Agronegócio: Instituto Agronômico descobre genes causadores de doença em fruta cítrica

Pesquisadores descobriram também quais são e onde estão localizados os genes que provocam as doenças

dom, 19/09/2004 - 15h53 | Do Portal do Governo

Instituições coordenadas pelo Centro Apta Citrus, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) organizaram um banco de dados sobre citros quatro vezes maior que qualquer outro do mundo, com mais de 200 mil seqüências de genes das principais frutas e suas variedades. Com isso, concluíram o seqüenciamento genético, funcional e comparativo dos produtos. Também descobriram quais são e onde estão localizados os genes (existentes nos vírus, bactérias e fungos) que provocam as doenças.

O resultado prático desse trabalho é que, possivelmente em dois anos, o produtor terá condições de colocar no mercado variedades de laranjas resistentes a um ou dois patógenos (bactéria capaz de produzir doenças). Será um grande passo para consolidar o Brasil como o maior produtor mundial de frutas cítricas e de suco de laranja num mercado que movimenta US$ 10,5 bilhões anuais e gera US$ 1,5 bilhão em exportações. De cada 10 copos de suco consumidos no mundo, sete saem do Estado de São Paulo.

Para o engenheiro agrônomo Marcos Antonio Machado, coordenador da pesquisa e diretor do Centro Apta da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, a iniciativa paulista representa importante vitória na estratégia de controle e redução do custo de produção: “Hoje, de 20% a 30% de US$ 1,2 bilhão exportados em suco são investidos no tratamento dessas doenças. Isso sempre foi nossa preocupação”. Sua expectativa é que, quando o novo produto estiver sendo comercializado, aumentem-se a produtividade e a competitividade das frutas brasileiras.

Melhor aparato genético

Esses resultados se tornaram realidade após dois anos de estudos, com investimentos de R$ 4,4 milhões, conseqüências de parceria entre o Ministério de Ciência e Tecnologia e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O projeto integra o programa Institutos do Milênio. As variedades resistentes sairão de algumas das mais de 10 mil espécies que estão sendo analisadas e que englobam cerca de 700 híbridos produzidos pelo Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Citros Sylvio Moreira, conhecido como Centro Apta Citrus, em Cordeirópolis, interior do Estado. São híbridos de laranja com tangerina e tangerina com Poncirus trifoliata (produto resultante do cruzamento de citrus, não consumível, utilizado como porta-enxerto), entre outros.

O coordenador Machado explica que foram concluídas 240 mil seqüências de genes, sendo 80 mil de laranja, 80 mil de tangerina e o restante de Poncirus trifoliata. Na sua avaliação, o estudo do genoma abre fronteira com relação ao conhecimento de citros, já que as variedades apresentam padrões diversificados. “Nenhum programa de melhoramento tem todo esse aparato genético”, garante.

Impacto das doenças justifica os investimentos

Tendo a melhoria genética das variedades como foco principal da pesquisa, a identificação de genes, principalmente os relacionados às doenças e pragas, permitirá a transferência de características de resistência de um fruto para outro. Para o coordenador, o impacto de males como a clorose variegada dos citros, tristeza, gomose, morte súbita, leprose e cancro cítrico na cadeia do agronegócio da citricultura justifica a movimentação científica e a aplicação de R$ 4,4 milhões no projeto.

O combate à clorose consome 150 milhões de dólares anualmente, com reposição de mudas, poda da parte infectada e controle do vetor. A tristeza atinge todos os 180 milhões de citrus no Estado, reduzindo, no mínimo, 20% do potencial produtivo. A erradicação do cancro cítrico gasta cerca de 30 milhões de dólares por ano. No controle do ácaro vetor da leprose são aplicados cerca de US$ 100 milhões com acaricidas.

“Esse capital poderia ser investido no agronegócio citrícola, que produz cerca de 340 milhões de caixas de laranja/ano, gera em torno de 400 mil empregos em São Paulo e tem mais de 20 mil citricultores.” O entendimento genético da planta e dos agentes causadores desses males abre caminho para a transferência de genes de uma espécie para outra, garantindo que a resistência seja transferida. Assim, com o uso da engenharia genética e sem recorrer a transgênicos, será possível transferir características de resistência da tangerina para a laranja.

Liderança mundial

O seqüenciamento e o mapeamento genético de três espécies de citros (laranja, tangerina e do porta-enxerto Poncirus trifloliata) que foram concluídos agora e de outros quatro citros (limão, lima, sidra e laranja-azeda) que estarão finalizados até dezembro, colocaram o Brasil na liderança mundial das pesquisas científicas do setor. Até o fim do ano estarão terminadas 330 mil seqüências de genes.

“É o maior banco de informações sobre citros do mundo”, comenta Machado, explicando que o projeto foi o único na área de ciências agrícolas escolhido pelo Programa Institutos do Milênio do Ministério de Ciência e Tecnologia, no final de 2001. Do programa participaram pesquisadores do IAC, da Unicamp, da Universidade Estadual de Maringá, da Universidade Federal de Lavras e da Embrapa.