Agricultura: Esalq-USP desenvolve armadilha para importante praga dos citros

Dispositivo simples permite reduzir significativamente os prejuízos causados pelo bicho-furão-dos-citros

sex, 21/05/2004 - 13h31 | Do Portal do Governo

Um dispositivo bastante simples permite reduzir significativamente os prejuízos causados pelo bicho-furão-dos-citros, praga que provoca anualmente perdas equivalentes a US$ 50 milhões à citricultura do País. Trata-se da armadilha denominada Ferocitrus Furão, desenvolvida por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo de Piracicaba, que possibilita ao agricultor monitorar a presença do inseto no pomar, antes que cause algum dano.

Anteriormente à criação da armadilha, o produtor só decidia controlar a praga quando notava frutos atacados na plantação, explica José Maurício Simões Bento, professor de Entomologia da Esalq e um dos coordenadores da pesquisa. Com o dispositivo, ele sabe exatamente quando a praga entra no pomar e o momento certo de aplicar o agrotóxico.

Além de evitar perdas, o novo método impede reinfestação, pois os insetos são exterminados antes que ponham os ovos. No método antigo, as lagartas que já estavam no interior do fruto não eram atingidas pela ação do veneno, desenvolviam-se até a fase adulta (a da mariposa) e colocavam ovos no pomar, iniciando um novo ciclo.

Segundo Bento, as perdas com essa praga podem chegar atingir entre 250 ou 300 frutos por planta. A produção média é de mil frutos. “Com a utilização da armadilha, a perda cai a praticamente zero. Não passa de uma laranja por pé.”

O sistema ainda reduz quase 50% os gastos do produtor com inseticida, que só será aplicado na área afetada e quando for necessário, e não mais preventivamente em toda a área produtiva. “Além de ser ecologicamente correto, é um sistema bastante benéfico ao produtor”, salienta o pesquisador.

Ponteiro do Citros

Desenvolvida há cerca de dois anos, a armadilha consiste numa espécie de caixinha de papelão, com uma superfície adesiva (para capturar o bicho-furão) e uma pastilha com o feromônio do inseto (substância química liberada pela fêmea que atrai o macho para o acasalamento). Uma abertura no dispositivo permite a saída do odor proveniente do feromônio e a entrada do macho da espécie.

Inicialmente, a “caixinha” tinha o formato similar a um prisma. Modificações realizadas recentemente deram-lhe forma parecida a um “diamante”, melhorando ainda mais o dispositivo. Ficou mais resistente, em razão do uso de um papelão mais forte, e sujeita a menor quantidade de poeira, já que a sua abertura diminuiu. Antes, era comum amolecer ou desmanchar, quando exposta a muita chuva, e também perdia um pouco a aderência da cola, com entrada de poeira e detritos.

Instalada no ponteiro (parte superior) dos citros, a armadilha, juntamente com a pastilha, deve ser trocada a cada 30 dias. Cobre uma área de 10 hectares, que abrange entre 3 e 3,5 mil pés de laranja, dependendo do espaçamento adotado na plantação.

O produtor deve monitorar o dispositivo semanalmente, contando o número de insetos capturados. Constatando seis ou mais insetos numa única semana, é necessário aplicar inseticida na área para controlar a praga. Quando são capturados menos de seis insetos, significa que não há dano significativo na área, não sendo necessária a aplicação de inseticida.

Emprego da armadilha diminui uso de agrotóxico

A armadilha e a sua forma de utilização são um trabalho pioneiro no Brasil, segundo o professor Bento. Isso porque “todas as etapas da pesquisa e soluções apresentadas foram desenvolvidas aqui no País”, para atacar uma praga basicamente nacional (embora ocorra nas Américas do Sul e Central, a citricultura nos demais países da região não tem a mesma expressão daqui).

Conforme salienta, essa tecnologia vai ajudar muito a reduzir o uso de agrotóxicos, tornando nossos produtos ainda mais competitivos no mercado internacional. É também, segundo ele, um exemplo de pesquisa envolvendo instituições públicas e privadas. “O custo bastante baixo é em razão da parceria com uma instituição privada, que viabilizou essa tecnologia”.

Responsável por 85% dos citros cultivados no País, o Estado de São Paulo concentra sua produção nas regiões norte (englobando Bebedouro e outros municípios), centro (São Carlos e Araraquara, por exemplo), sul (Araras, Botucatu, entre outros), e noroeste (Votuporanga e outras localidades).

Os pesquisadores realizaram testes com a armadilha em alguns desses municípios. Mas não dispõem de dados abrangentes a respeito de sua utilização, apenas resultados obtidos com alguns produtores monitorados pela Esalq. O que se verificou foram perdas de, no máximo, um fruto por planta e uma redução expressiva no volume de inseticidas aplicado.

O estudo, coordenado pelo professor José Roberto Postali Parra, foi financiado pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) e pela Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores de São Paulo (Coopercitrus). Teve ainda a parceria da Universidade Federal de Viçosa e da Universidade da Califórnia – Davis (EUA).

A Esalq detém a patente intelectual do produto, que é comercializado em kits contendo uma armadilha e uma pastilha de feromônio por aproximadamente R$ 20. Pode ser encontrado nas cerca de 20 lojas da Coopercitrus espalhadas pelos principais municípios citrícolas do Estado.

SERVIÇO:
Informações Fundecitrus
Tel.0800-112155
www.ferocitrusfurao.com.br

Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)