Agronegócios: IAC realiza o I Simpósio Internacional sobre Qualidade do Café

A qualidade vista sob óticas diversas , por profissionais de toda a cadeia produtiva

seg, 24/11/2003 - 20h49 | Do Portal do Governo

Que qualidade é apreciada por todo mundo ninguém discute. É bom para quem consome e melhor para quem vende, já que ela é um dos impulsionadores do preço. E se o que é bom tem que ser mostrado, por que não contar aos quatro cantos do país — e também do mundo — que o Brasil tem todas as condições naturais e tecnológicas de produzir cafés de dar água na boca do cliente e fazer brilhar os olhos do setor produtivo.

A qualidade vem sendo estimulada como meio de alavancar o agronegócio cafeeiro, conquistar novos consumidores internos e o mercado externo. Para reunir representantes dos vários segmentos da cadeia produtiva de café e discutir a qualidade em cada uma das etapas, o Instituto Agronômico (IAC) irá realizar o I Simpósio Internacional sobre Qualidade de Café, de 2 a 4 de dezembro de 2003, em Campinas. Com esse evento pretende-se ainda definir uma orientação para as atividades de pesquisa e do comércio, por meio do debate entre pessoas que têm vínculo com os diversos elos da cadeia.

Profissionais de agronomia, industrialização e comércio estarão reunidos no IAC para identificar fontes de informações necessárias frente ao surgimento de problemas e desafios no agronegócio cafeeiro. O evento será uma oportunidade para levar informações da pesquisa para os usuários, sejam eles produtores, industriais ou comerciantes. O encontro também permitirá aos cientistas identificarem as necessidades do mercado e da indústria, proporcionando um direcionamento da pesquisa.

De acordo com os pesquisadores do IAC, Terezinha de Jesus G. Salva e Oliveiro Guerreiro Filho, o Simpósio irá abordar toda a cadeia produtiva do café a fim de contribuir para a qualidade desse setor em âmbito nacional. Especialistas nacionais e estrangeiros trarão informações para valorizar esse agronegócio que no ano passado atingiu uma safra de 48,4 milhões de sacas e a marca histórica de 28,1 milhões de sacas exportadas, gerando receita de 1,4 bilhão de dólares.

O debate em torno da qualidade tem orientação definida: fazer o café de qualidade brasileiro conquistar espaço no mundo. Maior produtor e exportador mundial de café, lá fora o Brasil ainda tem a imagem de quantidade e não de qualidade. Nesse aspecto, o I Simpósio Internacional de Qualidade do Café tem sua importância redobrada para mostrar que o café brasileiro tem qualidade sim. E mais: o Brasil é imbatível em termos de produção de café tanto no que tange a recursos naturais, como em relação aos recursos tecnológicos.

A fim de cercar a qualidade de todos os lados, o I Simpósio irá tratar de aspectos agronômicos, industriais e comerciais. Sessenta e dois especialistas, entre palestrantes e debatedores, abordarão os temas que irão compor os três dias de debates acerca de toda a cadeia produtiva — do campo ao comércio.

O público deverá ser composto por especialistas de instituições de pesquisa, produtores e agentes da indústria e do comércio de café do Brasil e do exterior. Na avaliação da pesquisadora Terezinha Salva, as palestras fornecerão subsídios aos participantes para que eles possam analisar os problemas existentes, considerando o seu micro-sistema. Ou seja, o produtor, industrial ou comerciante poderá aplicar os ensinamentos transmitidos nas palestras em sua atividade, adaptando as informações às demandas existentes em sua etapa de produção e em sua localidade.

O I Simpósio de Qualidade do Café será uma oportunidade para um grande público poder saber o que a ciência está fazendo para a qualidade do café. ‘Vamos inserir o pequeno produtor no grande mundo e desafiá-lo a questionar a questão da qualidade’, afirma a pesquisadora, Terezinha Salva.

Ampliar mercados

Em 2002, de 21 milhões de sacas exportadas, 70 mil foram de café torrado e moído, 2,5 milhões de sacas de café solúvel e 500 mil sacas de café especial. A qualidade vem sendo vista como um passaporte para abocanhar mercado externo e conquistar consumidores internamente. Entre janeiro e outubro deste ano, as exportações brasileiras de café verde e solúvel cresceram 15,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

Atualmente, 13,5 milhões de sacas são consumidas no Brasil, segundo maior consumidor, que tem a meta de atingir 16 milhões até 2005. Os Estados Unidos, primeiros colocados no consumo, atingem 18 milhões de sacas anualmente. Para aumentar o consumo, o café tem que atrair novos consumidores e conquistar a fidelidade dos já existentes. Para isso, a bebida precisa ser deliciosamente atraente, caso contrário o cliente a substitui por outras e aí o gosto ruim na vida do cliente faz o setor amargar baixas rendas.

