do doutorado da bióloga Vanessa Rioli, que trabalha há cerca de quatro anos no laboratório do professor Emer Suavinho Ferro, no ICB. ‘O objetivo era conseguir uma metodologia que usasse tecido animal ou vegetal para encontrar os substratos naturais empregados na obtenção de peptídeos’, explica.

Os peptídeos foram extraídos do cérebro de ratos. Vanessa explica a escolha dizendo se tratar de um orgão extremamente rico em neurotransmissores, (mensageiros químicos). Dentre os 15 peptídeos encontrados 13 ainda não haviam sido descritos, o que evidencia o sucesso do novo método.

Hipertensão

O experimento já foi testado com sucesso em ratos e um dos peptídeos encontrados, que recebeu o nome de Hemopressina, foi escolhido para ser mais estudado. Descobriu-se que, nos ratos, a Hemopressina parece ter a capacidade de causar uma redução na pressão arterial muito mais acentuada do que o causado pela Bradicinina, substância peptídica extraída do veneno de Jararaca, usualmente utilizada na medicina para combater a hipertensão. A queda da pressão após a injeção de Hemopressina no sangue dos ratos parece ser resultado de um relaxamento das paredes dos vasos sanguíneos, o que faz com que o sangue flua com menor pressão.

Vanessa ressaltou que ainda não se pode falar em uma nova droga contra a hipertensão: ‘Este é o primeiro passo. Ainda é muito cedo para explicar como isso ocorre, pois o mecanismo de pressão é muito complexo.’ Mesmo sendo cedo para testes em humanos, o futuro parece promissor. É importante lembrar que o método pode ser usado com qualquer enzima, o que permite inúmeras possibilidades de pesquisa. A técnica utilizada no ICB para encontrar a Hemopressina pode ser utilizada para achar outras moléculas com potencial terapêutico, não só do tecido cerebral, mas de qualquer outra região do organismo.
Mais informações podem ser obtidas no site

www.usp.br
V.C.