Agronegócios: IEA analisa impacto de aumentos no custo das operações agrícolas

Ocorreram variações nos preços dos combustíveis e lubrificantes observados no período de 12 meses

ter, 13/05/2003 - 21h19 | Do Portal do Governo

O ano de 2002 e início de 2003 foram bastante instáveis do ponto de vista econômico. Fatores externos e internos fizeram oscilar fortemente o mercado de ações, de câmbio e de commodities como é o caso do petróleo, com generalizada elevação de preços internos.

Levando-se em conta tal situação, foram levantadas informações de preços de combustíveis e derivados e de máquinas e implementos agrícolas nos postos de abastecimento e das revendedoras, ambos localizados no Estado de São Paulo, referentes ao período. Com esses preços, os custos horários das máquinas foram atualizados, de maneira a analisar o impacto do aumento dos preços bem como seus reflexos no custo de produção das culturas de algodão, feijão, milho e soja.

Na metodologia de elaboração do custo horário das máquinas, utilizado pelo IEA, são considerados, além do óleo diesel, os itens de manutenção preventiva, como óleos lubrificantes, filtros e graxas, segundo recomendações do fabricante. Não se leva em conta neste custo as despesas com o operador, a depreciação e os juros sobre o capital.

As matrizes de custo operacional total levantadas pelo IEA são constituídas de: título, operações, empreita, material consumido e outros itens que englobam juros de financiamento, encargos e depreciação. As operações compreendem os gastos com a mão-de-obra e as operações mecanizadas, tais como aração e gradeação. Para o presente estudo, destacou-se da matriz somente essas operações mecanizadas das culturas selecionadas.

Combustíveis e lubrificantes

Ocorreram grandes variações nos preços dos combustíveis e lubrificantes observados no período de 12 meses (março de 2002 a março de 2003). Os combustíveis tiveram aumento médio de 58,49%, superando largamente a inflação, medida pelo IGP-DI, de 44,88%.

O óleo diesel, combustível mais utilizado na agropecuária, segundo dados coletados, aumentou 77,01%. O preço da gasolina comum teve elevação de 45,98%; o da aditivada, de 42,50%; e o do álcool, de 68,48%.

Os aumentos nos preços dos óleos lubrificantes, necessários à manutenção preventiva de caminhões, tratores e colhedoras, variaram de 31,82% (para aqueles utilizados nas transmissão e hidráulico) a 82,15% (óleos lubrificantes para carter dos motores). O aumento em termos médios ficou próximo da majoração dos combustíveis (58,58%).

Máquinas e implementos

No caso das máquinas agrícolas, os acréscimos nos preços dos tratores de potência entre 60 e 80cv foram em média 30,74%; nos de potência entre 81 e 100cv, 38,33%; e naqueles de potência entre 101cv e 120cv, 59,05%. Infere-se que estes, dotados de maior tecnologia com componentes importados em maior grau, tiveram reajustes maiores.

Já as colhedoras de maior potência tiveram os preços reajustados em índice mais elevado. Deve-se levar em conta que estes tratores e colhedoras com tecnologia mais avançada sofreram maior influência da variação do câmbio, uma vez que seus componentes são importados.

Os preços de implementos tradicionais apresentaram pequenos aumentos e alguns deles até caíram. Porém, os implementos modernos, tais como os de plantio direto, tiveram significativos aumentos, embora em média tenham se situado bem abaixo dos de combustíveis e máquinas (30,38%).

Tal como o esperado, esses aumentos refletiram-se diretamente no custo horário de operação dessas máquinas. Assim, o aumento médio foi de 66,67% nos tratores de roda e de 61,29% nas colhedoras.
Essas elevações no custo horário foram aplicadas nas matrizes do custo de produção de algumas culturas, apenas no item das operações que envolvem o uso de máquinas (tabela 4).

Os resultados dessa substituição nas operações mostraram que os custos da operações mecanizadas resultaram em aumentos que variaram de 56,69% na cultura do milho de verão, na região do Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Itapetininga, a 64,35% (o mais alto custo) na cultura do algodão, plantio convencional (PC) na região (EDR) de São João da Boa Vista.

O feijão das águas (PC), no EDR de Avaré, teve aumento próximo a 63% nas operações, considerado demasiadamente alto pelos produtores numa economia dita estabilizada. O milho e a soja tiveram variação em torno de 60 a 61%, também considerada alta.

Conclusões

A instabilidade econômica, observada neste período, provocou aumentos em vários setores da economia, como combustíveis e derivados, máquinas e implementos, peças, adubos, corretivos, defensivos, custo de transporte de insumos e de produção, mão-de-obra, assistência técnica e de serviços comprados.

Todos esses aumentos afetaram significativamente o setor agrícola, levando à maior necessidade do capital de giro e do volume de financiamento de custeio das culturas. Isto inviabiliza o orçamento e o planejamento financeiro que, não raras vezes, tem que se socorrer dos empréstimos fora do crédito rural, a juros elevados, o que encarece ainda mais o custo de produção.

O empresário agrícola geralmente não consegue repassar esses aumentos de preços dos insumos, uma vez que os preços dos produtos são determinados pelo mercado. Então, corre o risco de ter que absorver o diferencial entre o custo e o preço, comprometendo a renda e descapitalizando a propriedade. A repetição desse fato, por anos seguidos, tem levado produtores à insolvência.

Clique aqui para conferir todas as tabelas da pesquisa.

Hiroshige Okawa e Alfredo de Almeida Bessa Junior do
Instituto de Economia Agrícola
C.A