Serra recebe presidente do México

Palácio dos Bandeirantes, 15 de agosto de 2009

sáb, 15/08/2009 - 23h00 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Queria cumprimentar Sua Excelência Felipe Calderón, presidente do México; nosso presidente Fernando Henrique Cardoso; embaixadora Patricia Espinosa Cantellano, ministra de Relações Exteriores do México. Senhores embaixadores do México e do Brasil. Senhores secretários da comitiva mexicana. Senhor Salvador Arriola, cônsul-geral do México em São Paulo. Autoridades e amigos que nos acompanham. Ilustre comitiva mexicana. Lideres empresariais. Senhoras e senhores.

É uma grande honra para São Paulo que o senhor Felipe Calderón, presidente dos Estados Unidos do México, inicie sua visita ao Brasil exatamente pelo nosso Estado. Para nós brasileiros, o México é um país irmão. Irmão pela fraternidade, que há muito nos une, desde que proclamou sua independência em 1810, consolidando-a em 1821, um ano antes do Brasil. Mas a história mexicana remonta há muito mais longe. Às milenares culturas pré-colombianas cujas conquistas, em vários campos do conhecimento, certamente contribuíram em tempos mais recentes para relativizar e até para contestar visões eurocêntricas. Aliás, conhecimento e México são palavras que há muito tempo caminham juntas, pois ali foi fundada a terceira universidade das Américas, em 1553. Enquanto isso, os padres Manuel da Nóbrega e Anchieta apenas se preparavam para criar um colégio que daria origem à cidade de São Paulo.

Mais recentemente, a Editora Fondo de Cultura Económica trouxe a toda a América Latina, de forma organizada, de forma competente, os clássicos das ciências sociais do mundo – e em particular de todos os países da nossa região. E eu quero dizer, presidente, que a editora de quem eu li mais livros científicos na minha vida é o Fondo de Cultura Económica. Eu estudei Economia, li sobre Sociologia, Ciência Política, Filosofia pelos livros do Fondo de Cultura. Pelas traduções, livros traduzidos ou edições de escritores latino-americanos. O próprio Celso Furtado – talvez o economista brasileiro mais importante que tivemos – teve toda a sua obra difundida na América Latina pelo Fondo de Cultura Económica.

O México tem uma das culturas mais fecundas do mundo e nós somos seus devedores. Basta lembrar a originalidade de (José Clemente) Orozco, (Davi Alfaro) Siqueiros e Diego de Rivera (conhecidos como Los Tres Grandes), com sua arte mural. Aliás, nos cardápios (da recepção a Felipe Calderón no Palácio dos Bandeirantes) nós temos reproduções (de obras) do Diego de Rivera e do (pintor brasileiro Candido) Portinari. Sem falar da figura de Frida Kahlo, (pintora mexicana) muito conhecida no Brasil. E também, para não esquecer, da música, com Agustín Lara – que para algumas gerações aqui fala bastante – cujo sucesso entre nós levou grandes artistas nacionais – artistas dos mais importantes que nós temos no Brasil – a gravarem muitas das suas canções, como é o caso do João Gilberto e do Caetano Veloso. Ou na literatura, que nos trouxe nomes como Sóror Juana Inés de la Cruz, que foi poetisa, dramaturga, teóloga e, como Octavio Paz, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1990.
Juana Inés merece um carinho especial, porque ela foi autodidata no aprendizado do Português simplesmente para discutir aspectos teológicos de um sermão do padre Antonio Vieira, uma das maiores figuras das nossas letras, das letras brasileiras.

E para um cinéfilo como eu, conhecido cinéfilo, o cinema do México forma um capitulo à parte. Desde a beleza da (atriz) Maria Félix, que a maioria aqui não sabe quem é, mas alguns sabem muito bem, o humor de Cantinflas, as obras contemporâneas também, de Alejandro Inarritu, Guillermo del Toro e Alfonso Cuaron. Nós temos aí uma obra permanente para desfrutar todos aqueles que gostam de cinema. Eu me recordo que a minha avó era argentina e nunca falou português – e ela teve uma importância enorme na minha educação. Durante a semana a gente ia ao cinema na Mooca ver os filmes da Pelmex (Películas Mexicanas), todos aqueles filmes do final dos anos 40, dos anos 50, aqueles atores e atrizes dos quais eu poderia falar bastante.

Mas o nosso débito existe, também com relação ao México, pelo acolhimento generoso que deu a tantos brasileiros nos anos da diáspora, das perseguições e do exílio. O México tem a segunda maior população da América Latina e a sua economia é a segunda também da América Latina. São Paulo possui uma posição ímpar na cultura e na economia brasileira, e mesmo na economia continental, e nós temos afinidades. Na área de relações econômico-comerciais nossos vínculos vêm ganhando expressividade. A corrente de comércio Brasil-México cresceu 126% de 2003 para 2008. É um fluxo comercial que tem uma alta densidade de manufaturas em ambas as direções, inclusive o setor automotivo, cujo entendimento, cujo acordo comercial foi feito ainda na época do presidente Fernando Henrique (Cardoso). No campo dos investimentos, cabe assinalar também a presença no mercado nacional de algumas das principais empresas mexicanas na área, por exemplo, de telefonia e de alimentos. Os investimentos brasileiros no México também têm abrangência e diversificação: construção civil, alimentos, serviços de tecnologia e de informação, softwares, serviços financeiros, produtos químicos e indústria automotriz. Temos, portanto, São Paulo e México, um enorme potencial para desenvolver múltiplas parcerias nos planos empresarial, cultural e científico. Parcerias particularmente relevantes no atual contexto internacional.

Eu queria dizer, presidente, que São Paulo é um Estado muito importante no Brasil na área da pesquisa, da ‘investigación’ científica. Temos institutos e instituições de ponta no Brasil, seja na área agrícola, seja na área da construção civil, seja na área de produtos novos, como é o caso do etanol e das indústrias que representam encadeamentos dessa produção. Temos também um Fundo de Amparo à Pesquisa (FAPESP) aqui no Estado de São Paulo cujo presidente é o ex-ministro embaixador Celso Lafer, com uma experiência vastíssima nessa área – e nos interessaria muito uma aproximação entre essas instituições do Estado, que tem três das principais universidades do Brasil, com o México. Eu creio que seria de grande proveito próprio para cada um dos lados.

O Brasil e o México representam, cada um isoladamente, quase um terço da economia da América Latina. Juntos são dois terços. Sem Brasil e México não haverá integração na América Latina. Juntos, nós poderíamos dar uma contribuição concreta e real à prosperidade e ao entendimento político em nossa região. Eu, pessoalmente, endosso a tese que há pouco foi levantada pelo embaixador Sergio Amaral para o presidente do México. Nós temos uma espécie de G2 – Brasil e México promovendo entendimentos, trocando ideias, procurando posições comuns em relação aos principais problemas internos da América Latina e da América Latina com relação ao resto do mundo. Eu creio que essa é até uma condição para que nós possamos consolidar posições melhores do ponto de vista político e econômico para toda a região.

Por tudo isso, eu acompanharia as palavras do presidente Felipe Calderón para ressaltar que, assim como ele quer “mais México no mundo e mais mundo no México”, palavras do presidente, nós queremos “mais México em São Paulo e também mais São Paulo no México”.

Muito obrigado!