Arte: Estudo pioneiro no Brasil analisa a obra do xilografista alemão Dürer

Obra está guardada no Rio de Janeiro

qui, 16/01/2003 - 16h15 | Do Portal do Governo

Quem disse que as revistas adormecidas nos consultórios dos dentistas não têm outra utilidade a não ser entreter o próximo paciente? A historiadora de arte Sandra Daige Antunes Hitner tem bons argumentos para derrubar essa tese. Foi folheando um desses exemplares que um amigo seu deparou com uma reportagem sobre as gravuras inexploradas de Albrecht Dürer (1471-1528) no acervo da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e comentou o fato com ela. Percorrer a obra do artista influenciado pelo Renascimento que modificou a estética alemã era missão talhada para essa pesquisadora, apaixonada pelos nórdicos medievais. Nascia aí o projeto de doutorado, feito na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e financiado pela FAPESP.

Ele consistia em buscar a autenticidade e a antiguidade da obra do artista alemão, a maior vítima de plágios da história das artes e o xilografista mais cobiçado do mundo. Em seu mestrado, Sandra já tinha sido a primeira pesquisadora no país a investigar um patrimônio artístico com métodos de laboratório usados por restauradores, como raios X, infravermelho, ultravioleta, luz tangencial e análise química da tinta e da madeira. Para se ter uma idéia da importância de sua pesquisa, só obras periciadas dessa maneira podem figurar em catálogos internacionais, uma vez que dispõem de um laudo comprovador. No mestrado, ela havia feito esse trabalho com a obra do primitivo flamengo Hieronymus Bosch do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Quando escolheu Dürer, a pesquisadora pensou estar diante de uma empreitada fácil. As grandes dificuldades já haviam sido vencidas com a pesquisa de Bosch, em que tudo era novidade – Sandra fez estágios em Bruxelas, Bélgica, para aprender a examinar os resultados advindos do uso dos métodos na busca da autenticidade de obras. Qual então não foi sua surpresa quando deparou com o patrimônio carioca, proveniente da Real Biblioteca portuguesa. O acervo passava décadas como vítima da ignorância de seus guardiões.

De acordo com um relatório explícito na tese da pesquisadora, de autoria do diretor da Biblioteca Nacional do Rio em 1876, José Zephirino Brum, as obras de Dürer estavam em péssimo estado, depositadas em gavetas, carcomidas por bichos, em ambiente não climatizado, desgastadas pela maresia. ‘Imaginei que fosse encontrar só coisa boa, afinal era o acervo do rei’, conta Sandra. Definitivamente, não foi o que aconteceu. Entre as xilogravuras analisadas, há muitas com baixa qualidade artística.

Débora Crivellaro

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