Serra participa de aula inaugural do TecSaúde

São Paulo, 23 de novembro de 2009

seg, 23/11/2009 - 23h00 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Hoje nós estamos em uma solenidade, é uma espécie de aula inaugural, do curso técnico de nível médio em relação à enfermagem. Na verdade, há uma cultura no Brasil de que saúde significa ter mais médicos e médicos mais preparados. É verdade, saúde precisa ter mais médicos e médicos melhor preparados. Mas saúde vai muito além dos médicos propriamente ditos. Na verdade, quem toca o setor, quem carrega o setor nas costas, faz a estrutura funcionar, são enfermeiras, são técnicos de enfermagem, são auxiliares – enfim, é todo o corpo de profissionais de saúde, não é apenas o médico. Um bom e um mal hospital muitas vezes se diferenciam não pelos médicos que têm, mas exatamente pelo corpo de enfermagem agregado. Isso define muito mais a qualidade de um hospital.

Nós tínhamos, antigamente, a figura do atendente de enfermagem, ou melhor, do atendente hospitalar. Pessoas em geral com muito talento, muita intuição, mas que exerciam uma profissão delicada, sem terem uma formação adequada. No entanto, os seus erros eram atribuídos a eles, quando na verdade é um erro do sistema. Quando uma pessoa qualificada erra, a culpa é dela. Quando uma pessoa que não recebe qualificação na saúde erra, a culpa é do sistema que não qualificou, não preparou. Isto é um princípio e uma consideração que me parecem fundamentais quando nós olhamos o lado dos recursos humanos da saúde. E saúde… olha, a gente pode ter bons hospitais, remédios, tecnologia, mas saúde é essencialmente, ou principalmente, atendimento, pessoal, é a relação entre pessoas.

Os recursos humanos são mais decisivos do que em qualquer outro setor da economia e da sociedade brasileira. Porque quem trabalha na saúde lida com a vida. E lida com a vida e lida também com a sensibilidade das pessoas, porque todo mundo que está no atendimento médico, qualquer que seja o nível, sempre é mais vulnerável, sempre é mais sensível. O acolhimento joga aí um papel realmente fundamental. E não há bom acolhimento sem profissionais de enfermagem preparados para isso, e que tenham também o espírito de solidariedade e de fraternidade que devem ter os profissionais de saúde. Uma pessoa para ser economista não precisa ter isso, mas para ser profissional de saúde precisa desse interesse extra pelos outros.

Na época do Ministério da Saúde, levando em conta a situação do conjunto do País, de falta de profissionais qualificados, nós organizamos um programa junto com o Banco Interamericano, que foi o PROFAE (Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem) de treinamento de auxiliares de enfermagem. Começou com uma meta, eu creio, de uns 180 mil alunos, mas essa meta foi amplamente ultrapassada. Fizemos esse treinamento massivo, um ano de curso, eu me lembro que na época custou cerca de mil dólares por aluno. Fizemos com muitas parcerias, pelo Brasil inteiro, das universidades públicas, privadas, dos próprios hospitais que liberaram, sem cortar o salário, muitos dos profissionais que tinham lá sem um estudo formal, sem qualificação prévia. Demos também formação de nível secundário para muitos profissionais de auxiliares de enfermagem que tiveram previamente esses cursos. Isso deu muito certo no Brasil inteiro.

Agora resolvemos fazer em São Paulo um treinamento, também massivo, no caso de técnicos de enfermagem. Nós temos aqui em São Paulo, segundo os números do Conselho Regional de Enfermagem, 56 mil enfermeiras e enfermeiros – eu digo enfermeiras porque a maioria são mulheres – quase 74 mil técnicos, mais 190 mil auxiliares de enfermagem. É muita gente, 320 mil profissionais de enfermagem. É bastante no Estado de São Paulo. Isto se aproxima de 1/3 do que nós temos no Brasil, ou talvez mais do que isso. Agora, o TecSaúde, que é o programa que já está em andamento,ele vai receber alunos, inicialmente, de auxiliares de enfermagem ou estudantes de ensino médio e de educação de jovens e adultos para ter formação técnica em áreas da saúde. E a partir do primeiro trimestre do ano que vem vai oferecer também cursos de especialização, não é apenas de formação geral, nas especialidades de urgência e emergência, terapia renal substitutiva, oncologia e neonatal.

