Agricultura: Departamento estadual oferece sementes que iniciativa privada não produz

Produção de mudas frutíferas enxertadas incentiva a cultura familiar

qui, 13/11/2003 - 12h18 | Do Portal do Governo

O agricultor paulista, especialmente o pequeno e médio produtor, conta com um aliado de peso na hora de adquirir sementes, mudas florestais e frutíferas e orientações para a lavoura. Trata-se do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), órgão ligado à Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) e que produz, em parceria com centenas de agricultores, sementes de interesse social, ignoradas pela maioria das grandes empresas.

Entre as prioridades do DSMM estão as culturas da alimentação básica (arroz, feijão, milho, trigo), capazes de atender à agricultura familiar, e os pequenos projetos de fruticultura. Mas, o Departamento produz também sementes para as culturas de triticale (híbrido de trigo e centeio), painço, setária e demais vegetais. Outro segmento de atuação do órgão são as mudas, incluindo as destinadas à reconstituição de matas estaduais, e os materiais de propagação, como porta-enxertos, estacas enraizadas e borbulhas (gomos).

Toda essa variedade de itens corresponde a uma produção anual de cerca de 10 mil toneladas de sementes e aproximadamente dois milhões de mudas. É um montante que atende por ano a cerca de 80 mil agricultores no Estado, e resultou numa movimentação financeira de R$ 14 milhões em 2003. Todo esse trabalho é feito sem onerar os cofres públicos, enfatiza o diretor-geral do DSMM, José Antonio Piedade. Isso porque o órgão sobrevive com a própria venda de seus produtos, não necessitando de recursos públicos para se manter.

Sementes Genéricas

São Paulo é o único Estado com esse tipo de trabalho, cuja importância para a agricultura paulista se expressa de diversos modos. É o único órgão produtor de sementes de arroz e feijão do Estado. As sementes de milho com a marca AL (de Ataliba Leonel, nome de uma de suas fazendas) estão presentes em cerca de 20% da área plantada de milho. Além disso, provêm do DSMM 90% das sementes de trigo, triticale e aveia branca plantadas em território paulista. Para o agricultor, significa a aquisição de sementes de boa qualidade, a preços econômicos e disponíveis em todos os municípios.

O assessor da diretoria-geral do DSMM, Armando Azevedo Portas, compara essa atuação à da Fundação para o Remédio Popular (Furp), que produz medicamentos mais econômicos e também os que as empresas privadas não têm interesse de produzir. Segundo ele, há o medicamento genérico e o de grife, que paga royalties à empresa detentora da patente. O mesmo acontece na área de sementes. O DSMM produz sementes genéricas, que não pagam royalties.

Campos de Cooperação

A sede do DSMM fica no Parque da Cati, em Campinas, onde ocupa parte de dois edifícios. O Departamento se divide em quatro centros técnicos: Centro de Produção de Sementes, Centro de Produção de Mudas, Laboratório Central de Sementes e Mudas e Centro de Testes, Avaliação e Divulgação (Cetadi).

O Centro de Produção de Sementes dispõe de 15 Núcleos de Produção de Sementes espalhados pelo Estado, dois dos quais em fazendas. Uma delas (a Fazenda Ataliba Leonel) fica no município de Manduri e a outra (a Potreiro), em Águas de Santa Bárbara. O Centro de Produção de Mudas compõe-se de seis Núcleos de Produção, que funcionam em fazendas nos municípios de Marília, Pederneiras, Presidente Prudente, São Bento do Sapucaí, Tietê e Itaberá. Integram ainda o DSMM o Laboratório Central de Sementes e Mudas, com 15 laboratórios nos Núcleos de Produção tanto de sementes quanto de mudas, e o Cetadi, em Águas de Santa Bárbara.

Cerca de 70% das sementes do Centro de Produção de Sementes são produzidas em campos de cooperação (com a parceria de agricultores que dispõem de boa tecnologia), e o restante nas próprias fazendas do Centro. No caso dos campos de cooperação, o DSMM vende sementes genéticas a agricultores, que as plantam e colhem com o monitoramento de técnicos do órgão. Depois, o DSMM compra, beneficia e classifica as sementes brutas, vendendo-as prioritariamente a agricultores do Estado.

Semente transgênica

Em termos de mudas, a produção é exclusiva do DSMM, sem o auxílio de cooperadores. São produzidos e comercializados mais de 140 tipos de mudas de essências florestais nativas, algumas bastante conhecidas (ipê roxo, jequitibá e pau-brasil) e outras nem tanto (gmelina, olho-de-dragão, pau-formiga). O Departamento produz e comercializa ainda mais de 20 tipos de mudas frutíferas comerciais (citros, macadâmia, nêspera e outras), mais de 40 de mudas de frutíferas silvestres (amora, carambola-doce, pitomba e outras), além de materiais de propagação.

Segundo José Antonio, o objetivo da produção e comercialização de mudas é a geração de emprego e renda no campo, bem como a preservação do meio ambiente. Cita como exemplo de geração de emprego a fruticultura, que considera um caminho que viabiliza a pequena propriedade. Enquanto uma pessoa é suficiente para cuidar de 100 hectares de pastagens, por exemplo, para 100 hectares de fruticultura, a proporção é bem diferente. Além de 100 empregos na produção, a atividade gera mais 400 na cadeia produtiva, ou seja, para a produção de caixas, acondicionamento e transporte.

Cabe ao Laboratório Central de Sementes e Mudas fazer o controle de qualidade das sementes e mudas. É ele quem determina se a semente (que o DSMM às vezes adquire de instituições de pesquisa, inclusive do exterior) é transgênica, seu grau de pureza e outras características. A tarefa do Cetadi é testar sementes, mudas e tecnologias (formas diferentes de cultivo, por exemplo) em cada região do Estado, antes de colocá-las à venda. Isso porque o desempenho varia conforme o solo, o clima e outros fatores ambientais. O Cetadi gera também novos materiais genéticos.

Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial