Agricultura: Soja pode ter maior produtividade com ajuda de bactérias e fungos

Estudo foi realizado por pesquisadores da Esalq

qui, 19/08/2004 - 10h00 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP


Por André Benevides

Foi constatado que três espécies de bactérias endofíticas causaram um aumento no peso da planta entre 15% e 20%, o que poderia resultar em maior produtividade.

A cooperação entre plantas e os microorganismos que nelas vivem pode fazer o Brasil aumentar consideravelmente sua produção de soja. Estudos realizados por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, mostram que determinadas bactérias e fungos conseguem aumentar o peso de algumas variedades da planta em até 20%.

Nos testes feitos em laboratórios foi constatado que três espécies de bactérias endofíticas (que se hospedam no interior da plantas) causaram um aumento no peso da planta entre 15% e 20%, o que poderia resultar em maior produtividade. ‘Mas estes resultados foram obtidos em condições controladas’, ressalva o biólogo Welington Luiz de Araújo, que coordena o projeto.

Segundo ele, a expectativa é que aconteça a mesma coisa em campo, mas fatores como o local do cultivo e características do vegetal escolhido podem interferir nos resultados. ‘Precisamos avaliar se as bactérias serão eficientes em diferentes regiões e com diferentes variedades da planta’, diz. ‘Se uma bactéria for útil apenas para a região de Piracicaba, ela não é interessante comercialmente. Estamos à procura daquela que possa ser aplicada em uma região inteira ou em grande parte das plantações’, explica.

Araújo estima que a comercialização do produto em nível industrial deve acontecer em cerca de cinco anos, pois a pesquisa ainda está na fase de testes em campo. ‘Estamos agora na segunda etapa do projeto. A próxima etapa é desenvolver um produto comercial’, afirma o pesquisador.

Melhor rendimento

A parte da pesquisa experimental com as bactérias, que foi realizada pela também bióloga Júlia Kuklinsky-Sobral, em sua tese de doutoramento – com apoio da Fapesp e da Capes -, teve como um dos principais objetivos ‘melhorar o rendimento da soja sem que a genética fosse alterada’. O trabalho já teve artigos publicados na Enviromental microbiology, revista científica da Inglaterra, e no jornal australiano especializado na área, o Plant and Soil. Júlia teve também um artigo inscrito para julgamento no Prêmio Jovem Cientista, que neste ano terá por tema a produção de alimentos.

O projeto também estuda viabilizar o aumento da produtividade da soja com a utilização de fungos mutualísticos, que podem exercer controle de patógenos na soja, inibindo o crescimento de bactérias ou fungos causadores de doenças. Araújo afirma que, neste caso, os estudos ainda estão na primeira etapa, que é o da seleção dos microorganismos com o potencial desejado, mas que é um campo igualmente promissor.

Deste modo, os maiores resultados seriam na diminuição dos custos, pois dispensaria o uso de determinados defensivos agrícolas. Mas mesmo assim a soja seria favorecida, pois ‘ela direcionaria suas energias apenas para o crescimento’. O problema, por enquanto, é garantir que estes fungos não sejam patogênicos às plantas, pois alguns dos que beneficiam a soja poderiam, eventualmente, causar doenças.

V.C.