Agronegócio: Pesquisa IAC sacia sede de tecnologia no cultivo de coco

IAC disponibiliza recomendação de adubação para coco no Estado de São Paulo

qui, 05/05/2005 - 15h31 | Do Portal do Governo

Os cultivos de coco extrapolaram áreas do Nordeste e chegaram a São Paulo, fazendo os produtores embarcarem nesse novo destino do agronegócio, apesar da falta de bagagem de conhecimentos. Nesse movimento de mercado, a sede de tecnologia dos agricultores contrasta com o desejo dos consumidores. A busca por uma alimentação mais saudável ou por um refresco nos momentos de calor ou após exercícios físicos — essas situações estão entre as causas de aumento da procura pela água de coco verde. Todos esses fatores somados esquentam o comércio desse produto rico em vitaminas e sais minerais, aumentando as áreas com cultivo do coco no Estado de São Paulo. De 1993 a 2003, a área paulista destinada ao plantio da fruta saltou de cem para 2.625 hectares. Apesar desse crescimento de 26 vezes ainda não havia uma recomendação de adubação para o cultivo de coco em São Paulo e toda a atividade vem sendo feita com base nas orientações adotadas no Nordeste.

Para saciar a sede de tecnologia e ajudar o produtor a resolver essa deficiência, o Instituto Agronômico (IAC) concluiu uma pesquisa que resultou na elaboração de uma recomendação de adubação para a cultura do coco no Estado. Quem adquiriu o Boletim 100 do IAC, no formato eletrônico, poderá atualizá-lo gratuitamente, obtendo a tabela de adubação de coco no site do IAC. A atualização poderá ser feita a partir do dia 16 de maio de 2005.

O pesquisador do IAC, Luiz Antonio Junqueira Teixeira, explica que o cultivo de coqueiro em São Paulo teve grande expansão nos últimos anos em virtude do consumo de água de coco. Para essa finalidade, são cultivados coqueiros da variedade anã. “Mas a cultura é nova por aqui e os plantios foram feitos com base nas recomendações decorrentes da experiência do Nordeste”, diz. Isso pode resultar em vários equívocos porque a adubação deve ser adaptada às variedades cultivadas e condições de solo e clima de cada região.

“Sem uma recomendação de adubação adequada há risco de produção menor e de degradação do solo”, afirma o pesquisador. Isso porque após alguns anos de cultivo sem reposição dos nutrientes extraídos pelas plantas a produção declina devido à exaustão das reservas do solo.

Teixeira explica que a adubação e a calagem (processo de correção de acidez do solo) são os fatores de produção que apresentam melhor relação custo-benefício, isto é, com menor investimento tem-se bons rendimentos. Os gastos com adubação giram em torno de 15% dos custos de produção. Esse investimento no momento certo e na proporção adequada é fundamental para manter o negócio, pois a ampliação da área e da concorrência reduziu as margens de lucro, situação que requer maior eficiência no manejo da cultura. Teixeira ressalta que a recomendação é importante porque boa parte dos solos paulistas é deficiente em potássio, elemento bastante exigido pela cultura do coco. “Se não corrigir, vai degradar o solo e, a médio prazo, pode inviabilizar o cultivo”, afirma o pesquisador do IAC.

Com o apoio da FAPESP e em parceria com a UNESP-Ilha Solteira e um produtor de Pereira Barreto, o IAC, órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizou um experimento em campo que subsidiou a elaboração de uma tabela de adubação para a cultura. “O que não existia até agora!”, destaca.

O pesquisador explica que essa é a primeira recomendação de adubação para o cultivo de coco em São Paulo e que ela poderá, com o tempo, ser ajustada em função de novos resultados de pesquisa.

Recomendação de adubação

Assim como um exame de sangue aponta algumas deficiências existentes em uma pessoa, a análise de solo indica carências ou excessos de nutrientes e também informa outras características importantes, que irão orientar a correção a ser feita. Apesar de simplista, essa comparação mostra a importância da análise de solo, ponto de partida para o procedimento da adubação. O pesquisador ressalta que a recomendação para adubação é específica para cada área, por isso tudo começa na análise de solo. Essa característica explica alguns dos equívocos resultantes da adoção de critérios nordestinos em campos paulistas.

A recomendação resultante da pesquisa do IAC — que teve início em 2000 —segue o modelo do Boletim 100 do Instituto Agronômico e considera os resultados da análise de solo e a produtividade esperada. O procedimento é dividido em duas partes: adubação de formação, destinada à formação de plantas capazes de produzir frutos de qualidade, e a adubação de produção, que visa à reposição dos nutrientes extraídos pela cultura. A adubação de formação é feita até os cinco anos da planta com base na necessidade de calcário, nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes. A adubação de produção é feita durante toda a vida produtiva das plantas e envolve a aplicação de nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes. A recomendação IAC indica, também, o parcelamento da adubação, que consiste em fracionar a dose recomendada para melhor atender às necessidades da planta.

Tanto o excesso como a falta de adubos são prejudiciais ao agronegócio e ao ambiente. “Os produtores muitas vezes adubam pensando apenas na produção, sem preocupação com a sustentabilidade do cultivo e, não raro, aplicam menos adubo do que o sistema solo-planta necessita”, explica Teixeira. A sub-adubação, segundo o pesquisador, pode causar o esgotamento das reservas do solo, o que impede respostas da cultura a outros procedimentos agrícolas, como irrigação. “Se faltar potássio, não adianta irrigar”, exemplifica.

Por isso, esse resultado de pesquisa IAC tem grande importância para o agronegócio, já que o uso racional dos fertilizantes é uma das formas mais eficientes para aumentar os resultados econômicos de um cultivo. De acordo com Luiz Teixeira, além de melhorar a quantidade e a qualidade dos frutos, ao adotar práticas corretas de adubação, o produtor não desperdiça recursos e nem deixa de aplicar algum nutriente limitante da produção.

Outro beneficiado com adubação adequada é o ambiente, pois o uso correto de fertilizantes viabiliza a produção sem o esgotamento das reservas do solo e minimiza os riscos de contaminação por adubação em excesso. A produção sustentável, portanto, é intimamente ligada à adubação.