Agronegócio: Ferrugem da soja é tema de encontro no IAC

Objetivo é reunir as instituições de pesquisas agrícolas para combater a doença

qua, 08/09/2004 - 17h36 | Do Portal do Governo

O Instituto Agronômico (IAC) irá receber, nesta quinta-feira, dia 9, o pesquisador Romeu A. S. Kiihl, considerado o “Pai da Soja’ no Brasil. Tido como “filho” do IAC por ter trabalhado na Instituição há cerca de 30 anos, é o melhor pesquisador brasileiro de soja e um dos três melhoristas de destaque no mundo. Arlindo Harada, outro grande nome da pesquisa nacional em soja, estará ao lado de Romeu Kiihl durante o Encontro sobre Ferrugem da Soja, que será realizado em Campinas.

O Encontro irá reunir pesquisadores e extensionistas ligados à sojicultura. A partir de palestras sobre a doença que marcou a safra 2003/2004, pretende-se elaborar um boletim técnico sobre a ferrugem da soja direcionado aos produtores. Outro objetivo reunir as instituições de pesquisas agrícolas para combater a ferrugem da soja, compondo um consórcio que fortaleça a pesquisa e viabilize o enfrentamento desse mal que causou cerca de dois bilhões de reais em prejuízo na última safra.

De acordo com o pesquisador do IAC e organizador do Encontro, Nelson Braga, a ferrugem é uma doença complexa por impactar todo o cultivo da soja. “A partir da ferrugem, inicia-se um outro ciclo da soja no Brasil, o que requer a união das competências”.

A ferrugem asiática é considerada a mais severa doença da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, originário da Ásia, especialmente da China, que se movimenta por correntes aéreas. Ao encontrar condições favoráveis de hospedagem e clima, o fungo pode causar sérios danos. Infectada, a planta sofre desfolhamento precoce, comprometendo a produção de grãos. Dependendo da severidade e do controle a ser feito, as perdas variam de 10% a 80% da produção esperada.

Além de Kiihl e Harada, também irão palestrar alguns pesquisadores do IAC e do Instituto Biológico, órgãos da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Os profissionais irão enfocar aspectos diversos do problema — o melhoramento genético será tratado com foco na disponibilidade ou não de material tolerante à ferrugem e as perspectivas de obtenção de novas variedades, já que no mundo não se conhece variedade imune à doença.

A identificação do fungo Phakopsora pachyrhizi também será assunto do Encontro. Há controvérsias sobre essa questão e o combate à doença requer o conhecimento específico do fungo causador da ferrugem.

As plantas hospedeiras do fungo são outro fator de risco para a sojicultura. Segundo Braga, há dezenas de leguminosas, como o feijão, consideradas hospedeiras da Phakopsora pachyrhizi. O monitoramento dessas espécies é de fundamental importância, pois elas servem de ponte para o fungo transferir-se de uma safra a outra.

A ferrugem da soja é muito influenciada pelo clima, elemento que não poderia ficar fora desse Encontro de especialistas. Da caracterização dos aspectos climáticos vigentes na última safra, pretende-se identificar fatores que podem ter contribuído para a epidemia da doença.

Segundo Braga, a ferrugem está presente em praticamente todas as regiões produtoras do País, abrangendo cerca de 20 milhões de hectares. O controle dessa doença em tamanha extensão territorial, pelo impacto ambiental causado, requer a atuação dos órgãos públicos competentes, a fim de levar conhecimento aos produtores. Informações sobre o produto adequado a ser utilizado, a dosagem correta, o momento da aplicação estão entre os meios existentes de combate a esse mal. Braga explica que a variedade de soja tolerante somada ao controle químico viabiliza o convívio com a ferrugem. Esse contexto envolve ainda medidas preventivas como evitar plantas hospedeiras que agravem o potencial de desenvolvimento do fungo e o aprimoramento na adubação da cultura. Essas ferramentas podem chegar aos sojicultores por meio da ação dos órgãos públicos de pesquisa e extensão.

Por essa razão, o IAC realiza esse Encontro para oferecer respaldo aos produtores no Estado de São Paulo, onde a ferrugem nunca havia ocorrido como se deu na safra 2003/2004, reduzindo a produtividade para 2.400 kg/ha, contra 2.700 kg/ha atingidos na safra anterior.