Segue a íntegra do artigo do governador Geraldo Alckmin, publicado no jornal Folha de São Paulo, nesta quarta-feira, dia 6, data em que se completa um ano do falecimento do governador Mário Covas:
‘Um Ano sem Mário Covas‘
‘Há um ano a nação brasileira comovia-se com o fim da heróica e dolorosa resistência do governador Mário Covas em sua luta não apenas para viver um pouco mais, mas, principalmente, para ainda fazer muito mais por São Paulo e pelo Brasil.
Lá se foi o mestre das raras virtudes que transformam homens públicos em estadistas. Suas lições, porém, ficaram impregnadas não só no que ele construiu e deixou planejado, mas também em tudo que se fez e se faz, graças à recuperação moral e financeira deste Estado, que ele promoveu com seriedade, coragem e obstinação.
Ao equilibrar as contas do Tesouro paulista e revolucionar conceitos de administração, Mário Covas recolocou nos trilhos e deu mais força à locomotiva que sempre impulsionou e impulsiona a Federação brasileira. É impossível imaginar que nosso país pudesse superar os terríveis efeitos das graves crises que o mundo enfrentou nos últimos anos, se São Paulo permanecesse imobilizado em um atoleiro de dívidas sem solução.
Não seria necessário mais que essa gigantesca obra de recuperação da capacidade de o governo paulista pagar suas contas e retomar investimentos para garantir a Mário Covas um lugar de máxima importância entre todos os governantes que o Brasil já teve. Mas Covas foi além.
Como mestre que ensinava pelos exemplos e não com teorias, anos antes de se falar em Lei de Responsabilidade Fiscal ele a implantou no Estado de São Paulo, ao baixar a ordem-curta, seca e obedecida à risca de que o governo não iria gastar mais do que arrecadava. Era o começo da luta pelo ‘déficit zero’, alcançado já em 1996.
Claro que essa ordem não poderia ser bem recebida em um país acostumado com a tradicional prática de governantes empurrarem dívidas para seus sucessores. Os que menos criticavam a medida diziam que ela traduzia apenas preocupação com a economia, deixando de lado o justo clamor popular por obras de caráter social.
No entanto o que se viu foi algo inteiramente diferente. Foram as contas em dia -obtidas com privatizações, concessões de rodovias, enxugamento da máquina administrativa e eliminação do empreguismo- que permitiram ao governo paulista realizar o maior conjunto de obras sociais que o Brasil já viu.
São obras que vão das 160 mil moradias entregues à população de baixa renda, dos 13 grandes hospitais -que deixaram de ser esqueletos de concreto para atender milhares de pessoas com equipamentos e especialistas do mais alto nível-, das centenas de escolas construídas e de um sistema educacional inteiramente renovado, dos milhares de quilômetros de redes de água e esgoto que se espalharam por todo o Estado até coisas simples, como os restaurantes Bom Prato, que oferecem refeições sadias e completas por apenas R$ 1.
Isso sem falar das grandes obras, que criaram milhares de empregos e ampliam condições para um desenvolvimento ainda mais firme e acelerado de todo o Estado. Aí estão, entre outras, a segunda pista da Imigrantes, a ser entregue até o fim do ano, o Rodoanel Mário Covas, o prolongamento de 76 km da Bandeirantes, a duplicação de centenas de quilômetros de rodovias e os 9,2 km da quinta linha do Metrô, inteiramente construídos nesta administração.
Paralelamente, com algumas mudanças na área fiscal, Covas deu exemplo de que é possível reduzir a carga de impostos e incentivar quem cria novos postos de trabalho, sem incorrer na predatória ‘guerra fiscal’ nem criar confusão e privilégios no sistema tributário. Graças a isso, São Paulo pôde modernizar seus meios de produção e atrair investimentos, como nunca havia atraído antes, mesmo atravessando um período em que a economia internacional enfrentava -e ainda enfrenta- uma sequência de crises intermináveis.
Restauração da moralidade nos negócios públicos, recuperação e modernização do Estado, obras gigantescas de grande impacto social; será que estas são as mais importantes marcas deixadas por Mário Covas? Não. Às obras ele mesmo não dava muita importância, conforme afirmou na última inauguração a que esteve presente: ‘Obra a gente não comemora. Obra é obrigação. Ela tem de ser feita. O grande mérito é discipliná-la, de maneira que ela faça o maior efeito. Você tem é de cultivar valores, valorizar princípios’.
Valorizar princípios, notadamente os de caráter. Esta é grande lição, é a marca mais importante, a lembrança mais firme que o mestre Mário Covas nos deixou. E, entre esses princípios, certamente está o de sempre lutar, com ética, ânimo e coragem, para transpor obstáculos, por mais difíceis que eles possam ser. Isso ele sintetizou no discurso de posse de seu segundo mandato, ainda sentindo as dores e traumas de uma delicada cirurgia: ‘Adversidades? Não me venham falar de adversidades. A vida me ensinou que, diante delas, só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer!’.
Mário Covas nos ensinou a lição que a vida lhe ensinou: sempre teremos grandes problemas. Mas, diante deles, sem qualquer temor, vamos continuar enfrentando, combatendo e vencendo.’
Geraldo Alckmin
Governador do Estado de São Paulo.
Missa
O Governador Geraldo Alckmin participa de missa pelo primeiro ano de falecimento do Governador Mário Covas, nesta quarta-feira, dia 6, às 20 horas, na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rua Honório Líbero, 90 – Jardim Paulistano.