Alckmin debate com empresários plano para a recuperação de jovens da Febem

Ensino profissionalizante, recuperação de laços afetivos, qualificação dos funcionários e emprego para os jovens são os principais focos

ter, 03/02/2004 - 15h42 | Do Portal do Governo


A recuperação dos jovens em conflito com a lei internados na Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) terá como principais focos a educação para o trabalho, a recuperação dos laços afetivos dos adolescentes com as famílias, a qualificação dos profissionais que trabalham na instituição e a parceirização.

Na manhã desta terça-feira, dia 3, o governador Geraldo Alckmin recebeu, no Palácio dos Bandeirantes, um grupo de 38 empresários para a apresentação do novo presidente da Febem, Marcos Monteiro, e para discutir planos para a instituição. Foram debatidos temas como profissionalização e empregabilidade dos adolescentes internados na instituição, questões pedagógicas e a participação da sociedade civil organizada, empresários e Terceiro Setor nos programas de recuperação dos jovens da Febem.

“Acho que o caminho é esse. Chamar a sociedade civil a ser parceira nesse trabalho. A questão do adolescente em conflito com a lei não é só do Governo. É também da família, das escolas, da igreja, da sociedade. É preciso estar todo mundo motivado para fazer uma grande mudança”, afirmou o governador.

Alckmin informou que, no ano passado, foram desinternados 593 adolescentes. Todos eles passaram por cursos profissionalizantes e saíram da Febem empregados, dentro dos programas de parceria da Febem com empresas da iniciativa privada ou do próprio Governo. “Esse é o grande salto de qualidade”, enfatizou. O governador destacou que dos 53 jovens que estão trabalhando na rede de fast food McDonald’s, o menor índice de performance foi de 96%. “O ex-interno da Febem está se segurando nessa segunda chance”, relatou.

Ele lembrou ainda que, em 2003, todos os compromissos foram cumpridos, como o fim da superlotação da Unidade de Atendimento Inicial (UAI) do Brás e o fechamento de duas unidades de Franco da Rocha. Neste início de ano, serão entregues seis novas unidades da Febem, uma em São José dos Campos, uma em Ribeirão Preto e quatro nas regiões da Capital e Grande São Paulo.

De acordo com Alckmin, as novas unidades já devem começar a operar no sistema de parceirização, no qual a Organização Social que gerenciar a unidade ficará responsável também pela contratação e qualificação dos funcionários. Nas unidades mais antigas, uma parte significativa dos funcionários poderá ser aproveitada no próprio parceiro. “Quando se faz um contrato de gestão, a Organização Social contrata gente, então poderá aproveitá-los”, explicou.

O Governo do Estado também pretende oferecer ao Judiciário outras alternativas além da privação de liberdade, como a liberdade assistida, a semi-liberdade e o novo modelo do Hipódromo do Brás, no qual o adolescente passa o dia todo no local estudando, se profissionalizando e em atividades de esporte e lazer e, à noite, fica com a família.

De acordo com Alckmin, a reincidência entre os jovens que saem da Febem está diminuindo. “Mas é preciso agir nas causas do problema do adolescente em conflito com a lei, como as questões familiares, empregabilidade, uso de drogas e álcool. A outra questão é trabalhar para cumprir o papel da Febem, que é reinserção sócio-educativa, reinserir o adolescente na sociedade. E isso não é fácil”, disse.

Para o presidente da Nestlé, Ivan Zurita, o trabalho realizado na instituição é muito diferente da imagem negativa que ficou associada ao nome Febem. “O trabalho que tem lá dentro não corresponde com a fama que tem o nome. O primeiro ponto que acho importante é definir o conceito. Para mim, temos de mudar uma imagem de quase cárcere para uma imagem de Febem-escola de formação e adaptação de jovens. Deveríamos mudar o nome de Febem para Faz Bem”, disse.

Ele informou que o grupo Nestlé, que já participa do programa Jovem Cidadão: Meu Primeiro Trabalho, oferecendo estágio remunerado para cerca de dois mil jovens de escolas públicas estaduais, também pretende oferecer empregos aos adolescentes da Febem, mas que isso depende do mercado. “Se existir uma reação do mercado, se existir realmente o crescimento que todos esperam, isso tudo facilita. Não existe projeto que dê certo, em termos de trabalho, se o mercado não cresce”, enfatizou.

De acordo com o secretário da Educação, Gabriel Chalita, dentro de um mês deverá ser agendada nova reunião para avançar no plano de unidades parceirizadas. Antes disso, os empresários deverão visitar unidades da Febem.

Após a reunião com o governador, os empresários foram convidados a participar de um café da manhã preparado por internos do Complexo do Brás. “O que a gente quer é uma oportunidade. Estamos mostrando que estamos aprendendo e acho que merecemos uma oportunidade para melhorar cada vez mais. A Febem é um aprendizado”, disse um dos internos, mostrando os quitutes que havia preparado com outros jovens do Complexo.

Cíntia Cury