Agricultura: Técnica de armazenamento de grãos proporciona economia ao pecuarista

Pesquisa é realizada por zootecnista da Unesp

qua, 05/03/2003 - 15h35 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unesp

Os custos com a alimentação do rebanho representam, aproximadamente, 80% dos investimentos em pecuária, sendo um dos principais motivos de preocupação dos criadores. Para alcançar rentabilidade satisfatória com as criações, é indispensável que os proprietários tenham à disposição, além de preços mais acessíveis na compra de rações, alternativas econômicas para o cultivo e conservação de grãos como milho, milheto e sorgo, cereais básicos na alimentação de bovinos, suínos e aves.

Para solucionar esse problema e aumentar a margem de lucro dos criadores, o zootecnista Ciniro Costa, do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), campus da Unesp de Botucatu, realiza pesquisas para o aperfeiçoamento da técnica de silagem de grãos úmidos. ‘Este é um processo que consiste em conservar sementes e cereais úmidos em silos, ou seja, em valas cavadas no solo, revestidas de lona ou alvenaria’, diz.

Os silos são abertos para proteger grãos, ainda com alto teor de umidade, do contato com o ar. ‘Após serem triturados, os grãos são depositados no silo e compactados com o auxílio de trator. O peso do veículo expulsa o ar existente entre as partículas trituradas’, explica o zootecnista. ‘Feito isso, tapa-se o silo para isolar o alimento do ar. Deste modo, pode-se conservar os grãos úmidos por anos, já que, em ambiente anaeróbio, eles permanecem livres da ação de microorganismos.’

O zootecnista esclarece que esse processo possibilita a obtenção de grãos de melhor qualidade e mais nutritivos para animais, além de ser uma alternativa de economia. Após os quatro estágios de desenvolvimento, as sementes obtêm grau de umidade considerado alto, entre 25% e 32%. ‘Com uma média estimada em 28%, esses grãos não podem ser armazenados em ambiente natural, pois ficam sujeitos ao ataque de fungos e bactérias, apodrecendo em pouco tempo.’

A produção de grãos secos obriga os lavradores a esperar cerca de 20 a 30 dias para a colheita. Nesse período de espera, a ação de pássaros, roedores, pragas e insetos na plantação implica perdas ao produtor. ‘Para evitar prejuízos, muitos deles submetem os grãos a processos artificiais de secagem, que representam despesas com o uso de energia elétrica.’

Na silagem de grãos úmidos, o processo permite a colheita antecipada em três ou quatro semanas, isentando produtores de custos com o tombamento de plantas, a limpeza de grãos e com energia. ‘A silagem de grãos, além de ser mais econômica, dispensa o uso de agrotóxicos no armazenamento.’

Costa acrescenta que a silagem de grãos úmidos também amplia as possibilidades de aproveitamento da terra. Ele explica que, com a chance de antecipar a colheita dos grãos em até 20 dias, o produtor pode aproveitar o período para instalar novas culturas em sua propriedade. ‘Isso significa maximizar o uso da terra e garantir um aumento na produtividade de cada gleba’, conclui.

Pioneirismo

Desenvolvida nos EUA, na década de 1950, a silagem de grãos úmidos chegou ao Brasil nos anos 1980, e se popularizou entre os produtores rurais da região de Castro (PR). ‘A FMVZ foi pioneira na implementação da técnica no Estado de São Paulo. Atualmente, somos um centro de referência, no País, em estudos que envolvem a utilização de grãos úmidos de milho para a alimentação animal.’

A cultura do milho é dividida em quatro estágios: a fase de emergência, em que a planta brota do solo, após a germinação; a fase de pendoamento, marcada pelo surgimento da inflorescência masculina no ápice da planta, onde é produzido o pólen que fertiliza as espigas (inflorescência feminina); o espigamento, definido pela formação das primeiras espigas; e o último estágio, a fase de maturação fisiológica, caracterizada pelo surgimento da camada preta na base do grão.

V.C.