Astronomia: Satélite permitirá a descoberta de planeta semelhantes à Terra

Satélite francês Corot será lançado em 2005

sex, 09/05/2003 - 11h07 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Antônio Carlos Quinto

Pesquisadores brasileiros serão os responsáveis pelo desenvolvimento de softwares de alta confiabilidade para controle e tratamento dos dados enviados pelo satélite

Cientistas brasileiros e europeus estão trabalhando no projeto de um satélite que será capaz de descobrir novos planetas com as mesmas características da Terra. O Corot, satélite francês que será lançado em 2005, vai medir as variações de luz das estrelas com uma precisão nunca antes atingida. ‘Pela primeira vez na história da humanidade serão descobertos outros planetas sólidos, pequenos e constituídos de minerais, como a Terra’, garante Eduardo Janot Pacheco, professor associado do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

O professor, que coordena a participação brasileira no projeto, conta que o Corot representa um investimento total da ordem de US$ 40 milhões. Segundo ele, a Agência Espacial Brasileira (AEB) já aprovou R$ 130 mil anuais para a operação de uma das bases do satélite para recepção de dados, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), na estação de Natal, no Rio Grande do Norte. A outra estação fica na Espanha. ‘Com a base brasileira a capacidade de observação do satélite aumenta em 50%’, observa Janot.

Além disso, pesquisadores brasileiros serão os responsáveis pelo desenvolvimento de softwares de alta confiabilidade para controle e tratamento dos dados enviados pelo satélite. Para tanto, uma equipe de seis cientistas e engenheiros da Escola Politécnica da USP, da UFRN (Natal) e possivelmente do INPE, deverão passar dois anos na França. ‘Isso será possível com o apoio da AEB e do CNPq’, ressalta o professor.

Janot lembra ainda que o trabalho científico prévio para a construção do Corot também tem a participação brasileira, envolvendo instituições de ensino e pesquisa de Norte a Sul do Brasil. ‘Participam, entre outros, várias Universidades Federais, o Observatório Nacional do Rio de Janeiro, a USP, por intermédio do IAG e da Poli, o INPE e a Universidade Mackenzie’, relata o professor.

Exoplanetas

Dentre as várias funções que serão desempenhadas pelo novo satélite, uma delas será a busca dos chamados ‘exoplanetas’, externos ao nosso sistema solar. Por meio de medidas fotométricas precisas, o Corot poderá realizar observações, em outros sistemas, de estrelas com as mesmas características do Sol. ‘Pelas variações de luz poderemos, por exemplo, verificar a passagem de pequenos planetas sólidos em frente a estas estrelas, que serão reconhecidos de acordo com formas de eclipse pré-estabelecidas’, explica o professor.

Uma outra importante função do satélite será o de possibilitar estudos na área de sismologia estelar. Os ‘estelemotos’ – terremotos das estrelas – são ondas que se propagam no interior dos astros provocando vibrações que são vistas na superfície.. ‘O estudo desse fenômeno nos permitirá saber como são suas estruturas’, avalia Janot.

O professor prevê que a partir da entrada órbita do Corot cerca de 60 mil estrelas poderão ser estudadas. Segundo ele, será possível, inclusive, estabelecer com mais precisão a evolução do Sol. O satélite permitirá que sejam estudadas estrelas que possuem as mesmas características do Sol no que diz respeito a seu passado, presente e futuro. ‘O Sol é uma estrela anã de meia-idade. Teremos condições de observar estruturas semelhantes a ele desde sua infância até o seu futuro, podemos assim dizer’, explica Janot.

Assim, Corot viabilizará o estudo de estrelas gigantes, como será o Sol no futuro. ‘É como prever como será a estrutura do Sol daqui há algum tempo’, define o professor. O novo satélite facilitará então, o conhecimento da evolução solar desde o passado, passando pelos dias atuais, até o futuro com base em astros semelhantes, pré-escolhidos. ‘O Sol ainda está em evolução. Daqui a alguns bilhões de anos ele se dilatará e engolirá os planetas mais próximos. Daí a importância de conhecermos bem sua estrutura por meio da sismologia estelar’, justifica Janot.

O projeto, iniciado em 2001, conta com a participação da França, Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha e Itália, além da Agência Espacial Européia. A conclusão está prevista para o final de 2004 e o Corot deverá ser lançado da Guiana, no Norte da América do Sul já no início de 2005. O projeto do novo satélite pode ser acessado na internet pelo endereço www.usp.br/agen

V.C.