Serra participa do 1º Encontro de Confraternização das Voluntárias da Saúde

São Paulo, 23 de setembro de 2009

qua, 23/09/2009 - 15h49 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Queria dar meu boa tarde a todas…. Não posso nem dizer a todos porque são muito poucos homens, não é? A maioria são mulheres. Qual é a proporção? Tem algum homem voluntário aqui? Ah, tem…

É com muita alegria que eu venho aqui à reunião de hoje. Queria cumprimentar o nosso secretário de Estado adjunto da Saúde – porque o (titular Luiz Roberto) Barradas teve que ir a Brasília – Nilson Ferraz Páscoa; a Monica (Serra), que é presidente do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo; a Dorina Nowill, que é da própria Fundação Dorina Nowill (para Cegos), que nós homenageamos. A Zuleika Olivieri é uma voluntária em nome de quem eu quero cumprimentar todas as presentes; e também queria saudar os artistas do evento: bailarinas da Associação de Ballet e Arte para Cegos Fernanda Bianchini; o Ângelo Brandini, dos Doutores da Alegria; e o (cantor) Sérgio Reis.

Eu tive uma experiência direta com a questão do voluntariado quando fui ministro da Saúde. Eu conhecia muito pouco dessa área, desse setor. Mas como ministro da Saúde… – vocês sabem que eu não sou médico – …eu passei a ter uma convivência maior com todo o setor, visitando hospitais, unidades de saúde em todo o Brasil e em todo o Estado de São Paulo, incluindo o nosso interior. E aí pude ver a importância que tem o trabalho do voluntariado. Uma importância enorme. É uma importância objetiva, pelos serviços que presta de apoio aos pacientes, por exemplo, nos hospitais. É um serviço objetivo, de apoio material, de ajuda no atendimento e, também, um apoio de natureza subjetiva. Ou seja, de carinho, de conforto, de companhia.

E o fato de ser voluntário tem um significado muito especial, porque significa que a única motivação efetiva desse trabalho é a vontade, que está ligada ao voluntário, de ajudar – a vontade de servir ao próximo. Se a gente for olhar, praticamente todas as religiões, os grandes profetas, todos disseram sempre que a verdadeira felicidade só se encontra quando a gente ajuda os outros a serem felizes. Eu acho que esta é a base que mobiliza tantas pessoas, tantos homens e muito mais mulheres, no Brasil e, principalmente, no Estado de São Paulo, que é o Estado que tem mais voluntariado.

A Secretaria (de Estado) da Saúde fez uma pesquisa com 1.243 voluntárias dos hospitais da rede pública estadual. Não estamos nem incluindo o que não é da rede pública, onde também tem voluntariado. Os hospitais particulares também têm voluntariado. Pegamos uma amostragem nos hospitais públicos e o que se constatou é que a maioria absoluta é o que a gente vê aqui: são mulheres com nível universitário e com renda familiar acima de 11 salários mínimos. Os homens são 11% do total. Quer dizer, de cada 10 voluntários, um é homem, o que lhes dá um valor muito especial. São homens muito diferentes da maioria.

É interessante também ver que um quarto dos voluntários tem 66 anos ou mais. É impressionante: um quarto. Pessoas que estão, eu diria, no melhor da idade, no sentido que têm consciência das coisas, que têm disponibilidade, que têm vontade e conhecimento da vida. Vinte e quatro por cento, quer dizer, o outro quarto, tem de 56 a 65 anos. Ou seja, metade tem acima de 56. E 23% de 46 a 55. Ou seja, aproximadamente três quartos têm mais de 46 anos de idade.

Cinquenta por cento, aproximadamente, dos voluntários frequenta ou frequentaram a universidade, e 22% possuem nível superior completo. É uma radiografia interessante. Quase 80% trabalham há pelo menos um ano na rede pública – ou seja, há pelo menos um ano já prestam esse seu serviço de solidariedade. E 32% trabalham há mais de 5 anos. Imagina a experiência que quase um terço dos voluntários já adquiriu!

