Abastecimento: USP orienta escolas públicas a evitarem o desperdício de água

Estudo foi desenvolvido pela Escola Politécnica (Poli)

qua, 19/11/2003 - 9h15 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Simone Harnik

O engenheiro Flávio Scherer elaborou orientações para reduzir o consumo de água em escolas públicas localizadas no meio urbano. Em seu mestrado Uso Racional da Água em Escolas Públicas: diretrizes para Secretarias de Educação, defendido na Escola Politécnica (Poli) da USP, o pesquisador verificou que o envolvimento de Secretarias de Educação com um Programa de Uso Racional da Água (Pura) é viável e já ocorre em Joinville, em Santa Catarina, com bons resultados na economia.

Há três tipos de ações que podem ser empregadas para reduzir o desperdício: as sociais, que envolvem práticas educativas; as de utilização de tecnologias, foco principal do estudo, (como torneiras economizadoras, torneiras com arejadores ou bacias sanitárias de volume de descarga reduzido, com caixa acoplada de seis litros, ou com válvula de ciclo fixo de seis litros); e as de ordem econômica, relacionadas às tarifas da concessionária do serviço de distribuição de água.

Scherer fez um levantamento da situação das escolas brasileiras que desenvolvem programas de combate ao desperdício da água e verificou que a maioria dos projetos estão concentrados em instituições de ensino superior, vinculados à pesquisa dessas entidades, dentre elas o Programa de Uso Racional da Água (Pura) da USP. ‘No entanto, a cidade de Joinville mantém um Programa de Uso Racional da Água em todas as escolas públicas de educação básica e é um exemplo de que este tipo de iniciativa pode ser aplicada’, constatou.

Depois de observar o programa catarinense, o pesquisador descreveu as características físicas e funcionais de três escolas estaduais de Curitiba, no Paraná, os hábitos dos usuários e os principais problemas, e elaborou as diretrizes. ‘Desenvolvi a pesquisa no Paraná, mas a idéia é que ela sirva para Secretarias de Educação de outros lugares. Procurei ser o mais abrangente possível’, comenta.

‘Um primeiro passo, é analisar as características do sistema hidráulico predial. A maioria dessas escolas foram construídas há mais de 30 anos e estão defasadas em tecnologia. Muitas ainda têm tubulações de ferro galvanizado, que podem apresentar vazamentos, acarretando um baixo desempenho do sistema’, explica o pesquisador.

A partir da análise, é possível corrigir vazamentos e escolher o equipamento mais adequado. O engenheiro atenta para o fato de que o vandalismo é um item relevante na conservação dos sistemas sanitários de escolas públicas. Por isso, devem ser escolhidas peças mais resistentes ou que possam não ser objeto de roubo ou de depredação. E é fundamental um trabalho de conscientização da comunidade escolar.

Um outro passo é a capacitação dos funcionários das escolas. ‘É preciso trabalhar a formação dos diretores, que são peças chave. São eles que vão fiscalizar e cuidar para que o programa tenha sucesso. E os funcionários e zeladores que vão dar manutenção aos equipamentos também devem receber capacitação.’

Após implementadas, as diretrizes devem ser revistas, já que devem se adequar às realidades locais. ‘Trata-se de um processo contínuo, com a intenção de que os investimentos sejam feitos da melhor forma e haja um retorno do que se investiu’.

Potencial da economia

No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), as escolas públicas totalizam a maior parte dos estabelecimentos escolares, com 179.935 edificações, sendo que 73.404 encontram-se no meio urbano. ‘O potencial de economia de água nessas edificações é bastante expressivo’, afirma o pesquisador.

Segundo Scherer, uma vantagem de se implantar um Programa de Uso Racional da Água em escolas é que práticas educativas podem ocorrer associadas às implementações tecnológicas. ‘A preservação dos recursos hídricos é um tema que pode ser discutido em várias áreas do conhecimento, e contribui para a formação crítica dos estudantes, que podem atuar como multiplicadores’, explica.

O estudo prioriza escolas públicas, pois as particulares, muitas vezes, já possuem um programa de uso racional da água, buscando a economia de recursos. Além disso, Scherer se ateve ao meio urbano, onde, em geral, o problema da escassez é mais grave. ‘Temos um potencial muito grande para desenvolver e precisamos adotar medidas urgentes no combate ao desperdício de água. Espero que as Secretarias de Educação usem o estudo’, conclui.

Mais informações podem ser obtidas no sitewww.usp.br/agen/
V.C.