Agricultura: Nutrientes naturais substituem adubos químicos em assentamentos do Itesp

Especialmente em frutíferas, composição do adubo orgânico favorece a produção de um fruto mais saboroso

seg, 11/04/2005 - 15h20 | Do Portal do Governo

O produtor rural Luiz Bernardo de Souza, 49 anos, adotou a cultura da uva há oito anos. No começo, a produção era convencional, com utilização de produtos químicos. O agricultor acredita que esses produtos foram a causa do mal-estar físico que passou a sentir na época, como dores de cabeça e estômago debilitado. ‘Pensei na minha saúde, na saúde da minha família e das pessoas que compravam meu produto’, conta, justificando a opção pelo cultivo orgânico.

Aos poucos, Souza, morador do assentamento Ipanema, em Iperó, foi substituindo os produtos químicos por técnicas alternativas. O adubo, por exemplo, deu lugar à cobertura orgânica com palha de milho. Mas o principal substituto encontrado para os insumos industrializados foi uma substância produzida no próprio lote agrícola a custo zero: a urina de vaca.

‘Além de fornecer nutrientes para a planta, como o potássio, a urina de vaca também funciona como repelente’, explica Maria Izabel Dorizzotto, analista de desenvolvimento agrário da Fundação Instituto de Terras (Itesp), entidade vinculada à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.

A descoberta de que a urina de vaca poderia ser utilizada na agricultura foi feita por pesquisadores da Pesagro (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro) em 1992. Eles observaram que a substância recuperava plantas de abacaxi com sintomas de fusariose, doença causada por um fungo. Estudos posteriores revelaram aumento de produção no cultivo de frutas, legumes e hortaliças.

Segundo Izabel, a urina deve ser coletada e armazenada em recipiente fechado, em local fresco, por dez dias. Depois, ela é diluída na proporção de 1% (um litro de urina para cem litros de água). A vaca também precisa estar prenhe ou com bezerro novo.

Souza aprovou o resultado. Hoje em dia, sua uva é 100% orgânica. Outros produtores estão utilizando a urina de vaca, como Luiz Carlos Bardilho e Sérgio Eloy Nery, também do assentamento Ipanema, e Luiz Gonzaga Monfrinati, do assentamento Porto Feliz.

Manga, goiaba, café e feijão são outras culturas em que a urina de vaca está sendo utilizada com vantagem. Izabel explica que, especialmente no caso das frutíferas, a composição química do insumo, rica em minerais, favorece a produção de um fruto mais saboroso.

Luiz Bernardo de Souza planeja agora melhorar a logística de comercialização. Atualmente, ele depende dos compradores que vão até o seu lote. “Se eu puder comprar um veículo para entregar o produto e tiver um telefone para fazer o contato com os compradores, já garanto 70% da comercialização”, calcula.

Empreendedor, o assentado conta que já chegou até a produzir vinho artesanalmente. Outro projeto para o futuro é a compra de um kit para produção de vinho. “Acho que experiência na agricultura não conta tanto. O que conta é a vontade de aprender”, ensina.

Uva é destaque nos assentamentos da região de Sorocaba

Orgânica ou não, a uva niágara já é um dos produtos de destaque dos assentamentos rurais da região de Sorocaba. Na última safra, entre dezembro e janeiro, foram colhidas 25.660 caixas nos assentamentos Ipanema, em Iperó, e Porto Feliz, no município de mesmo nome. O produto alcançou um preço médio de R$ 6,00 a caixa.

Segundo a analista de desenvolvimento agrário Maria Izabel Dorizzotto, o plantio começou a se expandir na região quando agricultores de Jundiaí perceberam que o clima de Porto Feliz favorece uma antecipação da colheita, possibilitando a comercialização da uva no Natal.

Por ser uma cultura interessante para a agricultura familiar, o Itesp incentivou sua adoção também pelos produtores assentados. ‘É um trabalho relativamente leve. Uma pessoa com prática consegue cuidar de 5 mil pés de uva. E cada pé, se bem cuidado, pode durar até 20 anos’, explica a funcionária do Itesp.

O trabalho com a uva praticamente se limita ao período de julho a janeiro. No restante do ano, o agricultor pode se dedicar a outras atividades. E os assentamentos da região de Sorocaba contam ainda com uma importante vantagem estratégica: a localização. ‘Estamos próximos a grandes centros. E muitas pessoas vão até os lotes dos assentamentos comprar uvas’, completa Izabel.

Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania
Assessoria de Imprensa

(LRK)