E atuam em muitas frentes – aquilo que eu dizia dos elementos objetivos – na captação de recursos; nas doações aos pacientes de cestas básicas, cadeiras de roda, próteses, muletas, enxoval para bebê, fraldas, medicamentos; fazem doações ao hospital para reformas, pinturas, brinquedos, brinquedoteca; (dedicam) cuidados ao paciente, auxiliam na alimentação, no banho; (dão) apoio logístico, como telefonemas para pacientes e familiares, acompanhamento de pacientes no hospital e em exames, comunicação e apoio emocional, que tem uma importância enorme; (proporcionam) cuidados específicos, como musicoterapia, yoga, hidroginástica, exercícios, massagens pré-parto; (cuidam de) estética e beleza, cortes de cabelo, barba, penteados, manicure; informação, que é uma coisa importantíssima, sobre a rotina do hospital, rotina para acompanhantes, quanto à amamentação e higiene; desenvolvimento de habilidades, como artesanato, bordado, tricô, computação; recreação, no leito, nas brinquedotecas, nos jogos e nos eventos comemorativos. É muita coisa. Nada disso poderia ser feito com um funcionário público. Muito difícil, dentro do esquema de burocracia. Isso tem que ser um trabalho realmente voluntário, informal, flexível, porque envolve relações praticamente pessoais, relações que se criam com muita facilidade.

Quero também aqui registrar o trabalho da Associação de Ballet e Arte para Cegos Fernanda Bianchini, que faz um trabalho há 14 anos com método pioneiro. E no final de 2003, eu creio, o grupo passou a funcionar como uma associação – antes funcionava no Instituto de Cegos Padre Chico. Oferece gratuitamente a todas as pessoas com deficiência visual de todas as idades aulas de dança em geral. E também faz qualificação de profissionais para áreas de dança que têm interesse de trabalhar com pessoas com deficiência. E (o grupo) Doutores da Alegria, que são conhecidíssimos, que nasceu, digamos, de um brasileiro, Wellington Nogueira, que passou a integrar uma trupe americana, que pediu para visitar as crianças em um hospital de Nova Iorque – e voltando ao Brasil, em (19)91, começou um projeto semelhante no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, hoje Hospital da Criança, em São Paulo. E hoje faz 75 mil visitas por ano a crianças internadas em hospitais em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte. Aqui em São Paulo são pelo menos 8 ou 9 hospitais que eles visitam.

E finalmente a nossa homenageada, a quem eu entreguei aqui a nossa homenagem, a Dorina, que é casada, tem 5 filhos e 12 netos. Até uma das netas dela eu conheço, que é uma atriz de teatro, a Marta Nowill. E ela, devido a uma patologia ocular, ficou com problema de visão aos 17 anos. Entrou em uma escola comum, enfrentou a falta de livros em braille, formou-se professora primária e, ainda estudante, conseguiu que a (Escola Estadual) Caetano de Campos fizesse o primeiro curso de especialização de professores para o ensino de deficientes visuais, em (19)45. Criou a Fundação para o Livro do Cego do Brasil, atual Fundação Dorina Nowill. Se diplomou – enfim, tem um currículo incrível. E foi a responsável pela criação, na Secretaria da Educação de São Paulo, do Departamento de Educação Especial para Cegos. Ela é uma campeã entre as voluntárias, a Dorina. Daí a homenagem que nós prestamos.

Eu só queria dizer que a minha expectativa é que o trabalho do voluntariado não só se mantenha com a qualidade que tem, mas também que ele se expanda. Que nós possamos trazer cada vez mais gente para essa tarefa, que é a tarefa da solidariedade, é a tarefa concreta do amor ao próximo. Creio que São Paulo dizia que não basta ter bons sentimentos, não é suficiente ter bons sentimentos – é preciso expressar esses bons sentimentos na forma de viver, na relação com o mundo, no papel que desempenha dentro da sociedade. E vocês, voluntárias e voluntários, são o que nós temos de melhor no Brasil nessa matéria de amor, de solidariedade, de dedicação ao próximo.
Muito Obrigado!

Aliás, só para lembrar: no Ministério da Saúde eu fiquei tão entusiasmado com o assunto do voluntariado que nós até fizemos um livro – que não deve ter mais muita cópia – sobre experiências de voluntariado no Brasil. Fizemos um livro com depoimentos, pegando muitos casos, exatamente para poder difundir a experiência e para que ela passasse a ser objeto de reflexão, de valorização e de difusão no nosso País. É uma pena, realmente, me lembrei agora que eu tenho só uns 3 ou 4 exemplares meus. Na época se imprimiu muito, mas graças a Deus foi distribuído para todo o lado. Mas isso para mostrar a importância que nós atribuímos a este trabalho.