Agricultura: Cultura do milho sofre redução em relação à soja

Os produtores de soja adotam o sistema de plantio direto

qui, 23/01/2003 - 20h40 | Do Portal do Governo

Pelo segundo ano consecutivo, houve redução de plantio do milho na safra brasileira de verão, como reflexo do desestímulo provocado pelos baixos preços em 2001, conjugado aos excelentes resultados da comercialização da soja, cultura competidora do cereal em termos de área plantada.

Apesar do grande avanço na utilização de moderna tecnologia na produção do milho e no conseqüente incremento da produtividade, este esforço tem sido minado justamente pelo deslocamento da cultura do milho pela soja, passando-se a semear o cereal em sucessão, na segunda safra, chamada de milho safrinha. Assim, os produtores de soja, utilizando variedades de ciclos mais precoces e adotando o sistema de plantio direto, realizam a semeadura do milho safrinha concomitante à colheita da oleaginosa.

Dada esta forte correlação entre as áreas de soja no verão e do milho na segunda safra, o nível de risco da cultura do milho safrinha fica altamente dependente do início da semeadura da soja.
Este, por sua vez, está condicionado ao início das chuvas na primavera, o que determina, por sua vez, o momento do plantio do milho safrinha. Se ocorre atraso das chuvas, como foi o caso deste ano-agrícola, certamente o início da semeadura da safrinha sofrerá adiamento, o que pode aumentar sensivelmente o nível de risco climático para a cultura.

Os eventos mais comuns na safrinha são o deficit hídrico nos solos (estiagem) em todas as regiões (com efeitos mais graves nas lavouras realizadas em solos arenosos e menos graves em solos argilosos) e as geadas nas regiões de maiores latitudes.

Para estabelecer um programa de seguro da produção de milho da safra de verão (primeira safra), as seguradoras têm usado como referência técnica o Zoneamento Agrícola, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Este trabalho, iniciado em 1996 e em processo de contínuo aperfeiçoamento, abrange atualmente 14 Unidades da Federação para o caso da cultura do milho, sendo balisado em épocas normais de semeadura do cereal em cada região do Brasil, de acordo com as recomendações dos institutos de pesquisa.

Deve-se esclarecer que este Zoneamento para o Estado de São Paulo, para a safra 2002/03 (Portaria n.40, de 23/07/02), não inclui a maior parcela da semeadura da cultura do milho safrinha, que ocorre em março-abril. Para fins estatísticos, o milho safrinha ou segunda safra de milho no Brasil inclui as lavouras cuja semeadura se inicia em 1o de janeiro e se estende até meados de abril no Centro-Sul e mais além nos demais Estados.

O citado Zoneamento não considera outros aspectos importantes da cultura do milho, como tecnologia utilizada, características dos cultivares, tipo de manejo e plantio direto e ocorrência de pragas e doenças, que podem se constituir em fatores importantes no desempenho da lavoura. Desta forma, o referido trabalho não deve ser utilizado para avaliação do risco climático da cultura do milho safrinha.

O melhor, a curto prazo, seria utilizar, no caso específico do Estado de São Paulo, o Documento Técnico n.113, editado pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), em março de 2000. Intitulado ‘Milho safrinha: técnicas para o cultivo no Estado de São Paulo’, foi elaborado pela Comissão Técnica de Milho e Sorgo, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e apresenta as recomendações de época de semeadura do milho safrinha para as principais regiões paulistas.

Este estudo poderia ser aperfeiçoado e ampliado, de maneira a avaliar os riscos e as produtividades da cultura associados às diversas épocas de plantio, visando oferecer subsídios técnico-científicos para o estabelecimento de prêmios de seguro da cultura do milho safrinha.

Do Instituto de Economia Agrícola
C.A