Aqui eu quero agradecer muito ao Cláudio Porto, que arregaçou as mangas para materializar este início. O Cláudio, que é o presidente do COREN (Conselho Regional de Enfermagem), e que vestiu a camisa do programa e foi decisivo, eu acredito, para a sua viabilização. Com esta aula nós estamos, na verdade, começando a primeira etapa. Aqui vão entrar alunos que são auxiliares de enfermagem com o ensino médio completo, trabalhadores da rede pública e privada de saúde e todos vão ter um módulo de habilitação do curso técnico de nível médio de enfermagem. É uma complementação da qualificação que já dispõem. E vão ter a certificação reconhecida pelo Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo. Essa certificação para a vida profissional vale bastante.

Há alguns meses nós já temos cursos ministrados diretamente pelas seis Escolas Técnicas do SUS (Sistema Único de Saúde) de São Paulo, e agora entidades públicas e privadas também credenciadas pelo Estado, contratadas pelo Estado, vão começar uma nova fase. Nós fizemos um edital de credenciamento com o crivo de um rigoroso processo de avaliação técnico-pedagógica, e foram 78 escolas aprovadas com 80 mil vagas disponíveis. Até janeiro serão 30 mil vagas oferecidas, metade na Grande São Paulo e metade no interior. Portanto, de imediato nós vamos atender bem mais da metade dos 40 mil que já se inscreveram no programa.

O nosso propósito é chegar no final de três anos a cerca de mais de 100 mil alunos que se formarão como técnicos de enfermagem. É um programa que tem um horizonte de três anos, mas que já começa com cerca de 30 mil vagas, provavelmente todas preenchidas no ano que vem. Nós vamos dar, portanto, mais qualidade para o atendimento à saúde em São Paulo. Vamos dar também mais segurança para os servidores da área da saúde. É uma segurança muito importante, a segurança do estudo, a segurança da formação e a segurança que passa também para as pessoas atendidas. Isto vai reforçar muito a humanização do sistema de saúde.

Como vocês vêm, nós, além de muitas ações de aumento e inovações na área da saúde, de aumento de unidades de saúde, de criação de novas unidades, como é o caso dos Ambulatórios Médicos de Especialidade (AMEs), que estão se espalhando pelo interior e pela Grande São Paulo, com vistas ao atendimento de consultas e exames médicos, aliviando ao mesmo tempo o trabalho que os hospitais fazem e não deveriam fazer nessa área… O hospital, o Instituto do Câncer Octávio Frias de Oliveira, que nós criamos, que é o maior do Brasil, da América Latina, vai ser um dos maiores do mundo, altissimamente preparado, moderno, com tudo que tem de mais avançado… Junto com isso nós estamos pensando no outro ingrediente fundamental, que é recurso humano treinado e qualificado para atender de maneira eficiente e acolhedora a população que é atendida no sistema de saúde público e também privado, porque o setor privado acaba se beneficiando também e eu não vejo problema nenhum com isso, porque a gente acaba elevando o nível geral de atendimento à saúde, até porque nós sabemos que boa parte dos profissionais de saúde acabam também fazendo algo na área privada, ou tem um bico ou dividem o tempo. O fato é que há uma osmose aí. Se a gente melhora o nível geral na área pública e privada, todo mundo sai ganhando.

Eu creio que o curso vai proporcionar um aprendizado de boa qualidade, até porque já tem também os materiais prontos. Essa é uma coisa que eu insisti muito, na época do PROFAE, eu não deixei o programa começar sem que todos os materiais do curso estivessem prontos, porque é a garantia de que o professor e a professora tenham rumo e que o aluno tenha material para estudar. Isto é muito importante. Eu particularmente quando estudei, estudei engenharia, depois economia, eu não aprendia em aula, eu sempre tive dificuldade de aprender em aula. Eu aprendia lendo. Às vezes eu assistia à aula e tomava nota sem entender muito, depois é que eu lia. A minha via de aprendizado é pela leitura. Tem gente que a via de aprendizado é ouvindo ou vendo. Mas o fato é que o material escrito, o que antigamente a gente chamava de apostila, que saiu de moda, é fundamental. E este é um material de muito boa qualidade, permite que o aprendizado role, se desenvolva, se complete de maneira organizada, e que esse conhecimento fique cravado em livros que depois também podem ser usados ao longo da vida profissional, podem ser consultados.

Meus parabéns a todos os que estão tocando esse trabalho e àqueles que vão aproveitar dessa iniciativa para contribuírem para melhorar a saúde no nosso Estado e no Brasil.

Muito obrigado!