Agricultura: Cultivo do algodão se desenvolve em todo o país

Estados do Centro-Oeste têm apresentado maior produtividade

qui, 14/11/2002 - 16h43 | Do Portal do Governo

A evolução recente da cotonicultura no Brasil está associada à transferência regional da produção das regiões Sul e Sudeste rumo ao cerrado. Pretende-se abordar a evolução da área, produção e produtividade do algodão nos principais Estados produtores, no período de 1991/92 a 2001/02, bem como as perspectivas regionais para a safra 2002/03.

Do Sul/Sudeste

Por várias décadas, Paraná e São Paulo responderam pela maior parcela da produção de algodão, onde a cultura exerceu importante papel no processo de diversificação das atividades agropecuárias, já na primeira metade do século XX.

Ancoradas predominantemente em estrutura produtiva de pequenas e médias propriedades, as produções paranaense e paulista sofreram os impactos da abertura comercial, traduzindo-se em drástica redução no cultivo da fibra, ao longo da década de noventa.

Entre 1991/92 a 1996/97, as reduções foram mais acentuadas, especialmente no Paraná, dada a maior ocupação em área da cultura em relação a São Paulo. Nesse subperíodo, a área com algodão paranaense decresceu de 709 mil para 59,2 mil hectares e a produção, de 335 mil para 40,4 mil toneladas de algodão em pluma.

Em território paulista, a área caiu de 230 mil para 78,5 mil hectares e a produção, de 130,8 para 54,4 mil toneladas. De 1998/99 em diante, a área e a produção permanecem praticamente estáveis nesses Estados, com exceção da safra 2001/02, quando o Paraná volta a apresentar retração no cultivo da fibra.

Apesar da crise, ocorreram expressivos ganhos em produtividade: no Paraná, os níveis passaram de 1.350kg/ha em 1991/92 para 1.950kg/ha em 1996/97, saltando para 2.310kg/ha em 2001/02, enquanto em São Paulo evoluíram de 1.625kg/ha para 1.980kg/ha, alcançando 2.520kg/ha na última safra.

O melhor desempenho desse indicador é resultado da associação dos esforços da pesquisa, das mudanças no sistema de produção e da permanência de produtores com melhores condições para a adoção de novas tecnologias.

Centro-Oeste

O crescimento da produção do algodão na Região Centro-Oeste ocorreu em duas etapas, sendo na primeira (1991/92 a 1996/97) liderado por Goiás. Ainda que crescente, a produção goiana foi largamente superada pela matogrossense, a qual assumiu a liderança da produção nacional a partir de 1997/98.

O desenvolvimento da cotonicultura em Mato Grosso surge no final da década de oitenta como alternativa à soja e com a adaptação de variedades do algodoeiro ao cerrado em sistemas produtivos baseados em ganhos de escala e de produtividade. Em 2001/02, as perspectivas de melhor remuneração da soja influenciaram a redução no cultivo de algodão no Estado, sem contudo, perder a liderança da produção nacional (figuras 1 e 2).

Os Estados do Centro-Oeste são os que têm apresentado os mais elevados níveis de produtividade, alcançando 3.000kg/ha em Goiás e 3.510kg/ha em Mato Grosso na safra 2000/01. Em 2001/02, problemas climáticos ocasionaram os menores rendimentos na Região (Figura 3).

Nordeste

A produção de algodão na Região Nordeste foi fortemente marcada pela retração do cultivo da espécie arbórea e pelo crescimento da herbácea. Até o início dos anos 80, ambas as espécies se equilibravam em termos de área, diferenciando-se pela produção, em função da superioridade do rendimento médio do algodão herbáceo. As constantes dificuldades decorrentes da estrutura produtiva do algodão arbóreo foram determinantes para esse processo.

Atualmente, a Bahia é a maior produtora de algodão herbáceo e vem se destacando, especialmente, pelo crescimento em produtividade. No subperíodo de 1998/99 a 2001/02, a área plantada evoluiu de 44,5 mil para 70,2 mil hectares (57,8%), enquanto a produção, de 14,8 mil para 68,6 mil toneladas (363,5%), resultando em ganho de 165,2% no rendimento médio da cultura, que passou de 950 para 2.520kg/ha.

A produção de algodão concentra-se no Oeste do Estado, mais precisamente em Barreiras, Correntina e São Desidério, municípios localizados no cerrado e responsáveis por quase 90% da produção estadual em 20012. A proximidade de grandes pólos têxteis instalados na Região Nordeste constitui fator relevante para a expansão da cultura.

O algodão arbóreo é cultivado exclusivamente na Região Nordeste, tendo como principal característica a de ser uma cultura perene, diferente, portanto, do herbáceo que tem ciclo anual.

Perspectivas

As perspectivas para a safra 2002/03, com base nas estimativas realizadas pela CONAB, mostram diferenças no comportamento do plantio do algodão entre os Estados analisados.

No Paraná, deve ocorrer a mais forte redução (de 20% a 25%), em comparação com o ano anterior, enquanto em São Paulo esse intervalo varia de 5% a 10% de retração no plantio. Em Mato Grosso, a diminuição da área deve ficar entre 6% e 10% e em Goiás, de 2% a 4%.

A Bahia, por sua vez, deve apresentar expansão de 11% a 16% e, ainda, se obtida a produção mínima prevista, deve ocupar a terceira colocação no ranking nacional, depois de Mato Grosso e Goiás. No país, a área de algodão deve sofrer diminuição de 2,5% a 5,9%. Essa perspectiva está relacionada com a ampliação da sojicultura, a principal concorrente do algodão nas áreas do cerrado.

Marisa Zeferino Barbosa
do Instituto de Estudos Agronômicos

C.A