Por essas razões, nos últimos anos tem sido constante o aperfeiçoamento da qualidade do café no Brasil. De produtores a exportadores, todos os integrantes da cadeia assistiram à valorização do produto de qualidade e a agregação de valores de cafés gourmet e solúveis. Ações da indústria paulista e das iniciativas governamentais adotadas em São Paulo, como o Programa Selo de Qualidade ‘Produto de São Paulo’, criado pela SAA, vêm contribuindo pelo aumento da qualidade do produto. Na avaliação do pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Luis Moricochi, os concursos de cafés especiais têm ajudado a melhorar a imagem do café brasileiro no exterior. Ele conta que há cerca de um ano, em um leilão foi arrematada uma saca de café por U$1.700,00, quando o valor era de R$ 170,00, o que mostra a qualidade do café brasileiro.

Uníssono no setor é a falta de investimentos em marketing. Moricochi aponta o fato a Colômbia investir cerca de 30 milhões de dólares por ano, enquanto no Brasil esse valor é irrisório. O pesquisador do IAC, Oliveiro Guerreiro Filho, espera que o I Simpósio possa constituir uma ferramenta para o marketing, fornecendo informações técnicas sobre qualidade.

A valorização da qualidade vem ganhando espaço e selecionando os protagonistas do universo do café. O I Simpósio Internacional sobre Qualidade do Café se propõe também a puxar esses agentes para cima, contribuindo para o fortalecimento do agronegócio café.

Berço da pesquisa cafeeira

O IAC, órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tem tradição no melhoramento genético de café,também com vistas para a qualidade. O pesquisador Oliveiro Guerreiro Filho destaca que os resultados desse trabalho são vistos nos concursos de qualidade de café, em que as variedades IAC conquistam as melhores posições. ‘Qualidade é uma demanda do mercado mundial e o IAC é uma instituição com competência no seu atendimento’, afirma Terezinha Salva.

Por meio de um Programa de Melhoramento do Cafeeiro, implantado em 1932, o IAC tem selecionado, desenvolvido e lançado inúmeras cultivares de café com características de alta qualidade e que há muitos anos é a base da cafeicultura brasileira, representando mais de 90% do nosso parque cafeeiro. Mas além das fronteiras verde e amarela, a base da cafeicultura de outros países produtores também está calcada em material brasileiro selecionado pelo IAC — a cultivar Caturra.

Das 66 variedades desenvolvidas no IAC no decorrer de 70 anos de pesquisas, as principais são: Bourbon Vermelho e Amarelo, Caturra Vermelho e Amarelo, Mundo Novo, Acaiá, Catuaí Vermelho e Amarelo, Icatu Vermelho e Amarelo, Icatu Precoce, Obatã, Tupi e Ouro Verde. Essas variedades têm potencial para produzir cafés em quantidade e qualidade tanto para grandes cafeicultores como para pequenos.

Esse imenso trabalho de pesquisa se reflete hoje nos Concursos de Qualidade de Café realizados pelas mais diferentes entidades. Em 2002, o primeiro classificado no Concurso de Café de Qualidade de São Paulo ‘Prêmio Aldir Alves Teixeira’ foi a cultivar Obatã, lançada oficialmente pelo IAC em 2000.

No Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, promovido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais, as cultivares utilizadas nas amostras vencedoras são IAC. No Prêmio Nacional Cafés do Brasil houve 31 lotes com notas acima de 80. Desse total, 28 cultivares são do IAC, com destaque para o café Catuaí, com 19 lotes. No Prêmio Especial Gold Cup of Excellence, cinco lotes tiveram notas acima de 90 na avaliação de Júri Internacional —todos são cultivares IAC. No Prêmio Cup of Excellence, de 23 lotes com notas acima de 80, 19 são cultivares IAC.

O processo predominante de preparo foi o cereja descascado (CD) que teve a sua introdução na cafeicultura no início dos anos 90. O que muitos não sabem é que esse tipo de processamento foi desenvolvido, na década de 50, por pesquisadores do IAC.

Considerando o fator qualidade como aspecto primordial para se agregar valor ao produto final, o Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Café ‘Alcides Carvalho’ do IAC pretende com este evento promover a interação de profissionais de diferentes segmentos do agronegócio como estratégia para a valorização dos cafés do Brasil.